Festival do Rio #4 – Somewhere


Na saída do cinema, um velhinho maluco e carente grita na nossa direção: “O grande mérito desse filme é que a diretora foi fiel a si mesma!”. Vergonha alheia à parte, ele não está errado. A segunda pessoa velhinha, maluca e carente do dia, uma senhora no café, também tem suas razões: “Eu gostei das cenas, são muito bonitas, mas não desse ator. Precisava andar sujo o filme todo?”.

Um dos filmes mais concorridos do Festival do Rio, Somewhere é mais do que hype (e do que nepotismo, acusação que rolou depois que Quentin Tarantino, ex-namorado de Sofia e presidente do juri do Festival de Veneza em 2010, deu ao filme o Leão de Ouro). É a consolidação da linguagem de Sofia Coppola, pros cinéfilos, fofice em formato audiovisual, pros românticos, e uma sequência de videoclipes disfarçada de filme, pros desencanados.

Ao contrário do velhinhos do primeiro parágrafo, os personagens do filme falam pouco. Eles são Johnny (Stephen Dorff) e Cleo (Elle Fanning), pai e filha. Ele é um galã de cinema entediado em quartos de hotel, ela é uma garota sensível e ligeiramente perdida (eu não copiei essa descrição de outra resenha de filme da diretora, mas poderia).

Stephen  faz um bom trabalho, sem cair nas armadilhas de um ator fazendo o papel de um ator, e nem anda tão sujo quanto achou a nossa amiga do café. Elle, irmã mais bonita da Dakota, parece ter sido produzida em laboratório para atuar num filme da Coppola.

O pianinho de “I´ll try anything once”, dos Strokes, que está no trailer aí em cima e numa das partes mais legais da história, explica muito bem o clima do filme. Sutil, sem pressa, mas conciso. Na verdade, esta e outras músicas podem explicar muito mais sobre Somewhere.

Não dá mais pra esconder que o processo de criação da diretora consiste em escolher músicas que ela gosta, espalhar de dez em dez minutos e preencher o resto com alguma história. “My Hero”, dos Foo Fighters, “Cool” da Gwen Stefani, entre outras, vão ficar na cabeça de muita gente, associadas às belas cenas do filme. E a faixa dos Strokes (originalmente uma versão demo de “You only live once”) rivaliza com “Just like honey”, de Encontros e Desencontros, na honrosa premiação de melhor momento musical numa obra de Coppolinha.


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