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Fabriquinha

Éguas de mentirinha colorem galerias de Belo Horizonte

por Braulio Lorentz

Fotos: Mariana Marques

Em 99, surgiu o projeto Fabriquinha, desenvolvido pelas jovens artistas Érika Machado e Juliana Mafra. “Escolhemos o nome, a logomarca e começamos a fazer enfeites e anéisâ€, conta Juliana. A produção da dupla ganhou fôlego e elas passaram a utilizar as habilidades que tinham: desenhar, pintar, costurar e cantar. “Não foi um projeto pensado, as demandas foram surgindo. Alugamos uma casinha e ficávamos trabalhandoâ€, explica Érika. O nome veio justamente do apelido que deram ao espaço onde passaram a criar os mais comuns e incomuns utensílios.

Três exposições da Fabriquinha foram realizadas entre dezembro de 2003 e março de 2004, na Galeria da Copasa, na Galeria Guignard e na Galeria do Minas Tênis Clube. Com o passar do tempo, foram inseridas novidades no universo da pequena fábrica.


Érika é metade da Fabriquinha

As fabriquetas, por exemplo, são as moedinhas da Fabriquinha. Érika e Juliana confeccionaram 50 moedas e saíram pelas ruas de BH com o objetivo de usá-las como se fossem moedas que estão em circulação. A exposição sobre as moedinhas retratou, através de fotos, textos e objetos conseguidos com a troca por fabriquetas, os momentos em que obtiveram sucesso ou rejeição no percurso pela cidade.

O ápice da produção artística e da criatividade, entretanto, ocorreu durante o Primeiro Leilão de Éguas da Fabriquinha, realizado em 2004. O evento foi pensado a partir do local, a galeria do BDMG.

A história das pequenas éguas de mentirinha surgiu de uma brincadeira com manobristas em uma das exposições anteriores. Juliana e Érika não possuíam carro e resolveram chegar ao evento com um meio de transporte nada convencional. Após a primeira aparição das éguas de pano, o público se encantou com o frescor da idéia: desenvolver uma metáfora que critica com bom humor a sociedade consumista. Isso foi a motivação para as duas desenvolverem o esboço do que viria a ser o leilão.


Érika gosta tanto das artes que tenta até alimentar cachorrinhos pintados
Foto: Divulgação

Os questionamentos entre as semelhanças e diferenças entre os leilões de arte e de animais foram expostos. Graças ao leilão, muitos dos mini-eqüinos feitos com pano foram vendidos e saíram para passear por aí. “Todos com os certificados de garantia da Fabriquinhaâ€, lembra Juliana. Outras peculiaridades da exposição foram os “embriões de egüinhasâ€. “É como chamamos as encomendas de éguas que recebemos durante a exposiçãoâ€, conta. Os que compareceram à exposição também se divertiram bastante com o aluguel de pequenos cavalos confeccionados para dar voltas pelo ambiente.

Walter Sebastião, do Jornal Estado de Minas, é entusiasta do projeto. O jornalista faz muitos elogios à Fabriquinha. “A linguagem visual é extremamente original. O trabalho é irônico e bem realizado tecnicamente. O humor e o sentido de poesia são raros e extrapolam as intenções das autorasâ€, comenta. Para ele, a Fabriquinha é sarcástica e, em poucas palavras, se tornou “uma pimenta no meio das artesâ€.

A professora Maria Angélica Melendi, que leciona na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais, faz coro junto com Sebastião: “Elas são responsáveis por um trabalho astuto, que critica a arte e a sociedade contemporâneaâ€.


Painel utilizado nos shows da cantora Érika, feito pela artista plática Érika

Mas nem tudo são cores, moedinhas e éguas fofinhas de pano. “Há um problema na recepção. Por causa da escolha ao optar pela ligação forte com o imaginário e a mitologia infantis, muitos não enxergam as críticas presentes na Fabriquinhaâ€, analisa Melendi. Sebastião destaca a forte identidade do projeto. “Pode gostar ou não gostar, mas a Fabriquinha é inconfundívelâ€, resume o jornalista.

As responsáveis pela Fabriquinha notam impressões semelhantes. “As reações são variadas: algumas pessoas vêem como arte, outras acham que é uma brincadeira. Outras pensam que é artesanato e tem gente que vê tudo isso ao mesmo tempoâ€, explica Juliana.

O universo multicolorido da Fabriquinha apresenta objetos que chamam a atenção. Características importantes são as referências à televisão, às histórias em quadrinhos, desenhos animados e produtos infantis. A inocência solta aos olhos, mas os signos estão em constante estado de subversão.

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