Sergio Leone, Clint Eastwood, John Ford, “Chinatown”, Hunter S. Thompson, “Apocalipse Now”. Pelas referências citadas, “Rango” não é uma animação infantil convencional. Na verdade, trata-se de um filme para toda a família, mas que vai agradar muito mais aos adultos. “Rango” é um western.
Assim como nos melhores representantes do gênero spaghetti, o primeiro longa de animação da Industrial Light and Magic possui um constante clima de estranhamento, com personagens feios e esquisitos. Cortesia de Gore Verbinski, uma espécie de Tim Burton mais pop e acessível. Não por acaso, Verbinski vem criando uma parceria com Johnny Depp, colaborador assíduo de Burton e apaixonado por personagens estranhos.
E Rango é um prato cheio para o ator. O camaleão verde (e sem nome) nos é apresentado em um interessante monólogo, revelando várias de suas referências pop e o gosto pela atuação. Até que um acidente o arranca de seu aquário (na parte traseira de um carro) e o joga no meio de um deserto. Lá ele encontrará a cidade Poeira, habitada por todo o tipo de animais daquele ambiente e que sofre com a seca que tornou a água o item mais valorizado do lugar.
A cor verde de Rango (aliada a uma chamativa camisa vermelha) se destaca com facilidade na paleta sépia que domina praticamente todo o filme. A ironia está no camaleão que não consegue se camuflar, a não ser… atuando. A forma como ele vai se integrar à comunidade de Poeira é criando um personagem para si próprio (chamado… Rango!).
À primeira vista, Verbinski parece revisitar o universo de “A Mexicana”, mas o diretor vai além. As referências citadas no início do texto não são simplesmente jogadas na história, mas utilizadas para a aventura andar, e muitas servem de ingrediente para a “composição do personagem” criado pelo camaleão.
As imagens belíssimas (do fotógrafo Roger Deakins) são recheadas por diálogos inteligentes, personagens cativantes, muito humor e cenas de ação empolgantes. A trilha de Hans Zimmer é um show a parte, assim como o grupo de corujas cantoras que narram o filme. Escrito por John Logan, “Rango” dosa tudo na medida certa para contar uma história que aproveita os grandes temas do western (o forasteiro, a jornada de busca, a chegada da industrialização) e os atualiza de uma forma original e divertida.
Alguns personagens (como o bando que aterroriza a cidade a mando do prefeito) aparecem com destaque para em seguida serem esquecidos sem muita explicação. Mas são alguns detalhes que estão longe de comprometer o resultado final. Não se deixe enganar pela estranheza inicial: “Rango” é um dos melhores filmes do ano. Quem esperava por essa, hein?
6 respostas para “Rango”
Deve ser o protagonista mais feio de uma animação
Mas não por isso menos simpático, como exige a função
Um camaleão metido a artista, que não sabe quem é
Tal qual sua espécie, define: “posso ser quem eu quiser”
Se depara no meio do nada, “Poeira” é nome sugestivo
Com conversa fiada vira herói: “matei sete com um tiro”
Daí parte o enredo, com sede, cheio de confusão
Divide as atenções com uma caipira, seu par: Feijão
A água é como petróleo: quem a possui tem poder
Talvez complexo para um menor de 10 anos entender
Algumas oscilações entre bom e regular: perdoáveis
Cenas de ação e perseguição impecáveis, impagáveis
No original, a voz de Johnny Depp é sem dúvida atração
É ele quem dubla o principal personagem, o camaleão
Não por acaso, nos Estados Unidos, é líder de bilheteria
Em um fim de semana arrecada o dobro do que se esperaria
Por ser infantil, claro, a lição de moral tem que existir
Mentira tem perna curta e o herói tem que se redimir
Adultos que gostam de animação podem ir sem problema
Só uma sugestão: bebam água antes de entrar no cinema
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