Les Misérables (2012) | |
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Direção: Tom Hooper Elenco: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried |
Quem não gosta de musicais deve passar longe de “Os Miseráveis”. A adaptação do espetáculo da Broadway (de Claude-Michel Schönberg, Alain Boublil e Herbert Kretzmer) que, por sua vez, é uma adaptação da obra-prima escrita por Victor Hugo em 1862, é grandiosa, longa e brega como é comum às grandes produções do gênero. Mas como é também comum aos bons exemplares deste tipo de filme, é capaz de te arrebatar.
Não que você vá se maravilhar impunemente. Para conseguir alguns bons momentos de pura magia do cinema, é preciso atravessar muita – muita mesmo – cantoria enfadonha. Além disso, o esforço de adaptação é louvável, mas não dá conta de resumir satisfatoriamente a saga de Jean Valjean, o preso que se torna um homem de bem apesar de sempre caçado pelo temido inspetor Javert.
Acertadamente o filme não apresenta a batalha de Waterloo de 1815 (como no livro), já abrindo com os destroços de navios decorrentes dali. Outra boa opção é o canto dramático, inserido na atuação: ao contrário da forma tradicional de gravação de voz dos atores em um estúdio para depois dublarem no set de filmagens, o diretor Tom Hooper captou o canto durante a cena, permitindo uma atuação muito mais realista de seu elenco. E aí quem se destaca é mesmo Hugh Jackman. O ator insere uma dramaticidade assombrosa em seu Valjean, construindo um personagem absurdamente real apesar da fantasia natural de um universo em que todos cantam o tempo inteiro.
Na mesma medida em que Jackman é ótimo, Russel Crowe é sem sal como Javert, não comprometendo, mas entregando uma atuação burocrática de um dos maiores vilões já escritos. A primeira metade de “Os Miseráveis” é claramente a melhor, correspondendo aos volumes um e dois da obra de Hugo. O problema é que à medida que a história avança (muitos) novos personagens vão sendo inseridos, impedindo que eles tenham tempo para um desenvolvimento dramático tão bom quanto os de Valjean, Javert e Fantine (e até mesmo dos Thénardiers).
Desta forma, o romance de Cosette e Marius (que fica parecendo ser apenas um revolucionário de ocasião) se dá de forma atropelada e nunca convence, assim como a preocupação de Valjean pela vida do garoto. Se na primeira parte torcemos pelos sofridos personagens, o mesmo não acontece na segunda, quando não nos importamos nem com o romance e nem com os motins de 1832.
A verdade é que se perde tempo com coisas como Éponine em uma subtrama romântica e revolucionária que torna o musical extremamente cansativo, deixando a forte relação Valjean – Javert em segundo plano. O filme engrena de novo no final, mas aí você já pode ter desistido de tanta cantoria pra nada. E se Tom Hooper acerta no grandioso, misturando o espetáculo épico com momentos da câmera perto do rosto dos atores (o que nos torna próximos daquelas pessoas perdidas em algo muito maior do que elas mesmas), por outro lado o diretor gosta muito de chamar a atenção para si mesmo, com firulas visuais que pouco acrescentam ao drama. Pois “Os Miseráveis” de Victor Hugo é sobre a diferença entre lei e justiça, uma questão que perpassa toda a história e que aqui é enfraquecida pela forma como a produção parece querer gritar “Oscar!” a todo o momento.
As coincidências entre personagens (que são ainda maiores no livro) também precisam de uma certa suspensão da descrença do espectador, assim como o onipresente Javert parece ser o único policial de toda a França. Mas tudo é perdoado quando a Fantine de Anne Hathaway está em seu momento mais triste. Hooper fecha no rosto da atriz e não faz cortes.
E o que ela faz cantando “I dreamed a dream” você nunca mais vai esquecer. É de deixar Susan Boyle arrepiada. E de arrancar, a força, lágrimas dos seus olhos.
Uma resposta para “Os Miseráveis”
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