Tron: O Legado


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

Tron – Uma Odisséia Eletrônica”, de 1982, era uma aventura simples e tecnologicamente revolucionária que nunca pediu uma continuação. Mas ela veio assim mesmo, 28 anos depois. “Tron: O Legado” tenta aproveitar alguns elementos do filme oitentista e transformá-los em uma mitologia própria, já de olho em uma franquia para o futuro.

A história segue Sam (Hedlund), filho de Kevin Flynn (Bridges), protagonista do original. Herdeiro de uma grande companhia eletrônica, Sam vive meio perdido na vida desde o misterioso sumiço do pai em 1989. Até que é transportado para o mesmo mundo de computador do filme de 1982 – passado por uma hiper atualização, é claro: os blocos coloridos opacos dos anos 80 ganham transparência e camadas que impressionam. Aliás, como no filme anterior, os efeitos especiais e a direção de arte são aqui o ponto alto da produção, apesar do Jeff Bridges digital nunca convencer. Ele é Clu, programa criado por Kevin Flynn para montar o sistema perfeito, mas que se rebela e organiza um mundo livre de usuários.

E aí está o aspecto religioso – e mais interessante do filme original – reaproveitado: Kevin é o usuário, o “criador”, deus daquele mundo virtual. Ele cria o melhor dos programas, mas na incessante busca por perfeição, Clu se rebela contra o criador e vira o vilão da história. Se o roteiro já deixa clara a inspiração na luta entre Deus e Lúcifer pela posse do Paraíso, os cabelos brancos e a barba de Kevin reforçam o simbolismo divino da iconografia cristã, assim como o amarelo e o vermelho que sempre envolvem Clu nos lembram o tempo inteiro do diabo.

E no meio disso tudo, Sam é o filho de deus lutando contra o demônio em um ambiente que muitas vezes remete ao céu de “Nosso Lar”. Para complicar um pouco as coisas (afinal, é “Tron”) entram em cena programas “milagrosos”, a Olívia Wilde e o Michael Sheen se divertindo como nunca.

Mas o roteiro não se sustenta: nem desenvolve os personagens e nem se preocupa com uma coerência narrativa que ligue todos os elementos de forma convincente. Garret Hedlund é disparado a pessoa menos carismática em cena e há flashbacks demais e emoção de menos. Por outro lado, a música do Daft Punk (com direito a uma ponta) é a representação sonora perfeita daquele universo e os jogos de arena são interessantes (a atualização das motos de luz funciona muito bem). Além disso, a adição das naves de luz é bacana o suficiente para empolgar, com seus rastros sólidos cruzando o céu.

No final das contas, “Tron: O Legado” é tão bom quanto o original. E tão ruim quanto.


2 respostas para “Tron: O Legado”

  1. Acho curiosas as inversões que acontecem a partir das referências “religiosas” do filme: Kevin Flynn é um “Deus” que, ao contrário de outros por aí, não está disposto a sacrificar o seu filho pela sua criação. Pior ainda, ele abandona sua criação para defender seres que evoluíram “naturalmente”, os ISOs.

    Mas o melhor de tudo são as “terapias” que ele procurou para lidar com a sua impotência: meditação, Mahjong, etc. É um “Deus” bem frustrado… 😛

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