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Então tá, vamos falar de Caetano

por Rodrigo Ortega

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"Eu respondo a todas as perguntas porque sou maluco".

Caetano Veloso adiantou as críticas sobre ele mesmo na vinheta que anunciava seu novo disco, reproduzida em duas enormes telas de plasma na frente de algumas dezenas de jornalistas, no último dia 11/09. “Maluco†é um eufemismo que talvez alguns presentes dispensam, especialmente depois da espera para começar a entrevista coletiva, adiada para uma exclusiva de uma hora com a Rede Globo que resultou nessa tosqueira aqui. Mas na introdução o cantor baiano também adiantou a conclusão de seus inimigos:

"Ninguém aguenta mais ouvir Caetano Veloso falando sobre tudo".

O tema da entrevista era Multishow Cê – Ao Vivo, CD e DVD gravados na Fundição Progresso, no Rio, durante a turnê do elogiado disco Cê. Além das faixas do álbum mais recente, há outras mais antigas, especialmente de sua fase de exílio em Londres, e uma composição nova, “Amor mais que discreto’. Mas na conversa o CD perdeu espaço para Renan Calheiros, Luana Piovani e Dona Canô. “Como as pessoas aguentam ouvir Caetano Veloso falando sobre tudo?†é uma questão intrigante, mas não tanto quanto...

“como é que Caetano Veloso aguenta as pessoas perguntando sobre tudo?â€.

“O que você vai fazer no dia do aniversário da sua mãe†e “qual é seu palpite para a votação de amanhã no Senado†foram alguns dos tópicos da coletiva. A tolerância mil de Caetano chegou ao ponto de ele corrigir gentilmente um jornalista que queria saber sua opinião sobre a recente morte de Fellini (ele quis dizer Antonioni) e ainda dar um relatório amplo e detalhado sobre sua convivência com o cineasta.

Então tá, vamos falar de música.

Tentei repetir o título do novo programa da MTV mentalmente, como um mantra. Algumas vezes deu certo. Sobre o álbum de onde saíram duas músicas do show, “Nine out of ten†e “You don’t know meâ€, Caê comentou: "Sobretudo os membros mais jovens de minha banda e pessoas da idade deles me falam muito ‘eu adoro Transa, eu tenho um vinil de Transa’, e aí eu fiquei mais animado de cantar estas músicas... Teve uma banda inglesa que falou que gostava de Transa, porque achava os arranjos muito originais, só que eu não lembro, qual é o nome mesmo...â€

(Alguém ao fundo:) “Magic Numbers?â€

“Isso, Magic Numbers!â€


Eita! As comparações com Magic Numbers não se resumem a música

Apesar do lapso no nome dos gordinhos, Caetano fala como um indie veterano: tira onda da pose dos Strokes, ri da calma do Belle and Sebastian e cita um bando de outras bandas: “Gostei muito do TV on the Radio. Os dois discos, acho maravilhosos. Gostei do primeiro do Arctic Monkeys. Vi o show do Arcade Fire, não gostei muito, quando ouvi o disco gostei mais. Eu adorei quando vi aqui Wilco, que eu já conhecia, achei tão verdadeiro, bem tocado, bem cantado, muito bom.†Mas o músico não nega suas origens:

“Eu ouço mais coisas antigas. Gosto mais de João Gilberto, imensamente mais.â€

A lembrança de um jornalista sobre um disco citado por ele em outra entrevista o faz voltar às referências roqueiras: “O que desencadeou uma certeza que a gente faria algo assim foi a audição desse disco sugerido pelo nosso guitarrista Pedro Sá, dos Pixies ao vivo na BBC de Londres. É espetacular. É tudo enxuto, eu fiquei maravilhado. Todo som é verdadeiro, necessárioâ€. Então Caetano, surpreendentemente, resume:

“É João Gilberto.â€

Fazer a gente ver uma ponte tão estranha e ao mesmo tempo óbvia que liga Frank Black a João Gilberto é o tipo de idéia que te faz querer ouvir as músicas de Cê todas de novo. Mas também mostra a incoerência de um músico que preza pelo enxuto e pelo necessário gastar tanta saliva infértil fora do palco. Quando a assessora anunciou que aquela seria a última pergunta, era uma chance de deixar Caetano falar sobre o que ele sabe. Ou não.

“Caetano, o que você acha daquele caso do cara que pediu de volta na Justiça o dinheiro de doações para a Igreja Universal?"

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