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Influência do rock setentista, roupas estilosas, cabelos milimetricamente bagunçados, pose blasé… soa familiar? Os Strokes mudaram um bocado nos últimos dez anos (Julian Casablancas engordou, botou um boné de rapper e a banda lançou um disco – o fraco “Angles” – muito mais puxado pros anos 80), mas há quem continue a ser criado sob a sua imagem e semelhança. É o caso dos americanos do Howler, que acabam de lançar seu disco de estreia, “America Give Up”.
Há pouco mais de uma década, a revista NME (sempre ela) elegeu os Strokes o seu Jesus Cristo e, desde então, vem anunciando a volta do Messias, sob a forma de alguma nova banda que siga os passos sagrados de JC (Julian Casablancas, até as inicias são as mesmas) e seus quatro apóstolos que compõem o grupo. Ano passado, evocou-se o The Vaccines e o ótimo (mas ignorado por muitos) “What Did You Expected From The Vaccines?”. Agora, a reencarnação vem sob o nome do Howler. Recentemente, a revista escreveu que a banda é a resposta de 2012 aos Strokes. Sério, NME? Já se passaram mais de dez anos desde o lançamento da bíblia sagrada “Is This It?” e os Strokes ainda esperam uma resposta? Que pergunta difícil eles devem ter feito, hein?
O Howler – que, em fevereiro, fez um elogiado show em São Paulo – segue a cartilha de canções simples (apesar de mais caprichadas na produção), temas hedonistas e jeitão meio bêbado da fase áurea de Julian e cia. A banda, cuja influência óbvia dos anos 00 passa também por Arctic Monkeys, The Kooks e o próprio Vaccines, vai beber da mesma fonte que os Strokes sugaram até a última gota: o rock dos anos 70. O vocalista Jordan Gatesmith tenta, em diversos momentos, soar como Iggy Pop, mas acaba parecendo mais um moleque de 13 anos que engrossa a voz para aparentar mais idade.
“Back to the Grave” e a the-jesus-and-mary-chainiana “Too Much Blood” são bons momentos (apesar de pouco memoráveis) que acabam ofuscados pela sonoridade genérica da maior parte das faixas, que não passam de rascunhos dos trabalhos dos ídolos do Howler. Talvez os rapazes da banda tenham confundido a simplicidade eficiente dos Strokes e a energia bem dosada do Arctic Monkeys com pobreza melódica e barulho em excesso, como nas desnecessariamente histéricas “Beach Sluts” e “Black Lagoon”. Já “America” e “Pythagorean Fearem” passam despercebidas e demostram falta de boas ideias.
Nem tudo está perdido, porém. A impecável sequência formada por “Told You Once”, “Back Of Your Neck” (desde já, uma das melhores canções do ano) e “Free Drunk” representa tudo o que o Howler poderia (e deveria) ser: uma banda sem pretensões de revolucionar o que quer que seja, mas que consegue ser divertido.
O que é mais preocupante sobre “America Give Up” não é a qualidade do disco em si, mesmo porque a banda demonstra algum potencial. O problema é a evidência que ele traz à tona, de que um determinado “modelo de banda” predominante nos anos 00 continue a ser apontado como o ideal a ser seguido no cenário atual. Se compararmos o grande álbum dos anos 90, “Nevermind”, do Nirvana (jura?), com aquele que ditou a moda musical dos 00, “Is This It?”, percebem-se pouquíssimas semelhanças. Já a confrontação deste último com os álbuns apontados recentemente como as potenciais revelações da década mostra que a proposta é rigorosamente a mesma. Os dois melhores álbuns lançados nos anos 10 (“The Suburbs”, do Arcade Fire e “Let England Shake”, da PJ Harvey – que, por sinal, já estão na estrada há mais tempo) fogem completamente dessa proposta musical. Amém.