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“O monge” é daqueles filmes feitos mais para serem admirados plasticamente do que apreciado como um todo. E pelo pedantismo da frase anterior, você já tem ideia se essa é a sua praia ou não. O diretor Dominik Moll (Harry chegou para ajudar) pinta – com luz, sombra e música – enquadramentos que são verdadeiras pinturas góticas e servem para ilustrar o combate (e a subversão) entre bem e mal que permeia a história. Ainda assim, isso não consegue disfarçar as raízes literárias do material, adaptado do romance de Matthew Lewis, e o longa sofre daquele mal “tenho certeza de que se estivesse lendo isso estaria gostando bem mais”.
Coprodução franco-espanhola, o filme se passa na Madrid do século XVII apesar de ser todo falado na língua de Charles De Gaulle. Frei Ambrósio é o protagonista-título que, após ser abandonado ainda bebê na porta de um monastério, passa a vida toda lá dentro. Criado pelos monges, ele se torna um dos pregadores mais famosos da região até a chegada de duas mulheres que vão abalar os pilares de sua fé.
Vincent Cassel traz a experiência de “Cisne negro” para viver outro homem dividido entre duas morenas gatíssimas. Neste caso, Valério (François), que se faz passar por homem para entrar no mosteiro e tentar o padre; e Antonia (Japy), a donzela fervorosa que termina de botar fogo na sua batina.
Moll utiliza uma paleta quase monocromática que vai do amarelo estourado ao marrom escuro. Mas em consonância com o questionamento da fé presente no romance, ele subverte expectativas. O mosteiro, lugar em teoria da iluminação e da presença do Espírito, é escuro e ameaçador, com as figuras violentas da arquitetura gótica. Já a vila ao redor, terra do paganismo, traz uma luz forte que representa os pecaminosos prazeres carnais que Ambrósio desconhece – e que atacam seus olhos despreparados.
A única cor que quebra esse padrão é, claro, o vermelho no vestido das mulheres que despertam a libido do protagonista. Compondo esse cenário da batalha entre pecado e santidade está a onipresente trilha de Alberto Iglesias que dramatiza o conflito interno de Ambrosio em cada cena e castiga (no bom sentido) o ouvido do espectador, da mesma forma que os pensamentos do frei o aterrorizam.
Todo esse apuro (áudio)visual, porém, não é capaz de suprir algumas falhas narrativas que comprometem o ritmo do filme. Uma subtrama envolvendo uma freira grávida, com o objetivo de reforçar os temas do roteiro, acaba se perdendo num emaranhado de eixos narrativos e soando desnecessária. E uma revelação-chave que deveria ser um choque no clímax do filme vai ser descoberta pelo espectador mais esperto algumas cenas antes quando o discurso de uma personagem dá uma dica nem um pouco sutil de pra onde a história está se encaminhando.
“O monge” acaba se tornando previsível e um pouco mais do mesmo romance-gótico-literário. Um quadro bonito de se olhar, mas um pecado muito pouco prazeroso de se experimentar.