The Expendables 3 (2014) | |
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Direção: Patrick Hughes Elenco: Sylvester Stallone, Jason Statham, Harrison Ford, Arnold Schwarzenegger |
O que faz “Os Mercenários 3” ser tão problemático é apostar em uma história que depende de nossa simpatia pela amizade entre aquele grupo de brucutus apresentado em dois filmes anteriores. Mas a proposta das produções nunca foi de desenvolver os personagens e menos ainda sua interação. Assim, quando o diretor Patrick Hughes nos mostra um por um da equipe em um helicóptero no início do filme, não estamos vemos os personagens (a dificuldade em lembrar o nome deles depois de dois filmes é uma prova de que não importam), mas sim Stallone, Jason Statham, Dolph Lundgren e o cara do UFC. Como a única ligação emocional é com os atores a partir de outros filmes que fizeram, fica difícil comprar a ideia de amizade tão explicitada nos diálogos com Statham.
No fiapo de história, Barney (Stallone) reencontra um dos membros fundadores do grupo, Stonebanks (Gibson) e cria uma nova equipe, deixando os antigos companheiros de lado. O problema não é só que a trama seja 100% previsível, mas sim que o roteiro e a direção não conseguem equilibrar a mistura de ação com não se levar a sério que deu tão certo na produção anterior. Hughes pesa a mão e o que antes era uma mistura de sátira com homenagem aos filmes dos anos 80 se torna quase paródia. Algumas sacadas são boas, como começar com o personagem de Wesley Snipes preso (o ator estava mesmo na prisão, por sonegação de impostos, uma das piadas do filme) e é perfeito usar Gibson como vilão que antes era do grupo dos mocinhos: assim como Stallone e Schwarzenegger ele era um dos “originais”, um herói de ação que foi para o lado sombrio da Força, envolvido em tantos escândalos nos últimos anos.
O embate entre a nova geração e antiga tem bons momentos, como a brincadeira com o clichê da invasão de instalações fortificadas, tão popular em filmes de ação a partir de meados dos anos 90. Mas “Os Mercenários 3” não possui aquele clima todo de festa de reencontro de formandos que marcava a segunda parte. Sem o tom certo, as atuações caricatas gritam alto, e nem o carisma de Antonio Banderas consegue ajudar com um personagem falastrão que deveria ser uma mistura de Joe Pesci com o Zorro, mas acaba sendo só chato. Harrison Ford vai de Jack Ryan a Han Solo pilotando um helicóptero, mas seu ar de “sou cool demais para isso” nunca permite que ele seja visto com alguém da turma. As cenas de ação também não são das melhores, com exceção do explosivo clímax que realmente entrega o que interessa: desafio às leis da física, à biologia e momentos espirituosos entre as personas cinematográficas de antigos astros. Entretanto, desta vez a mistura de testosterona com nostalgia traz poucas gargalhadas genuínas, e mais um sentimento de vergonha alheia.
Se não apelasse tanto para o papo furado de embate de gerações, lealdade, amizade, e todo um blá blá blá que não tem sentido, poderia ser uma boa opção para ver rostos conhecidos correndo em meio a coisas explodindo. Isso, claro, se o diretor não exagerasse na solenidade de planos grandiosos que só aumentam o incômodo. O momento em que Barney convoca seu novo time é bem exemplar de tudo que tem errado ali: situações forçadas, ritmo equivocado e ângulos bregas. Tudo bem que se tratam de mercenários, mas podiam ter tomado um pouquinho mais de cuidado com a produção antes de tentar lucrar mais uma vez com o passado.