Em 2011, os colaboradores do Pílula resolveram jogar com segurança: os cinco primeiros longas-metragens da lista pertencem a diretores já devidamente escolados e tarimbados. O quase octogenário Woody Allen laçou o primeiro lugar com o seu melhor filme desde Match Point (2005) – foram cinco nesse período, alguns bons (“O Sonho de Cassandra”), outros nem tanto (“Vicky Cristina Barcelona”).
A boa receptividade a “Cisne Negro” confirmou a condição de Darren Aronofsky como mais um realizador a se levar a sério, mesmo depois do bombástico (relacionado à bomba) “Fonte da Vida”. Os pilulistas também aprovaram Pedro Almodóvar, que decidiu dar folga para Penélope Cruz e retomar a bem-sucedida parceria com Antonio Banderas. Ele soltou “A Pele Que Habito”, que alcançou o lugar mais baixo, mas tremendamente digno, do nosso pódio.
“Melancolia” provou que Lars Von Trier é mais que tatuagens de gosto francamente duvidoso e vacilos de primeira grandeza em Cannes, enquanto a sensibilidade intrínseca à Sophia Coppola lhe garantiu o quinto lugar.
Destaque também para “Namorados Para Sempre”, drama com o onipresente Ryan Gosling, que estreou atrasado no país (ou seja: todo mundo viu primeiro em DVDRIP que a gente sabe – e perdoa).
“O palhaço”, bem menos nublado que “Feliz Natal”, estreia de Selton Mello na direção, clamou para si o espaço brasileiro na lista.
Aqui, as listas individuais.
P.S.: A lista do glorioso Renné França não havia sido computada – até hoje (05/01). Tremendamente envergonhados, assumimos a falha.
10º – 127 Horas (127 hours, Estados Unidos, 2010, dir. Danny Boyle)
“A história de Ralston – e o filme de Danny Boyle – é uma ode a isso. Ao utilizar trechos de comerciais, ícones pop ou montagens rápidas, o diretor não está só criando uma decupagem que torna o longa mais dinâmico (e suportável). Ele está confirmando que, realmente, imagem não é nada, sede é tudo. Aquela iconografia por si não seria nada, mas ao nos darmos conta do sentido que ela tem para nós – e do que ela passa a significar para Aron naquela situação – ‘127 horas’ se torna puro cinema. Uma narrativa mental que supera a mera imagem, a exemplo de ‘Mar adentro’ e ‘O escafandro e a borboleta’”, (Daniel Oliveira)
9º – O Palhaço (Brasil, 2011, dir. Selton Mello)
“Do primeiro plano que apresenta um carro vermelho cortando o tom árido de um canavial, ao lindo plano-sequência que o encerra, “O Palhaço” não é apenas uma viagem por um Brasil normalmente ignorado, mas também um passeio pelas complexidades da nossa condição humana. Na evolução do mesmo espetáculo insistentemente repetido ao longo da narrativa, acompanhamos as transformações de Benjamin, seu pai e Guilhermina, e vamos sendo aos poucos tomados por uma alegria por vezes melancólica, mas com certeza marcante. E que vai te deixar com um sorriso no rosto após o fim do filme. Quero dizer, do espetáculo. Ria, palhaço.” (Renné França)
8º – O Discurso do Rei (The King’s Speech, Reino Unido, 2010, dir. Tom Hooper)
“O grande acerto de Hooper é tratar esse lado psicológico com elegância e sutileza, sem tornar o filme um estudo patológico – pelo contrário, ressaltando o lado humano de uma história prosaica. Seu trabalho se torna bem mais fácil com os talentos de Geoffrey Rush e Firth como os protagonistas. Eles não só habitam Lionel e Bertie com total naturalidade, mas conseguem transmitir ao público a crescente intimidade e a cumplicidade desses dois homens, mesmo limitados pelas tais constrições monárquicas da relação entre eles.” (Daniel Oliveira)
7º – Namorados Para Sempre (Blue Valentine, Estados Unidos, 2010, dir. Derek Cianfrance)
“Os diálogos soam naturais na crueza e na agressividade que deixam claro o desgaste típico de um longo relacionamento. A atuação de Gosling é monstruosamente boa porque é capaz de, a cada tentativa de reconquistar a esposa, apertar exatamente os botões que acionam a repugnância dela por ele – e Michelle Williams reage com uma naturalidade e um talento de partir a alma.” (Daniel Oliveira)
6º – X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, Estados Unidos, 2011, dir. Matthew Vaughn)
“O elenco todo funciona bem, e os fãs vão se divertir ao reconhecer cada novo personagem que surge na tela. Mas ‘X-Men: Primeira Classe’ pertence mesmo ao Professor X e Magneto. É a dinâmica entre estes dois deuses modernos que carrega todo o filme. Não apenas conhecemos as origens de suas convicções, mas também compreendemos os dois lados. Suas diferenças vão se tornando cada vez mais claras até o ponto em que aquela amizade se torna insustentável. É aí que percebemos que ‘X-Men: Primeira Classe’ não é apenas um filme. É uma parábola sobre os nossos dilemas morais.” (Renné França)
5º – Um Lugar Qualquer (Somewhere, Estados Unidos, 2010, dir. Sofia Coppola)
“…’Um Lugar Qualquer’ é uma parábola sobre o isolamento humano e as grades invisíveis que a fama e o dinheiro podem erguer ao redor daqueles que, ao mesmo tempo em que são adorados por milhões, não possuem de fato nenhum amor concreto.” (Renné França)
4º – Melancolia (Melancholia, Alemanha/Dinamarca/França/Itália/Suécia, 2011, dir. Lars von Trier)
“Von Trier não quer agredir o espectador fisicamente, infligindo-o com a sua dor, nem impor a ele seu processo depressivo. Quer simplesmente retratá-lo e convidar o público a refletir sobre a estranha razoabilidade de seu raciocínio mórbido. Enquanto o espectador era um mero refém do sadismo do longa anterior, em ‘Melancolia’ ele é co-autor, completando várias lacunas e, graças ao talento manipulativo do diretor, tornando-se parte daquele universo muito mais natural e profundamente.” (Daniel Oliveira)
3º – A Pele Que Habito (La Piel Que Habito, Espanha, 2011, dir. Pedro Almodóvar)
“‘A Pele Que Habito’ é uma porrada um pouco mais dura do que os fãs do diretor espanhol estão acostumados, mas é essa carga que o transforma em um filme de suspense tão genial. Se há algo dispensável na história, é a narrativa da mãe Marília (Marisa Paredes) e do irmão brasileiro Zeca (Roberto Álamo), que está ali mais para que o espectador se lembre de que está assistindo a uma obra de Almodóvar. Mas também não é nada que enfraqueça a colcha de retalhos do filme.” (Guerrinha)
2º – Cisne Negro (Black Swan, Estados Unidos, 2011, dir. Darren Aronofsky)
“Já Aronofsky novamente explora a obsessão viciosa com o corpo em detrimento do espírito/da mente, opondo a ideia de perfeição ao prazer sexual. O extremo controle e a total ausência dele. O inatingível etéreo e a satisfação máxima presente no encontro/equilíbrio entre corpo e espírito. Sem possuir isso, Nina segue o caminho oposto, rumo à deterioração da mente (o que se reflete no seu corpo em decomposição), na busca de uma perfeição que Aronofsky ilustra de forma sublime com sua solução final.” (Daniel Oliveira)
1º – Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, Estados Unidos/Espanha, 2011, dir. Woody Allen)
“Mas o que importa aqui é Paris, à meia-noite, em 2010, em 1920. Não só um lugar, mas um tempo e, acima de tudo, um estado de espírito que você vai querer visitar e que vai te fazer ter coragem de sonhar de novo.” (Daniel Oliveira)
3 respostas para “Pilulista Cinema – Os melhores filmes de 2011”
Foi um ano tão fraquinho que o pódio era pratcament previsível… mas tenho que ver La piel que habito de novo. Fato.
Minha lista:
1 – A Árvore da Vida (como ficou de fora???)
2 – Cisne Negro
3 – Bravura Indômita
4 – Inverno da Alma
5 – Meia-noite em Paris
6 – O Vencedor
7 – Tudo pelo Poder
8 – Melancolia
9 – A Pele que Habito
10 – Drive
Menção honrosa: Namorados para Sempre