[xrr rating=4.5/5]
Caro senhor Spielberg.
Seja bem-vindo de volta. Confesso que senti sua falta. Estava tudo tão confuso ultimamente: seu melhor filme em anos não foi feito por você, enquanto alguns filmes menores (bons, mas longe de serem sensacionais) levavam sua assinatura. O que estava acontecendo? Por onde andava o diretor de “Tubarão”, “Os Caçadores da Arca Perdida” e “Jurassic Park”?
É muito bom saber que o senhor está de volta em “As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne”. Talvez este seja seu filme mais infantil, estou certo? E talvez a sequência de perseguição no Marrocos seja uma das maiores cenas de ação da história do cinema. Mas o que mais gostei foi o retorno de seu espírito juvenil em uma espécie de Indiana Jones revisitado, abusando de movimentos de câmera que só poderiam ser possíveis em um ambiente virtual e uma mistura bem dosada de humor e correria. E foi bastante inteligente a ideia de juntar as histórias de “O Caranguejo das Tenazes de Ouro” (de 1941) com “O Segredo do Licorne” (1943), conseguindo retirar daí uma trama verdadeiramente empolgante.
O elenco foi muito bem escolhido, e a captura de suas expressões é fantástica. É impressionante como tudo melhora após a entrada do Capitão Haddock em cena (Serkis), engatando um ritmo que só nos vai fazer descansar nos créditos finais.
Entendo que o filme tenha problemas, a maioria advindo da própria fonte: os diálogos expositivos e a personalidade rasa dos personagens é um problema dos quadrinhos do belga Hergé que deram origem à história deste jovem jornalista que viaja ao redor mundo investigando os mais variados casos (aqui, como o senhor está cansado de saber, um segredo envolvendo um navio em miniatura, o Licorne do título). Tintim sempre foi um personagem reativo, as coisas vão acontecendo e ele vai simplesmente respondendo ao que acontece à sua volta. Tudo bem que o senhor queria ser o mais fiel possível à hq, mas não custava nada trabalhar melhor os personagens no roteiro, não acha?
Mas tudo bem, pode-se sempre usar a desculpa de que este projeto não era só seu, mas também do Peter Jackson (dessa vez como produtor, mas que deve dirigir a continuação da história, certo?). Isso pode explicar algumas cenas que lembram demais “O Senhor dos Anéis”, como a câmera que vai do convés do navio até a popa (lembra da “fábrica” de orcs em “A Sociedade do Anel”?). Eu achei que a dupla funcionou muito bem, especialmente nas soluções visuais envolvendo transições temporais e geográficas (a memória do Haddock indo e vindo no tempo é simplesmente espetacular) e na decisão de assumir o tom cartunesco.
O uso de animação por captura de movimento não está lá por acaso. O senhor quis não apenas manter os traços do Hergé (que aparece no filme também, olha só! E cá entre nós, nada me tira da cabeça que o mordomo da mansão Haddock é uma homenagem ao seu ídolo Hitchcock), mas também abusar do exagero típico das histórias em quadrinhos, especialmente o cãozinho Milu, disparado o personagem mais inteligente em cena.
O detalhe dos efeitos, aliás, é impressionante, e a mistura do farsesco com o realismo não me incomodou nem um pouco. Parabéns, o senhor conseguiu fazer uma aventura divertida, empolgante, engraçada e com um ótimo uso da trilha sonora de seu amigo John Williams. Tem cidade, deserto, mar, avião, navio, tanque de guerra e até pirata (ah, eu percebi como o clímax com os guindastes emula a batalha entre os corsários. Adoro rimas visuais)! O que mais alguém poderia querer?
Não é ainda um grande filme como aqueles que o senhor fazia nos anos 70 e 80, mas já podemos comemorar o seu retorno. “As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne” é um típico filme de Steven Spielberg. Para mim, e para muitos outros que conheço, essa já é uma excelente notícia. Que o senhor não desapareça novamente.
3 respostas para “As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne”
O texto está perfeito. Parabéns!
Adorei o filme!! Ótima trama e incrível qualidade visual!!!
Cara, acabei de assistir e achei bem massa. Surpreendentemente politicamente incorreto pra um desenho, animação muito bem feita, engraçado sem ter que forçar a barra e muito a cara Spielberg. To muito esperançoso com a continuação.