As irmãs Bianca e Sierra Cassidy, que compõem o CocoRosie, desembarcaram na quarta-feira, 30 de maio, em Toulouse, cidade do sul da França, para mais um dos show da turnê de lançamento do seu mais recente álbum, The adventures of ghosthorse and stillborn, sucessor de Noah's ark (2005).

Momentos antes do show, não sabia o que esperar do concerto que aconteceria mais tarde na Île du Ramier. Isso porque Toulouse tem um público multifacetado: uma mistura de ambiente neo-hippie, centro universitário e pólo aéreo-espacial. Para completar, um temporal atingira em cheio a cidade pouco antes do evento. Mas o prognóstico era de mudança.

Ao chegar à entrada do Le Ramier me surpreendo, a porta do clube estava lotada. Outra novidade, porém menos surpreendente: o público que aguardava o show não era o público habitual. Explico: a casa é uma boate para pessoas mais velhas. Mas, claro, tinha gente de todas as idades esperando pela apresentação do duo-folk que reside em Paris. Entretanto, a maioria era jovem, de idades diversas e vestimentas também diversas.

O show do CocoRosie foi precedido por pockets dos músicos que participam da turnê. Logo em seguida, as irmãs Cassidy apareceram. Elas chegaram meio que de mansinho, de um jeito delicado e tímido. Mas, aos poucos, demonstraram que estavam ali para diversão.

Com ares mais introspectivos, Bianca só ficava mais atabalhoada nos momentos em que trocava de roupas e adereços. Sierra também chegou devagar, mas em poucos minutos era vista a pular e dançar pelo palco. Ela foi, por sinal, responsável por um show à parte, de reboladas e outras coreografias engraçadas.

Minuto após minuto, um universo imaginário era criado no palco do Le Ramier, de onde as artistas mostravam inteligência e sensibilidade. A arquitetura do clube ajudou a reafirmar a dialética do delicado e do bizarro, do sonho e do pesadelo, presente na obras da dupla. Em tempo: o clube é um local super kitsch, com salão circular, camarotes iluminados com luzes vermelhas e um lustre de franjas. Quer clima mais modernoso do que esse para um show do CocoRosie?

O duo fez uma apresentação surpreendente, mostrando o belo trabalho cheio de ruídos e experimentações vocais, com direito a repertório com músicas dos três álbuns lançados. Ao presenciar o show, você compreende, sem muita dificuldade, o que é sinestesia. Trata-se de um fenômeno em que um único estímulo pode desencadear uma contaminação de vários e também simultâneos eventos sensoriais. Se bem que, além da música, a encenação no palco e as imagens projetadas no telão ao fundo ajudam nessa mistura de sentidos e sensações.

Na turnê do terceiro disco, o CocoRosie continua a musicalizar versos melancólicos e barulhos inusitados. O resultado é um monte de canções tremendamente poéticas. A mistura já consagrada de folk e música eletrônica foi apimentada com doses de hip hop. Além da harpa, do violão, do piano e da percussão, o beatbox [sons produzidos apenas com o uso da boca] é destaque.

Duas canções dos discos anteriores continuam levando o público à loucura: "Terrible Angels" e "Beautiful Boyz" – a última, infelizmente, sem a presença de Anthony nos vocais. Versões dançantes de outras canções também empolgaram. A envolvente versão hip hopper de "K-hole", por exemplo, mereceu aplausos mil da platéia. Do novo álbum, "Animals" e "Japan" emocionaram o público. "Japan" parece ter feito o público inteiro lembrar de fragmentos da infância.

O público pediu bis. E as Cassidy voltaram, é claro. Mas Sierra saiu do compasso e errou os acordes do bis. Nada a reclamar, só mesmo rir das desculpas de Bianca e dos seus pedidos para que não fossem jogados tomates. "Relaxem, todos estamos curtindo o show", pensei na hora. Uma pena que só tocaram uma música no bis. Nem mesmo o misto de gritos de "Encore plus" e "Again" trouxeram as garotas de volta.