Kung Fu Panda 2


Nossa avaliação

[xrr rating=3.5/5]

A fórmula da ironia é simples. Trata-se de uma troca de significados, quando uma determinada situação bem estabelecida é atravessada por algo inesperado, que não se encaixa naquele contexto específico. O primeiro “Kung Fu Panda” se baseava todo nesta ideia: um panda faminto e preguiçoso ocupando um lugar que não deveria ser dele, o de dragão guerreiro, o salvador do kung fu.

A graça surgida da figura de Po desencaixada do personagem que precisa “interpretar” continua funcionando em “Kung Fu Panda 2”. Abrindo com um belíssimo prólogo que emula a lanterna mágica (um dos primórdios do que viria a ser um dia o cinema), a trama busca explicar uma das piadas mais surreais do original, que trazia o urso como filho de um ganso. O questionamento de Po sobre sua verdadeira identidade traz novamente a jornada de auto-descoberta do herói (já explorada no filme anterior) que leva a um inevitável confronto com o vilão. Possuindo o respeito dos colegas e da população – para quem se tornou um verdadeiro ídolo – o panda precisa agora provar seu valor apenas para si mesmo.

O roteiro continua equilibrando muito bem humor e ação, e Po é um personagem realmente cativante para conseguir carregar o filme nas costas. A direção segura o ritmo ágil das cenas de ação criativas e as imagens são belíssimas, misturando a profundidade do 3D digital com momentos de animação tradicional que compõem uma China antiga ao mesmo tempo lúdica e realista. O problema são os novos personagens que aparecem sem receber o devido destaque ao mesmo tempo em que tomam o espaço dos companheiros de Po. De repente há gente demais em cena, e muitos poucos tem verdadeiramente o que fazer para a história andar.

O vilão consegue ser interessante, usando as características físicas próprias de um pavão aliadas à “personalidade” do animal (aquele que gosta de se mostrar) para se constituir como um líder ambicioso e narcisista. A beleza destrutiva representada pelo bicho ganha reflexo na arma utilizada pelo mesmo: os fogos de artifício que se transformam em bombas para arrasar a China e destruir o kung fu.

Mantendo a diversão do primeiro filme, mas sofrendo por se tratar de uma continuação (o que tira muitas das surpresas da original premissa do anterior), “Kung Fu Panda 2” promete outra continuação para atormentar ainda mais a cabeça do confuso Po. Apesar dos problemas e das situações previsíveis, é sempre bom quando uma diversão aparentemente descompromissada entrega discussões mais profundas como identidade e paternidade. Que venha o três.


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