Elysium (2013) | |
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Direção: Neill Blomkamp Elenco: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Alice Braga |
Neill Blomkamp, diretor de “Distrito 9”, volta às telonas com mais uma ficção científica. “Elysium” tenta repetir a fórmula de sucesso do seu predecessor: um protagonista moribundo e desesperado enfrenta um mundo futurista devastado e violento, aos poucos tornando-se menos egoísta e abrindo os olhos para a injustiça ao seu redor. Só que na nova história não há alienígenas, e os “camarões” somos nozes.
Max da Costa, interpretado por Matt Damon, é um dos pobres operários de Los Angeles no ano 2154, época em que a Terra encontra-se superpovoada e as grandes cidades tornaram-se enormes favelas. Como todo mundo no planeta, Max sonha em um dia ir morar em Elysium, a enorme e luxuosíssima estação espacial habitada pela elite bilionária que há muito abandonou o planeta para os pobretões. A infância do rapaz é apresentada através de uma sequência clichê de flashbacks com filtros do instagram e aquela chatíssima trilha sonora lamentosa, num esforço de fazer com que o espectador torça pelo mocinho que resolveu se endireitar e só quer ficar longe de encrenca até alcançar o seu sonho, através do trabalho duro. O problema é que Max sofre um acidente industrial que o deixa com apenas mais cinco dias de vida, e a tecnologia para curá-lo só existe em Elysium. Aí entra Spider, personagem do ex-Capitão-Nascimento Wagner Moura, um mafioso que vive de enviar imigrantes ilegais para a estação espacial, e que irá equipar o nosso herói com um exoesqueleto cibernético.
Com um orçamento bem maior do que o de seu primeiro filme, Bloomkamp resolve não arriscar e investe no que funcionou antes: cenários favelados, violência graficamente explícita, armas enormes, naves de guerra e trajes de combate tecnológicos. Mas se Distrito 9 chamava a atenção por ser uma abordagem “nova” sobre o sci-fi cinematográfico, Elysium acaba desapontando porque tudo parece meio familiar e previsível. Assim como “Matrix”, o filme se inspira pesadamente na obra seminal do gênero literário cyberpunk, o “Neuromancer” de William Gibson. Mas ao contrário da trilogia dos irmãos Watchowski, que extraiu da obra de Gibson o estilo e os personagens, Elysium se inspira apenas na trama: um anti-herói aceita a missão de invadir e hackear uma estação espacial que é o ápice da separação das classes sociais em troca de uma salvação cirúrgica.
E o que acaba faltando ao filme de Bloomkamp são os personagens interessantes e memoráveis. Wagner Moura até tenta, e se sai como um bom coadjuvante, mas não é suficiente para carregar o filme, com um Matt Damon apagado em um papel principal sem graça. E o pior do filme são os vilões. Jodie Foster interpreta no piloto automático uma política sem escrúpulos – e aos seus 51 anos, com os cabelos curtos, fica perturbadoramente parecida com a Xuxa. E participação do sul-africano Sharlto Copley (que interpretou o mocinho em Distrito 9) como o mercenário maluco Sr. Kruger, é simplesmente constrangedora.
Mas nem tudo é ruim. A direção de arte do filme é boa, e o design da estação espacial, das naves e das favelas gigantes remete a um estilo visto em muitos portfólios online de artistas digitais conceituados, e que até agora ainda não tinha aparecido no cinema. A influência de um gênero mais hardcore de ficção científica pode ser percebida na própria estação Elysium, que lembra os habitats orbitais descritos por Iain M. Banks ou o Ringworld de Larry Niven. Essa influência fica só no visual, porém; o filme ainda lida com a física das viagens espaciais com a mesma falta de precisão de um “Star Wars”, mostrando naves voando em órbita e pousando na superfície de Elysium como se estivessem na Terra.
Um filme de ação regular que falha como sci-fi não só pelas imprecisões científicas (que podem ser desculpadas), mas também porque evita qualquer debate sobre temas mais complexos. A separação de classes exagerada e simplificada do filme poderia servir para a discussão de problemas éticos como o dilema a respeito do uso de uma tecnologia que garante a imortalidade humana em um planeta superlotado e que não tem condições de manter a sua população, mas “Elysium” opta por ignorar essas questões, a fim de garantir uma resolução fácil e previsível para a trama.
Uma resposta para “Elysium”
Eu achei o filme previsível, mas gostei.