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No ano de 1936, o escritor Fran Striker criou um personagem para o rádio que parecia saído direto das páginas dos quadrinhos: Britt Reid é um milionário (dono do jornal O Sentinela Diário) que, ajudado pelo seu motorista Kato, se transforma no herói Besouro Verde.
A tradução no Brasil está errada, mas a culpa vem dos anos 60, quando a série de televisão chegou por aqui, pegando carona naquele seriado do Batman. Os produtores, não por acaso, eram os mesmos: uma dupla dinâmica, um herói milionário e sem super poderes… Tudo remete ao homem-morcego. Mas na época, o seriado estrelado por Al Hodges (Reid) e Bruce Lee (Kato) ganhou o nome “besouro” no lugar do original “marimbondo”.
Isso pode atrapalhar o entendimento de algumas piadas na nova versão do herói, agora no cinema. “O Besouro Verde” chega à tela grande no formato de comédia de super-herói, com o rosto de um Seth Rogen mais magro e com a direção de Michel Gondry. O filme acompanha a transformação de Britt: após a morte do pai, ele vai de playboy a herói com a ajuda de Kato (Jay Chou). A partir daí, Gondry propõe uma interessante subversão da relação entre duplas de heróis: o herói principal é o menos apto, enquanto seu ajudante (ou parceiro) é o verdadeiro responsável pelas proezas extraordinárias da história.
O diretor usa seus conhecidos truques de câmera na tentativa de dar um estilo farsesco de quadrinhos ao filme, mas o roteiro formulaico acaba por prevalecer, suprimindo qualquer tentativa de originalidade. Não ajuda a personagem de Cameron Diaz nunca dizer a que veio, sendo totalmente desnecessária (ao ponto de você sempre esperar alguma reviravolta envolvendo sua Lenore Case, o que nunca acontece) e Christoph Waltz repetir descaradamente o seu coronel Hans Landa como o vilão Chudnofsky.
Rogen e Chou até possuem uma química juntos, e muitas piadas funcionam. Mas as sequências de ação são sonolentas e o tempo inteiro o filme parece caminhar para lugar nenhum (culminando na talvez mais imprestável perseguição da história do cinema). A verdade é que o material original já não era grande coisa, sendo o Marimbondo Verde um herói de segundo escalão que virou cult mais por causa da participação de Bruce Lee na série de tv do que por qualquer outra coisa.
O diretor tentou fazer um filme que não se levasse a sério, construído a partir de caricaturas. Mas os atores parecem não compreender isso, levando muito a sério o seu trabalho, como se buscassem um aprofundamento onde não deveria ter (Waltz é a exceção). O resultado é estranho, com a mão pesada da direção em algumas cenas e os atores perdidos no meio disso tudo. Faltou na história um pouco mais do estilo que sobrou nos créditos finais.
Ah, o 3D (convertido) é absolutamente dispensável.