[xrr rating=3.5/5]
Country noir. É essa a definição do estilo literário de Daniel Woodrell, autor do livro que deu origem a “Inverno da Alma”. Passada nas montanhas do Missouri, a história de uma garota de 17 anos que precisa encontrar o pai para não perder a casa é brutal e recheada de personagens desprezíveis.
As exceções são mesmo Ree e seus dois irmãos mais novos, de quem cuida sozinha. O pai saiu da prisão e colocou sua propriedade como seguro fiança. O problema é que ele desapareceu e, se não aparecer até a audiência, a terra será retirada de Ree e entregue à Justiça.
Jennifer Lawrence concorre ao Oscar de melhor atriz e ela talvez seja mesmo o que de melhor o filme possui. Sua atuação como Ree consegue ser ao mesmo tempo contida e desesperadora, oferecendo nuances de uma agitação interior que se esconde por trás do jeito sempre calado e quieto da personagem. Ela transita por uma vizinhança violenta em busca do pai, arriscando-se a todo o momento ao adentrar os segredos que se escondem dentro de casebres aparentemente normais.
Não há espaço para delicadeza ou beleza nesta jornada da adolescente, apenas o desejo de sobrevivência. A diretora Debra Granik, entretanto, parece muitas vezes se perder entre o drama e o suspense. A estrutura dura da história, que passa longe do sentimentalismo, muitas vezes esbarra no melodrama, que começa a aparecer de forma tímida no terceiro ato do filme.
John Hawkes (indicado ao Oscar de coadjuvante e espécie de Paulo Miklos gringo) faz o tio viciado e de caráter dúbio. É um personagem interessante, mas que a diretora insiste em colocar nas sombras e sempre que pode o põe cheirando um pouco de cocaína. Estratégias óbvias como essa para mostrá-lo como um anti-herói se repetem com outros também.
Caipiras tocadores de banjo, policial covarde, mulheres submissas: com exceção de Ree, há uma clara opção pela tipificação que, ao mesmo tempo em que facilita o reconhecimento daqueles personagens pelo espectador, enfraquece a força da narrativa. Mas são problemas menores em uma produção forte e violenta que concorre também ao Oscar de melhor filme.
“Inverno da Alma” consegue surpreender em vários momentos e ser assustador de uma forma pouco convencional. Se fosse mais seco e abrisse menos concessões, talvez se tornasse uma pequena obra-prima. Do jeito que ficou é “apenas” um suspense competente.