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A casa com 100 janelas

Festival Internacional de Curtas de BH 2007 – 20 a 27 de Julho

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Finalmentes

Uma janela para: 2007, 2008

por Rodrigo Campanella

A sala Humberto Mauro, no Palácio das Artes, já é pequena faz anos para o público que comparece aos curtas, ainda mais depois da reforma recente que extinguiu cerca de vinte poltronas. Existe a antiga promessa de estender o evento para outros espaços da cidade, novamente repetida esse ano. Mas o próprio festival de 2007 conseguiu apenas nas últimas semanas a garantia do patrocínio da Petrobrás para equilibrar as contas. De acordo com a assessoria, uma dificuldade extra foi competir patrocinadores com o Pan-Americano no Rio, que concentrou boa parte da verba oferecida para eventos de esporte e cultura.

Num festival bem organizado, que teve a boa vontade de exibir sessões extras para atender a demanda de público, somente a cerimônia de premiação deixou vergonha em quem assistia. Filmes mineiros comemorando no microfone a seleção para festivais internacionais, prêmios anunciados no momento errado, pessoas chamadas por engano. Parecia uma reunião entre amigos para trinta pessoas que se conhecem pelo primeiro nome, mas era a premiação de um festival que tem internacional no título, com gente como o cineasta Andrea Tonacci tomando a frente de um dos júris.

As falas dos organizadores nesse 2007 e as seleções para as competitivas indicam que o Festival de Curtas segue com a proposta de formar novos públicos, colocando na tela todo tipo de imagem. A manutenção dos debates com os diretores nacionais no dia seguinte à exibição dos filmes foi prometida – e o ideal seria uma mudança de horário, já que no meio da tarde o apelo de público não é nem próximo da lotação nas noites.

A lotação da fila de espera na bilheteria, que foi crescendo ao longo dos dias mesmo quase sem divulgação externa, é um bom termômetro de que o festival tem lugar no calendário de BH, mesmo com as grandes restrições de espaço e dimensão. E não é com o dinheiro minguando a cada ano e chegando na última hora que a situação vai mudar.

Uma história de violência

Uma janela para: assistir um curta, em 2007

por Rodrigo Campanella


Já havia um texto pronto para finalizar esse blog, comentando algo sobre o uso de som nas imagens dos curtas desse festival. Era o que parecia o melhor resumo das marcas deixadas pela competição nacional de curtas. Mas foi só assistindo na sexta-feira à primeira sessão com os filmes premiados que uma coisa ficou clara: o que marcou o Festival Internacional de Curtas de BH nas telas em 2007 foi a morte.

A exibição dos premiados foi dividida em duas sessões consecutivas, cada uma exibindo metade dos ganhadores. A primeira delas, que resumiu o mais impressionante desse festival, tinha todos os ganhadores estrangeiros: o espanhol “O Cerco†(prêmio do júri), o americano “Aves de Alumínio†(prêmio especial do júri), o belga “Kwiz†(prêmio do público), o inglês “Delicado†(prêmio da crítica) e o franco-suíço “Twist†(menção da crítica). A formação se completava com “Sebastião, o Homem que Bebia Queroseneâ€, melhor filme pelo júri nacional.

O estranho é perceber como morte & violência atravessam filmes tão diferentes. Em “Kwiz†ganha a forma de piada, na violência de brinquedo entre duas senhoras em um hospital, uma delas em recuperação. Depois assume a forma da impotência urbana diante da violência em “Delicado†- que faz questão de lembrar nos créditos que os vizinhos só saem na rua depois que o perigo passou.

E então na trinca de “O Cercoâ€, “Aves de Alumínio†e “Sebastião...†a morte passa correndo na frente da violência e as duas se chocam, uma espelhada na outra. Se “Sebastião...†é o retrato poético de uma vida suicida (ou de um suicídio que não deu certo, o do diretor), os moleques de “Aves de Alumínio†ou os pescadores de “O Cerco†também são meditações sobre morrer, ou matar: fisicamente, simbolicamente, por diversão, por vazio.

No texto do júri que explicava o prêmio a “O Cercoâ€, o cineasta Andrea Tonacci falava da força de um filme que não deixa esquecer que “o homem mata para viver, e foi assim sempreâ€. Se, naquele caso, os peixes mortos pelo cercado de barcos pesqueiros garantiam sustento, as mortes de “Sebastiãoâ€, “Aves de Alumínio†e “Delicado†são simbólicas, provavelmente bem-alinhadas com o tempo que nós vivemos e à procura de um sentido.

Por trás da ganguezinha de “Delicadoâ€, do psicopata potencial que narra a própria família em “Aves†e da meditação sobre encontrar a morte no filme nacional, há um profundo e resistente tédio. Não simplesmente o saco cheio com o comum, mas a falta de sentido na hora de olhar para frente, conceber um futuro. Um tédio tão fundo que vai encontrar um escape destruindo, na diversão de botar dois bichos para brigarem só para ver como eles se matam, como conta o narrador de “Avesâ€. E que mesmo na provocação de colocar na tela um bando de homens dançando (“Twistâ€), vai expor em paralelo uma guerra e a morte de um ritmo de dança.

Essa seleção final talvez sirva para explicar uma sensação de peso no ar sentida ao longo dos dias, após cada exibição das competitivas. Raros trabalhos como o nacional “O Processo†(prêmio do público) ou o próprio “Kwiz†conseguiram arrancar risos da platéia que depois viraram comentários entre o público. A violência de morte dos filmes, mais calada que explícita, só começa a se desenhar claramente na cabeça agora.

Premiados

Uma janela para: quem ganhou

por Rodrigo Campanella

Nacional

Prêmio do Júri Oficial: Sebastião, o Homem que Bebia Querosene (de Carlos Magno, Minas Gerais, 2007)

Menção oficial do Júri Oficial: Projeto Vermelho (de Luiz Roque Filho, Rio Grande do Sul, 2006)

Prêmio Especial do Júri Oficial: Saba (de Gregório Graziosi e Thereza Menezes, São Paulo, 2006)

Prêmio do Público: O Processo (de Conrado Almada, Minas Gerais, 2006)

Prêmio do Júri da Crítica: Material Bruto (de Ricardo Alves Júnior, Minas Gerais, 2006)

Menção do Júri da Crítica: A Chuva nos Telhados Antigos (de Rafael Conde, Minas Gerais, 2006)

Internacional

Prêmio do Júri Oficial: O Cerco (El Cerco, de Nacho Martin e Ricardo Iscar, Espanha, 2006)

Prêmio Especial do Júri Oficial: Aves de Alumínio (The Aluminum Fowl, de Charles-Marie Anthonioz, Estados Unidos, 2006)

Prêmio do público: Kwiz (Renaud Callebaut, Bélgica, 2006)

Prêmio do Júri da Crítica: Delicado (Soft, de Simon Ellis, 2007)

Menção Honrosa da Crítica: Twist (Alexia Walther, França/Suíça, 2006)

Associação Curta Minas - Melhor Curta Brasileiro: Beijo de Sal (de Felipe Gamarano Barbosa, Rio de Janeiro, 2006)

Associação Curta Minas - Melhor Curta Mineiro: O Homem da Cabeça de Papelão (de Carlos Canela, Minas Gerais, 2006)

Competitiva Nacional 6: Igreja Revolucionária dos Corações Amargurados
(de Carlos Magno, Minas Gerais, 2006)

Uma janela para: a pedrada

por Rodrigo Campanella


Ao invés de passar a sacolinha para fazer o caixa, a IGRREV passa distribuindo dois reais aos fiéis presentes ao culto.

Ao invés de seguir retamente seus outros trabalhos, o diretor Carlos Magno mistura seu acervo pessoal de imagens com a construção de um pequeno fato-espetáculo – uma falsa igreja, criada especialmente para o curta, mas com fiéis de verdade.

Ao invés de criar uma crítica velada à Igreja, ao Poder ou a outras mesquinharias com letra maiúscula, “Igreja Revolucionária dos Corações Amargurados†parte com um punhado de pedras na mão, e atira todas.

Junte a tudo isso um desenho de imagens e de luz feito com todo gosto, para chupar de uma imagem suja tudo que ela pode ter de amarelo e bonito. Algumas vezes, esse mesmo Carlos Magno vira as costas para o público que não segue seus trabalhos, de tão pessoal que é nas imagens e auto-referências. Quando ele resolve conversar mais abertamente, aqui ou co-dirigindo“Kalashnicov†, as idéias clareiam, e ficam mais fortes. Não que ele deseje isso – ao contrário. Mas às vezes é preciso acertar a pedra no meio da vidraça, bem à vista, antes de derrubar a casa.

(Para ler o que Mariana Souto escreveu sobre o curta, clique aqui)

Competitiva Internacional 4: Delicado
(de Simon Ellis, Grã-Bretanha, 2007)

Uma janela para: rachaduras urbanas

por Mariana Souto

Nem a ironia do título é delicada. Esse curta da Grã-Bretanha amedronta e sacode quem está na platéia, tratando da pequena violência nossa de cada dia.

Pai e filho moram juntos. O pai sai para comprar leite e é ameaçado por uma gangue. Em casa, descobre que o filho foi abordado mais cedo por aquele mesmo grupo. A turma os observa da calçada, provoca. O mais perturbador é a violência psicológica, da ameaça. A agressão física e real acontece apenas em raros momentos.

A tensão criada por Simon Ellis se compara à dos filmes de Michael Haneke, sobretudo a de Cachê. O forte domínio de condução pelo diretor mantém o público esperando que algo aconteça, assim como o filho que espera uma reação do pai. E se ele não age, o garoto toma a dianteira da situação. Mesmo assim, sua revolta diante da passividade do pai não deixa o público respirar aliviado com a solução do problema. Os créditos sobem e o espectador observa a vida que continua, imaginando novos episódios de violência em algum outro lugar daquela paisagem urbana.

Competitiva Brasileira 4: A Chuva nos Telhados Antigos
(de Rafael Conde, Minas Gerais, 2007)

Princípio(s)

Três minutos com: Ricardo Pretti, diretor

Competitiva Brasileira 3: Alguma Coisa Assim
(de Esmir Filho, São Paulo, 2006)

Competitivas 3

Competitiva Brasileira 2: O Processo
(de Conrado Almada, Minas Gerais, 2006)

Competitiva Brasileira 1: Às vezes é mais importante lavar a pia do que louça
(dos Irmãos Pretti, Ceará, 2006)

Potter não esteve aqui

Atualizando o dia

Competitiva Internacional: Avant Petalos Grillados
(de Velasco Broca, Espanha, 2007)

Primeiro.

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