As vantagens de ser invisível


Nossa avaliação

[xrr rating=4/5]

Eu já escrevi uma vez sobre como não sinto nenhuma falta da minha época de adolescente. Na ocasião, disse como assistir a “As melhores coisas do mundo” era quase uma tortura e que eu preferia o mundo ultraestilizado e utópico de “Juno”. Pois bem: “As vantagens de ser invisível” é um cruzamento desses dois universos. Os personagens, suas relações e os problemas enfrentados por eles são realistas, mas eles conversam de forma estilizada e curtem livros, filmes e músicas bem mais cool do que aqueles que você deve se lembrar dos tempos de colégio.

O diálogo adolescentemente rebuscado vem do livro homônimo de Stephen Chbosky, que também escreve e dirige a adaptação para o cinema. Seu maior mérito é construir personagens que, ainda que ultra-articulados e arquetípicos, têm as mesmas inconsistências e falhas de alguém que só viveu 15 anos.

Passada no início dos anos 90, a história acompanha o solitário Charlie (Lerman), que inicia o colegial sem nenhum amigo e com o fantasma de ter passado as últimas férias em uma clínica psiquiátrica. Tímido e assombrado por traumas de infância, ele vai encontrar refúgio no professor de literatura vivido por Paul Rudd e, especialmente, em Sam (Watson) e Patrick (Miller), dois meio-irmãos que vão se tornar seus melhores amigos.

Família.

Os dois serão a porta para um mundo que Sam chama de “a ilha dos brinquedos desajustados”, o que nada mais é que a velha divisão loser X jocks típica do filme colegial desde os idos de John Hughes. Mas a caracterização – do figurino às nostálgicas fitas K7 gravadas (rip) – de um tempo em que a dificuldade da vida escolar era mais simples, sem redes sociais e iPhones pra deixar tudo ainda pior, é de uma autenticidade que só pode ser alcançada por alguém que viveu aquilo ali.

O grande trunfo do filme, porém. é seu trio de protagonistas. Emma Watson entrega uma performance infinitamente mais rica que seus 10 anos de Harry Potter. O romantismo de sua Sam mascara as rachaduras de uma dor mais profunda, que seus olhos não conseguem esconder em determinados momentos e que contém em si o tema do filme: “nós aceitamos o amor que achamos merecer”. O mesmo vale para Ezra Miller, que já havia provado seu talento como o monstro-título de “Precisamos falar sobre o Kevin” e que vive aqui um personagem completamente diferente, mas com a mesma coragem e a ousadia de um ator veterano.

E por fim, a grande revelação do filme, Logan Lerman, que vive o protagonista Charlie com uma inocência e um olhar solitário de partir a alma. Sem seu misto perfeito de talento e carisma, “As vantagens de ser invisível” não funcionaria. O brilho nos olhos quando ele é adotado por Sam e Patrick e, mais tarde, o desespero com o medo de perdê-los é onde o filme se alicerça. É nele que Chbosky mostra que podem existir vantagens, sim, em ser invisível no colégio, mas não em ser sozinho. A única forma de sobreviver àquela selva é encontrando seu bando. E se você não tem ideia do que estou falando, provavelmente não vai curtir o filme.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

  • A gente
  • Home
  • Retro
  • Homeopatia
  • Overdose
  • Plantão
  • Receituário
  • Ressonância
  • Sem categoria
  • 2022
  • 2021
  • 2020
  • 2019
  • 2018
  • 2017
  • 2016
  • 2015
  • 2014
  • 2013
  • 2012
  • 2011