The Monuments Men (2014) | |
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Direção: George Clooney Elenco: George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, Cate Blanchett |
Eu sou fascinado com a história da Mona Lisa. A técnica do Da Vinci, a obsessão de Napoleão pelo quadro, os românticos no Louvre, o roubo. Sou desses que lê biografia do Michelangelo e estuda a obra dos impressionistas. Que fica hipnotizado pelo barroco, se interessa pelas propostas dos cubistas e se diverte com a quebra de paradigmas dos modernistas.
Estou contando isso tudo porque, se tem alguém com uma predisposição para gostar de “Caçadores de Obras-Primas”, esse alguém sou eu. E eu achei chato.
A nova produção de George Clooney não é um desastre, e nem mesmo ruim. Ela é, aproveitando o tema, uma obra menor. Um filme que não se decide sobre o estilo e mensagem que quer passar. A premissa, apesar de interessante, já é complicada de abordar: fazer com que a gente se importe com quadros e esculturas em um contexto de guerra. “Nenhuma vida vale uma obra de arte”, é uma frase do filme. Por que, então, aquelas pessoas estão fazendo isso? E por que eu devo me importar? São questões que “Caçadores de Obras-Primas” não dá conta de responder satisfatoriamente. E ver um filme que não sabe o que quer é como tentar apreciar aquelas exposições pretensiosas que não dizem nada.
Baseado em uma ação real durante a II Guerra Mundial, o filme segue Frank Stokes (Clooney), responsável por comandar uma equipe em busca de obras de arte roubadas pelos nazistas e fascistas. O grupo atuou já no final da guerra, seguindo os exércitos aliados na retomada de regiões ocupadas na tentativa de encontrar arte desaparecida. Clooney começa com força total emulando o estilo de comédias de ação dos anos 50. Atores com rostos marcantes, um quase technicolor nas cores, trilha de fanfarra, estrutura episódica: tudo parece ter o propósito de nos transportar para uma matinê de 60 anos atrás.
Mas o roteiro não alcança o equilíbrio que a história exigia. Primeiro, tentando abarcar ao máximo as ações da equipe, divide a narrativa, criando núcleos paralelos que acabam servindo apenas para que um enfraqueça o outro. Depois tenta inserir uma válida discussão sobre cultura, e a forma como os regimes totalitários da época buscavam a destruição/conquista não apenas de territórios, mas também do espírito/consciência (mas não vai além de um olhar preconceito que coloca civilização e cultura como sinônimos). Por fim, a trama precisa lidar com os horrores da guerra, e neste momento o estilo de comédia antiga não casa com as tragédias mostradas, resultando em um filme que nem faz rir e nem faz chorar.
O elenco está bem, sempre em um tom exagerado para combinar com o cinemão dos anos 50. A direção é elegante, com planos bem pensados e visualmente interessantes. Há alguns momentos de tensão bem construída e vários diálogos engraçados. Mas o que impera é mesmo o desequilíbrio.
Há uma clássica questão moral que reflete todo o conceito por trás do filme: “O Louvre está em chamas. Lá dentro, além da Monalisa e de outras obras de arte, há também um gato. Mas você só pode tirar uma coisa de dentro do museu. O que você tiraria?”. O maior pecado de “Caçadores de Obras-Primas” é não perceber a força deste dilema, que tem sua impossibilidade exemplificada na mais famosa resposta à questão:
“Eu tiraria o fogo”.