Getúlio (2014) | |
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Direção: João Jardim Elenco: Tony Ramos, Drica Moraes, Thiago Justino, Clarisse Abujamra |
Apesar de se passar durante uma crise política histórica no ano de 1954, “Getúlio” tem mais a ver com o Brasil de hoje do que com aquele passado que mostra na tela. Enquanto dramatização dos eventos que antecederam a morte do presidente Getúlio Vargas, o filme é um thriller de gabinete (passado em sua maioria entre as paredes do Palácio do Catete) que funciona, apesar dos diálogos excessivamente didáticos.
Tony Ramos está muito bem no papel-título (mesmo que um momento “Friboi” possa gerar piadas inadvertidas) e o elenco coadjuvante dá conta do recado de encarnar figuras tão conhecidas dos livros de História. O problema é que o climão de conspiração se perde com tantas falas expositivas, somadas a letreiros explicativos e nenhuma novidade sobre um assunto que conhecemos desde o colégio. “Getúlio” está sempre um tom acima, seja nas atuações estridentes, na música exagerada, nas sombras por todos os lados ou nos planos apaixonados do Catete. E se no geral as escolhas funcionam para mostrar o presidente como “aprisionado” pelo poder, elas também acabam deixando no ar um gosto de peça de teatro filmada.
Entretanto, o que mais chama a atenção no filme são seus paralelos com o atual cenário político brasileiro. Lançado em ano eleitoral, “Getúlio” dramatiza o passado sempre de olho no presente, especialmente o escândalo do “mensalão” e as recentes manifestações. Temos um presidente que não sabia de nada, denúncias de corrupção e uma virada política que leva o povo às ruas. O diretor João Jardim dosa isso para os dois lados, e o longa tanto pode ser usado como crítica ao governo recente (o companheiro fiel do presidente é preso, ele não) quanto como defesa (nada é provado e uma sombra de inocente injustiçado paira sobre o líder retratado na tela). Além disso, Tancredo Neves (avô de um dos candidatos à presidência deste ano) possui papel importante como ministro de Getúlio, seja defendendo um golpe, seja demonstrando-se leal ao herói da história.
Enquanto cinema, temos um filme mediano que escolhe colocar a lupa sobre um período importante do Brasil. Nunca indo além do que todo mundo já sabia (a escrita da famosa carta-testamento poderia ser melhor aproveitada), possui o mérito de expandir as notas de rodapé das aulas de História, mesmo que o Jardim não possua a mão firme (e o orçamento) de um Spielberg. Mas é como arma política que “Getúlio” mostra toda a sua potência, podendo ser usada de acordo com o gosto do freguês.