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Como não ser legal

15.11.04

por Rodrigo Ortega

Engenheiros do Hawaii – Acústico MTV

(Universal, 2004)

Top 3: “Vida Real”, “Depois de nós” e “Pose”.

Princípio Ativo:
Pretensão

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Ser uma pessoa legal e escutar Engenheiros do Hawaii são duas coisas absolutamente incompatíveis. Essa é uma das regras mais claras da cultura pop nacional. Tanto que alguns engraçadinhos decidiram se aproveitar disso e fazer uma pose sou-muito-inteligente-e-diferente-e-gosto-de-Engenheiros. A finada revista Zero já ostentou uma capa modernosa com Humberto Gessinger. Mas parece que a onda não durou muito.

Então nada mais natural que eu, uma pessoa legal, despreze esse Acústico MTV, simplesmente para continuar a ser uma pessoa legal. Pensando bem, se eu disser que gosto (e não é pouco não, é muito), posso me sair bem no papel de estou-me-lixando-pro-que-os-outros-acham e ganhar muitos cool points.

Vamos então ao disco. Humberto Gessinger, aka Engenheiros, alheio ao patrulhamento, toca “Refrão de bolero” e “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones” sem constrangimento nem empolgação.

Há momentos de frescor em “Vida Real”, o primeiro single, com os versos: “Na hora do refrão em que eles dizem baby / Eu não soube o que dizer”. Bela canção e, ironias à parte, acho que as pessoas deviam mesmo usar mais a palavra “baby” nas músicas. É muito bonito.

Mas tocar com um baixista com cara de mau estilo Charlie Brown Jr. (Bernardo Fonseca) chatices como “Outras Freqüências” (uma das duas músicas inéditas desse álbum), “Dom Quixote”, “3ª do Plural” e “Surfando karmas e DNA” é pedir pra apanhar. O que dizer de uma pessoa que usa filosofia de livros de auto-ajuda e trocadilhos infames para fazer músicas que canta tentando ser aquele vocalista mala do Rush?

Por outro lado, “Depois de nós”, com participação do primeiro baterista da banda, Carlos Maltz, me cativa. Talvez eu goste da música só porque ela me remete à minha adolescência (sim, eu já ouvi Engenheiros). Mas sinceramente, dada a merda que foi a minha adolescência, talvez a música seja boa mesmo.

As canções mais simples soam melhor, como “O Preço”, “Terra de Gigantes” e os “lalalás” de “Pose”, com a voz fofinha de Clara, 12 anos, filha de Gessinger. Se ele baixasse a bola na pretensão poderia encher o disco de faixas boas como estas, ao invés de escrever balelas como “Eu me lembro / como se fosse amanhã”, em “Armas Químicas e Poemas”, a outra inédita do disco.

Mas no fim das contas o que interessa mesmo é ser uma pessoa legal. Para isso, ninguém pode pensar que estou seguindo regras, como a máxima do primeiro parágrafo, nem fazendo pose cool forçada. 60° está de muito bom tamanho.

Os Engenheiros e suas lições de como não ser legal

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