The Hobbit: An Unexpected Journey (2012) | |
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Direção: Peter Jackson Elenco: Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Ken Stott |
“Numa toca no chão vivia um hobbit”. Assim começou uma das maiores sagas de fantasia literária. Escrito por J. R. R. Tolkien em 1937, “O Hobbit” alcançou grande sucesso como aventura infanto-juvenil, rendendo sua continuação “O Senhor dos Anéis” e dando início a todo um elaborado universo mitológico.
Nos cinemas, a sequência chegou antes do original, e com o sucesso da trilogia dirigida por Peter Jackson, o pequeno livro ganhou também não apenas um filme, mas três. “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” é a primeira parte que chega aos cinemas, dividindo e anabolizando a obra de Tolkien.
O novo filme começa no início de “A Sociedade do Anel” para então voltar 60 anos no tempo e nos apresentar um jovem Bilbo Bolseiro que parte com o mago Gandalf e uma comitiva de 13 anões para tentar recuperar a terra perdida por eles e dominada pelo dragão Smaug. “Uma Jornada Inesperada” possui um prólogo longo demais que já nos prepara para o que virá a seguir: muita encheção de lingüiça para justificar a longa duração da produção e a divisão de um livro em três filmes. É sintomático que o mesmo Peter Jackson que em 2001 acertadamente cortou Tom Bombadil, agora invista em um desnecessário Radagast, uma inexplicável batalha entre gigantes de pedra, muitas canções e vários flashbacks dentro do flashback.
O esforço para fazer uma ligação direta com os outros filmes “Senhor dos Anéis” também deixa tudo um pouco desconexo, inserindo e retirando personagens apenas para fazer uma ou outra referência ao retorno de Sauron. Os personagens “anexos”, aliás, só funcionam porque já os conhecemos e gostamos deles, mas são descartáveis na trama principal. Além disso, o filme cria um vilão para a história que não está no livro, o orc albino que só é citado nos apêndices e já estaria morto na época em que a história se passa. Ele dá um rosto e personifica o mal, mas nunca assusta e no fundo também não faria falta.
Já o diretor Peter Jackson parece escravo dos filmes anteriores: não há nenhuma originalidade na direção, abusando dos longos travelings e da sua já característica ação verticalizada. E dá-lhe anões andando pelas paisagens da Nova Zelândia e pessoas penduradas ou caindo. Depois do realismo de “Game of Thrones” na televisão era esperado algum tipo de novidade para um novo público (e até que o filme tenta, com muitas decapitações, referências a drogas e até a atividades modernas – como o golfe e o críquete – que não deveriam existir naquele universo e por isso causam uma certa estranheza), mas a aposta parece ser apenas em construir um mundo um pouco mais colorido.
O problema ao tentar dar um tom épico demais ao filme é que o livro não possui a grandiosidade de “O Senhor dos Anéis”, sendo na verdade uma leve aventura infantil. O resultado são frases ditas com imponência exagerada e uma trilha sonora que se destacam demais por não serem orgânicas à narrativa. A narração do Bilbo que desaparece sem mais nem menos também é um exemplo desse amontoado de coisas que se misturam em “Uma Jornada Inesperada” sem muita função clara.
A estrutura parecida demais com “A Sociedade do Anel” também incomoda, do início festivo no Condado, passando por uma espécie de versão das Minas de Moria (até achei que o Gandalf iria gritar “You shall not pass” de novo em cima de uma ponte) até chegar a um inevitável confronto com orcs. Pode sem interessante enquanto rima narrativa, mas esvazia o novo filme ao transformá-lo em uma sombra do anterior.
Não que “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” seja ruim. Muito pelo contrário. Apesar de todos estes problemas e de nunca impressionar como a trilogia anterior, a aventura diverte e para os já iniciados é emocionante voltar ao universo de Tolkien. O começo com a chegada dos anões é muito bem elaborado, conferindo uma dinâmica divertida para apresentar os personagens principais, contando com um timing cômico perfeito que lembra o clima das matinês da Disney. O humor, inclusive, está mais presente do que nos outros filmes (e é também mais infantil). As cenas de ação são bem feitas e o elenco todo está à vontade, com destaque para Richard Armitage como Thorin, Martin Freeman como Bilbo e Ian McKellen como Gandalf. A interação entre os dois últimos, aliás, é uma atração à parte, funcionando ao mesmo tempo como alívio cômico e base dramática.
Mas como de costume, é o Gollum de Andy Serkis quem rouba o filme. A cena do encontro entre Bilbo e a criatura talvez seja o melhor momento de “Uma Jornada Inesperada”: é tenso, engraçado, assustador e tocante. É em momentos como este que nos lembramos de que, apesar dos pesares, sempre vale a pena uma visita à Terra-Média. Ainda mais na companhia de alguns velhos – e queridos – conhecidos.
4 respostas para “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”
Vc deu quase 5 estrelas? Pela sua crítica, fica parecendo que o filme merece bem menos (por mais que vc tenha feito uma ressalva no final do texto de que o filme não é ruim. Fiquei com a impressão de que é)
O filme tem todos aqueles problemas, mas as estrelas refletem o tanto que eu gostei (apesar destes problemas). É um filme acima da média, apesar de inferior à trilogia O Senhor dos Anéis.
Achei bem inferior ao Senhor dos Anéis. A base de comparação se o Senhor dos Anéis é nota 5 daria uns 3.5 para esse filme.
[…] como um gigantesco playcenter, a continuação de “Uma Jornada Inesperada” te joga de brinquedo em brinquedo, sem importar se não necessários ou se há alguma ligação […]