[xrr rating=4/5]
Apresentando um plano que revela um semáforo com os sinais verde e vermelho acesos ao mesmo tempo, “Apenas Uma Noite” é um longa sobre traição. Ou melhor: é sobre a possibilidade de traição. Michael (Worthington) e Joanna (Knightley) são um jovem casal que parece se entender muito bem. Mas quando o marido vai fazer uma viagem de negócios ao lado da sedutora Laura (Mendes), a mulher fica com ciúmes, certa da possibilidade do adultério. Acontece que no dia seguinte à partida do marido, Joanna reencontra um ex-namorado, o francês Alex (Canet) e a partir daí o filme se entrega ao voyeurismo de observar esta prova de fidelidade: algum dos dois cometerá o adultério? Se sim, quem será o primeiro?
Neste sentido, “Apenas Uma Noite” chega a ser perverso em sua angustiante luta contra o desejo: Michael deseja Laura assim como Joanna deseja Alex, mas ambos se amam e nunca traíram um ao outro antes. Mas desejar já não seria uma traição? Ou apenas o ato sexual configuraria o adultério? Esta discussão permeia todo o filme, que se constrói a partir de olhares, em longos planos que nos fazem tentar decifrar os pensamentos daquelas pessoas. Ajuda o elenco funcionar muito bem, com Eva Mendes estando mais à vontade do que nunca no papel de mulher-tentação (em que ela parece estar se especializando).
O diretor MassyTadjedin constrói uma atmosfera tensa usando o plano e o contraplano para “separar” os casais e em seguida os enquadra juntos, revelando uma proximidade e criando a expectativa de que algo pode acontecer ali. Além disso, os planos fechados passam a sensação do casamento como uma prisão: afinal Michael e Joanna buscam resistir às tentações porque se amam ou porque têm medo do outro descobrir?
Passado na única noite do título, o filme praticamente se desenrola todo em interiores. É a câmera invadindo as quatro paredes da intimidade daquelas pessoas e revelando, através das luzes artificiais daqueles ambientes, a artificialidade das convenções sociais, que podem ruir a qualquer momento frente à força do instinto animal. Devastador na forma como revela a hipocrisia social, “Apenas Uma Noite” coloca a possibilidade de traição não apenas como possível, mas esperada e natural, cabendo a cada um refrear – ou não – este impulso.
Em sua discussão madura sobre a monogamia (sem buscar tomar lados ou apresentar uma moral pra história), o filme ainda se debruça sobre as diferenças entre homens e mulheres, apresentando duas formas distintas de “dormir juntos” que colocam a questão: estar apaixonado por outra pessoa é uma traição menor, maior ou igual a um ato sexual exclusivamente físico? E lutar contra um desses impulsos diminui a traição?
“Apenas Uma Noite” mostra como todo relacionamento é igual àquele semáforo lá do início. Como seres humanos estamos o tempo todo livres para outras relações, mas como seres sociais estamos presos em uma convenção monogâmica. A escolha é nossa entre seguir em frente ou ficar parado, mas o que o filme deixa claro é que devemos estar preparados para as consequências. Seja qual for a decisão.