Todo mundo já passou no colégio pela situação de ter preguiça de ler algo obrigado, mesmo que fosse um livro foda, e teve de recorrer a um resumo para saber o que acontecia e responder às questões da prova ou entregar um trabalho. Pode até resolver o problema acadêmico, mas não dá pra sentir qualquer empatia pelos personagens ou entender o quão brilhante é um livro. Você conhece alguém que já chorou lendo um resumo? Um Dia faz com a obra homônima de David Nicholls a mesma coisa.
Emma Morley (Anne Hathaway), uma estudante idealista, está em seu último ano de faculdade, em 1988, e passa a noite com o bonitão superficial Dexter Mayhew (Jim Sturgess). Mesmo sem chegar aos finalmentes, o tempo é o suficiente para disparar um relacionamento que o espectador (ou o leitor) acompanhará por 20 anos, ainda que não da forma como esperamos de um romance.
Extrair um dia (15 de julho, para ser mais exato) de cada um desses anos e transformá-lo em um capítulo da vida dos personagens é o aspecto que define o livro de Nicholls. Mas também é o que sepulta o filme. É uma equação matemática, na verdade. Me acompanhe: se você tem 120 108 (a produção apertou o cinto nessa) minutos de filme e quer dividi-lo em 20 “capítulos”, vai se deparar com uma média de 5 minutos e 24 segundos para cada ano/cena. É o suficiente para construir os eventos e traduzir os personagens para que nos importemos com eles? Difícil.
Os anos seguintes mostram os encontros e, principalmente, desencontros dos dois, o que não poderia ser muito diferente, já que as personalidades são extremos opostos. Além disso, a cada 15 de julho a dupla ganha profundidade e amadurece, ora junto, ora separadamente, mais ou menos como um “Harry e Sally – Feitos um Para o Outro” que deu errado. Ok, a beleza de Anne Hathaway não ajuda a caracterizar Emma (várias críticas reclamaram também do sotaque, que passa batido para a maioria dos brasileiros) e Dexter perde muito da sua importância na adaptação, mas no fim das contas temos apenas uma série de fatos amarrados por uma trilha farofa do tipo sessão da tarde e folhas de calendário viradas. Como um resumo, os fatos superficiais estão lá, exceto o que importa: a substância.
Se você é do tipo que gosta de resumos, fique com a resenha (um resumo do resumo) que deixo de presente e economize a grana do cinema. Vale mais a pena levar seus suados reais a uma livraria e comprar uma cópia do livro de Nicholls, que tem o brilho e a profundidade que nenhum resumo vai conseguir mostrar.
4 respostas para “Um Dia”
Aquele velho erro de comparar o filme ao livro…
Ei, Camila. O erro tá antes da comparação, na hora da realização do longa. Não é que o filme não chegue à altura do livro, embora eu ache que ele deva sim à obra original. É que ele simplesmente não envolve. E eu ainda acho que fui gentil, porque não acredito que tenha sido um problema meramente de atuação, mas sim de fórmula. O formato que define o livro prejudicou a realização da produção. De qualquer maneira, é sempre bom ouvir os dois lados. Se você não tiver lido o livro, assista e conte pra gente o que achou.
Não li o livro e não achei que a estrutura atrapalhou. Achei de bom a razoável, no geral. Acho que o Jim Sturgess julga muito o Dexter na atuação dele, e isso torna difícil entender o que a Emma vê em um cara tão babaca e egoísta. E o choque final me deixou de boca aberta, mas é daquelas reviravoltas que depois você fica meio… e daí? Tudo que acontece depois dela (com exceção do flashback) é meio desnecessário.
Eu ia ver o filme, mas depois de ler essa resenha, segui o conselho e fui lá comprar o livro. Terminei de ler hj e é sensacional! ainda vou ver o filme, mas fico feliz por ter lido primeiro! valeu pela dica, guerrinha!