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“O Lorax” é o último dos livros do clássico autor infantil Theodor “Dr. Seuss” Geisel a ser transformado em uma animação computadorizada para o cinema (agora pelas mãos do diretor Chris Renaud). Aqui no Brasil recebe o subtítulo desnecessário de “Em Busca da Trúfula Perdida”; desnecessário e um tanto enganoso, pois insinua que é o Lorax quem está tentando encontrar a tal “trúfula”, o que de fato não condiz com a trama do filme.
Quem procura a trúfula é o adolescente Ted, que nutre uma paixonite juvenil pela esguia e ruivíssima vizinha Audrey. Os dois vivem em Sneedville, uma cidade onde tudo é de plástico e o ar puro é vendido em garrafas. Audrey sonha em ver uma árvore de verdade – a tal da trúfula do título –, e Ted, como qualquer garoto perdidamente apaixonado, sai da cidade ferrenhamente determinado em arranjar uma para ganhar o coração da garota. Mas primeiro ele precisa descobrir o que aconteceu com todas as árvores através de uma história contada em flashback que envolve o Lorax, o guardião mítico da floresta que “fala pelas árvores”.
O ponto forte da produção é também, em alguma medida, o seu ponto mais fraco: a inocência. Por um lado existe algo de extremamente puro e simples na trama, que confere ao filme um caráter de fábula. Pureza fortemente exemplificada na motivação do protagonista, o garoto Ted, como bem descreve um personagem: “Um homem faz uma coisa estúpida porque é um homem. Mas se ele faz de novo é porque quer impressionar uma garota”.
Mas se podemos exaltar a inocência da trama, podemos também acusá-la de ser simplória: a “natureza” que o Lorax defende, por exemplo, é excessivamente idealizada, consistindo em um “ecossistema” composto de ursinhos fofos, pássaros engraçadinhos e peixes cantores. Em outras palavras, a mensagem “verde” do filme sofre das falácias e reduções típicas dos discursos ecológicos, em especial daqueles voltados para as crianças pequenas. E “O Lorax” é bem direcionado aos pequeninos, ao contrário de outras animações em computação gráfica que conseguem também seduzir e agradar aos marmanjos.
Em defesa do filme devemos notar, no entanto, que ele faz um bom trabalho ao explicar e denunciar para os pimpolhos a ganância exacerbada e do consumismo desenfreado produzidos e estimulados pelo nosso sistema capitalista. A direção de arte é evidência disso: ao invés de seguir a tendência maniqueísta fácil e mostrar a cidade como um lugar cinza e sem graça, em contraste com uma natureza bela e colorida, o filme até faz um certo esforço em retratar Sneedville como um lugar alegre e divertido, tratando meio de passagem uma questão um pouco mais complicada, a da alienação do público em relação aos problemas que afetam a sociedade como um todo.
E os adultos e crianças um pouco mais velhas talvez fiquem entediados com as sequências musicais, mas se prestarem atenção irão notar uma ironia ácida em algumas das canções e coreografias, que parodiam os espetáculos típicos de algumas campanhas publicitárias. Pena que, ao final, a “mensagem de esperança” do filme seja transmitida com a mesma estratégia sendo levada a sério…