Busca

»»

Cadastro



»» enviar

Enquanto isso, no Brasil...

Cobertura – Competitiva Nacional

por Daniel Oliveira

Fotos: Divulgação

» receite essa matéria para um amigo

Competitiva nacional dia 1: Altos e baixos, pero no mucho

Dois documentários e duas ficções deram início à corrida brasileira no Festival de curtas. No campo do “registro das realidadesâ€, o gaúcho Caco Souza achou que botar a câmera em frente a uma (e única) pessoa segura um filme. Pode até segurar, se o entrevistado for muito bom. O que, infelizmente, não é o caso de “Senhora Liberdadeâ€, em que o diretor conversa com o chefe do Comando Vermelho, inspiração para o filme “Quase dois irmãosâ€.

Já “Mestre Humbertoâ€, do carioca Rodrigo Savastano, conta a história do personagem-título, um negro filósofo, participante da umbanda e casado com uma taróloga. Material fino, Mestre Humberto é o cara que seguraria um filme inteiro como único entrevistado. Nos contos da carochinha, “O nome dele (O Clóvis)â€, de Felipe Bragança e Marina Meliande, também do RJ, tenta narrar uma história sobre um palhaço no carnaval, mas não se decide entre uma linguagem clássica ou um experimentalismo declarado. E “O lençol branco†é um suspense de ambientação muito bom, sobre a depressão pós-parto, dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra, de SP. Pena que o final seja tão fraquinho. Esse é só o começo

Competitiva nacional dia 2: O domínio do documentário

“SMP&B, SMP&Bâ€. Eram os gritos de um pouco controlado senhor, que se rebelava contra as propagandas dos patrocinadores do evento, todas da empresa do careca mais famoso do Brasil, na abertura do segundo dia da competitiva. Nem no nosso universo de fantasia, a lama política do país nos deixa em paz. Paciência.


O feminino "Visita Ãntima", de Joana Nin

Nos cinco curtas exibidos, nem tanta fantasia assim. Os três documentários exibidos – o emocionante “A velha e o marâ€, do cearense Petrus Cariry; o musical “O Mundo é uma cabeçaâ€, registro do Manguebeat e sua figura central, Chico Science, pelos pernambucanos Cláudio Barroso e Bidu Queiroz; e o feminino “Visita íntimaâ€, da paranaense Joana Nin, sobre mulheres compromissadas com encarcerados, que viria a ganhar o prêmio da Associação Curta Minas - eram bem superiores às duas ficções. “O irreconhecívelâ€, de Felipe Rodrigues, do RJ, segue a mesma linha d’O nome dele (O Clóvis)â€, ao não se decidir entre as referências artísticas e o puramente experimental. E “Asfixia†é um suspense sobre o pânico urbano da falta de segurança, com final bacana, mas desenvolvimento confuso, do também fluminense Roberval Duarte.

Competitiva nacional dia 3: “O que é que foi isso?!?â€

Terceiro dia dos nacionais, e voltamos para a ficção. “Concerto número 3â€, apesar da interessante frase que era toda a sinopse (Mãe, pai, filho e corda) escorrega na construção e no ritmo, perdendo até para “O Lençol Brancoâ€, do mesmo diretor, Marcos Dutra, também em competição. Escorregão maior é o dos diretores de “Trânsito por Doraâ€, capitaneados por Paula Faro, que tentam ficar na barreira entre o 'experimental explicado' e o 'narrativo abstrato'. Acaba não sendo nem um e muito menos o outro – ficou na idéia, não muito executada aparentemente.

A animação “Quando Jorge foi à Guerraâ€, de Tadao Miaqui, parece inserida na competição 3 com a função de alívio cômico do dia. E realmente dá lá suas piadas dentro, apesar de ser facilmente esquecível. “O Rio Severinoâ€, de Dado Amaral. espécie de documentário sobre um outro documentário já feito, peca exatamente por isso: não mostra direito a que veio e ignora que o público talvez e possivelmente não tenha idéia do que se trata o encontro que acontece na tela. Parecia interessante, mas passa batido. E “Cinco Naipesâ€, de Fabiano de Souza, é a prova em película de que se você não sabe o que é um drama e uma comédia deveria ser mantido o mais longe possível de uma câmera e um quarteto de atores.

Competitiva nacional dia 4: Quebrando um pouco o eixo

Nesse quarto dia, a competitiva nacional resolveu, felizmente, sair um pouco do eixo Rio-São Paulo. “Dois tonsâ€, de Caetano Gottardi, vem direto do Mato Grosso do Sul, contando uma espécie de “Meu primeiro amor†brazuca, com Elis Regina no lugar do clássico “My Girlâ€. “Pour Elise†é uma ficção com cara de especial televisivo, sobre uma garota que descobre um pouco mais sobre a vida da tia, que mora em um asilo, com direção de Erly Vieira Jr., do Espírito Santo.

O ciúme e o isolamento levam a loucura em “Entre paredesâ€, espécie de thriller com ótimas fotografia e direção, sobre um homem com um ciúme incontrolável de sua mulher, do pernambucano Eric Laurence. E, para não perder o costume, o carioca Luiz Guimarães de Castro manda “Babaú na casa do Cachaça – Verde e Rosa bluesâ€, registro documental de um momento único quando dois monstros do samba fluminense, fundadores da Mangueira, se encontraram na casa do segundo. Pela exclusividade e pela atemporalidade (e um pouco pela baixa qualidade da competitiva), levou o prêmio de melhor curta nacional.

Competitiva nacional dia 5: Enfim, os mineiros

Nós tamos em Minas, uai! Cadê os mineiros? “Da janela do meu quartoâ€, do artista do vídeo Cao Guimarães; “Plutãoâ€, animação super-curta de Sávio Leite e Clécius Rodrigues; e “Território vermelhoâ€, que é uma produção de São Paulo, mas dirigida pelo mineiro Kiko Goifman, respondem à pergunta acima. Esse último ganhou o prêmio de melhor curta, segundo o público. E merecidamente. Goifman (diretor do ótimo documentário noir “33â€) bota a câmera na mão de figuras que trabalham nos semáforos paulistas e consegue dar voz e cara a pessoas a que ninguém dá atenção e, na maioria das vezes, preferia que não estivessem ali.


A melhor ficção nacional, "Vinil Verde"

De São Paulo, ainda veio o arquitetônico “Copanâ€, sobre um dos principais prédios da terra da garoa, com um elenco “Os sonhadores†wannabe, dirigido por Bernardo (?!) Spinelli. Os gaúchos mandam a ficção corretinha “Mensalinaâ€, de Cristiane Oliveira. E o pernambucano Kleber Mendonça Filho dispara a melhor ficção nacional, “Vinil Verdeâ€. Melhor programa da competitiva brazuca até agora.

Competitiva nacional dia 6: Enfim, colhões

Este sexto dia de curtas da terrinha nos presenteou com o primeiro (e provavelmente único) filme brasileiro com colhões: “Veja & Ouça Maria Baderna do Brasilâ€, do paulista André Francioli. O cara tem a manha de criticar a revista mais abominável do país, a Xuxa, as Leis de incentivo, a Globo...tudo em 19 minutos. Homenagem ao cinema marginal sem ser chato. Palmas.

Outros destaques são a animação “Nave mãeâ€, dos parceiros de Allan Sieber Otto Guerra e Fabio Zimbres, que fala sobre picaretagem espacial, a la Guia do mochileiro das galáxias; “Capital circulanteâ€, do carioca Ricardo Mehedff, que provavelmente gastou todo o dinheiro da Lei de incentivo, com um filme sobre o ciclo da bandidagem, através de um roubo de carro; a metalinguagem e a relação entre memória e tempo no belo “Biografia do tempoâ€, dos mineiros Marcos Pimentel e Joana Oliveira; o libelo otimista “Felicidadeâ€, do paranaense Emerson Schmidlin; e os subjetivos “Entre umâ€, do brasiliense Marcius Barbieri, e “Primeiros passosâ€, de Evaldo Mocarzel (Mensageiras da luz – Parteiras da Amazônia).

Competitiva nacional dia 7: Enfim, o fim

Pensamentos que passam pela minha cabeça durante a última sessão da competitiva: “O mundo seria mais perfeito se as sessões não atrasassemâ€...â€Ã‰ a última vez que eu vejo essas vinhetas, graças a Deusâ€. Toda essa enrolação para encher lingüiça de um dia em que “Wragdaâ€, sobre ?, do mineiro Frederico Cardoso, e “Redâ€, versão vergonha-alheia de Chapeuzinho vermelho, que ninguém precisava ver, do paulista Flávio Frederico (será mal do nome?), foram exibidos. Bomba para esses dois curtas é um elogio muuuuuuuito grande.

Em compensação, “A delicadeza do amorâ€, do mineiro Éder Santos, com a bela atriz Maria Luiza Mendonça, e “Desventuras de um dia ou a vida não é um comercial de margarinaâ€, da paulista Adriana Meirelles, salvam o dia. O primeiro com a calma e a contemplação do tempo; e o segundo, com a correria e o stress nosso de cada dia. De resto, o documentário preguiçoso de Walter Lima Jr. sobre “Thomaz Farkas, brasileiroâ€. Quem sou eu, a cobertura desse último dia também foi bem preguiçosa... Ah! Enfim, o fim!

« voltar para o início

» leia/escreva comentários (0)