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Dez minutos para o resto do mundo

Cobertura – Competitiva Internacional

por Rodrigo Campanella

Fotos: Divulgação

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Internacional 1

Um Minuto, Yoko (Bea de Visser, Holanda) brinda os espectadores com um cabeludo par de nádegas na tela, cantando por um minuto. Sem legenda para a canção, a sala fica simplesmente com clima de ‘devia ser engraçado’

Feminino/Masculino (Daniel Lang, Alemanha) acaba se perdendo no esmero de produção e fotografia e cheira, em excesso, a propaganda politicamente correta do GNT, apesar da bela intenção de jogar com o tabu idosos/sexo. Joga em paralelo com O Preço do Dote (Chus Dominguez, Espanha) filme que parece ter gasto tanto tempo escolhendo as melhores fotografias para uma tela gigante que se esqueceu da parte movimento das imagens.

A Lenda dos Espantalhos (Marco Besas, Espanha)levantou as mãos da platéia em aplausos, mais pelo apuro técnico da animação do que pela história, melosa demais para o paladar

Por fim, se Julian Rosefeldt tivesse feito de Asilo (Alemanha) o filme que descreveu na sinopse, seria bastante interessante. Mas algo no meio do caminho deu errado e o que era idéia, permaneceu idéia. O filme tem toda pinta de refugo de um pensamento incompleto. Mas com excelente produção de arte. Pena.

Internacional 2

Trabalhadoras Saindo da Fábrica (José Luis Torres Leiva, Chile) guarda um pouco do mesmo soco invertido do longa O Retorno, do russo Andrei Zvyagintsev, que faz o filme todo passar novamente diante de seus olhos na última cena. Efeito interessante.

Natan (Jonas Bergergard e Jonas Holmstrom, Suécia)é mais divertido e humano do que aparenta nas primeiras cenas. Maestro (Gèza M Tóth, Hungria) é o roteiro que qualquer animador bem-humorado pediu a Deus em seus dias de lapso criativo e falta de tempo. E Jamila (Ingeborg Jansen, Holanda), sobre garota jogadora de futebol que é muçulmana, tenta ser correto, apesar de parecer encenado demais. Alguma coisa soa estranho nas imagens.

Internacional 3

Serviço de Quarto (Emil Graffman, Polônia) se estende mais do que o necessário, mas prende o espectador com as pequenas e sucessivas encruzilhadas de um garçom na noite de Ano Novo. Tão bem que rendeu ao ator

Vent parece não conseguir realizar bem todas as piadas, e mesmo assim é a mais bem-resolvida animação em termos de ‘técnica ajudando a contar uma história’. Filme 2 carrega grande aspecto de ser um filme 5 minutos para ler com um livro de 500 páginas ao lado explicando o ‘conceito’ que os autores trabalharam. E Férias é algo que podia ser muito divertido em suas apostas de bizarro, mas que acaba apenas com a impressão de boas idéias fora de lugar.

Internacional 4

Filme de Corte (Sándor Kardos, Hungria), espanta a sala ao quebrar com a seqüência lógica (e algo mentirosa) das imagens no cinema. Espalha as imagens e sua história como uma estranha massa na tela, com certeza fascinante para alguns.

A Explicação (Curro Novallas, Espanha) é a surpresa do dia, exemplo claro e límpido de como alguns minutos podem contar uma história que muitos longas de três horas não dão conta. Poldek (Claudius Gentinetta) casa seu rabisco sujo animado com uma historinha tão suja quanto e contribui com uma saudável e firme dose de humor negro para a seleção internacional.


Eles querem ser os sonhadores, mas são só os "Meninos Chave"

Meninos Chave (Friederike Jehn, Alemanha) lembra uma cria bastarda do incestuoso Os Sonhadores, de Bertolucci. Porém, vai ainda mais fundo na relação de dependência, neurose e medo que se estabelece entre um casal de amantes-irmãos. A narrativa bem fechada e as interpretações acertadas acertaram em cheio o júri oficial e o júri da crítica, conquistando de ambos os prêmios de melhor curta internacional. Henriette Muller, a irmã, levou ainda o de melhor atriz internacional.

Internacional 5

Jogos Sem Fim (Krisztina Kerekes, Ãustria), apesar de classificado como documentário, se sentiria melhor talvez na definição de ‘experimental’. Se não for assim, fica a extrema impressão de uma bicicleta que de tanto andar acaba perdendo o rumo.

Habanera (Joana Oliveira, Cuba/Brasil) poderia ser tão melhor se a paixão da diretora pelas cores de Cuba surgisse mais viva para os espectadores. Fica com jeito de mensagem de diário, compreendida completamente só por quem a escreveu. Machulenco avança ainda sobre as grandes ossadas emocionais que as ditaduras latino-amerianas deixaram atrás de si, numa ficção amarga e serena com direito a um maravilhoso pequeno tango. Poucos casais talvez fizessem melhor.

E Dez Minutos (Alberto Ruiz Rojo, Espanha) apenas confirmou os imensos aplausos e silêncios na sessão ao conquistar o prêmio de melhor curta dado pelo público. Bem montado, cativante, brinca na borda do melodrama com a tensão e acaba fazendo pensar numa possível televisão, bem feita a esse ponto. Programa imperdível.

Internacional 6

Vida Monótona (Jonas Geirnaert, Bélgica) rende muito mais do que o título promete. Humor minimalista, acidamente conformado, lembra bem o simpático ridículo das nossas vidas presos de algumas paredes. E, maravilha, parece apostar claramente que nossa vida é a vida que vivemos com os outros – e não necessariamente os outros de um romance ou de família made in Hollywood.

O Grande Vento (Valérie Liénardy) é a tentativa sincera de um filme de mood que quase chega lá, perdendo a força no meio do caminho e tendendo a desabar para um drama raso. A Surpresa (Lancelot Von Naso, Alemanha) é o susto bom do dia. Meio indeciso se espanta ou se faz rir, consegue doses homeopáticas dos dois, mas recolhe uma boa porção de simpatia na platéia. Pena que acaba na hora errada.

Mulheres de Terça-Feira (Oded Binnun e Mihal Brezis) é, parece que meio sem querer, o filme de mood que O Grande Vento gostaria de ser, sem nem precisar abrir mão de alguns vestígios de ‘historinha’. Belo modo de mostrar como mulheres tem o poder de dissolver a cabeça de um homem, sem exageros ou sexismo.

Internacional 7

Conversação (Marisa Lafuente Esteso, Espanha) acaba perdendo boa parte de seu possível interesse numa edição um tanto confusa. Há uma certa aparência de se tentar falar muito em imagens de menos que quebra a relação com o espectador.

Obras (Hendrick Dusollier, França) expõe numa única e brilhante tomada em computação gráfica a destruição que todas as disciplinas acadêmicas de urbanismo preferem colocar para baixo do tapete, junto com a poeira. Há beleza concentrada nessa revolta aqui, premiada com melhor som e melhor direção de arte.

Antes do Amanhecer domina com mão firme a técnica de seu plano-sequência único e corre do humor ao drama num único movimento com a câmera. Leva melhor fotografia do Festival e também melhor diretor internacional. Mas fica devendo algo mais.


"Obras": melhor som e melhor direção de arte

Na Rua (Stano Petrov, Eslováquia) pode até parecer interessante até alguém conhecer a foto original de Henri-Cartier Bresson que dá origem ao filme. Tudo o que a película faz questão de mostrar, a foto já havia dado conta, com sobras. Acaba sendo puro chover no molhado.

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