Voltamos do feriado com uma coluna que vale por duas, já que precisamos colocar as leituras em dia. E por que não aproveitar a ocasião para falar do “grande” crossover Marvel do ano, que teve suas primeiras edições lançadas nas duas últimas semanas?
“Avengers Versus X-Men” é a resposta da Marvel ao relançamento que colocou a linha de títulos da DC no topo das listas de mais vendidos, e deixou a “Distinta Concorrência” na frente da Casa das Ideias pela primeira vez em muitos anos. Não só “Justice League” tem sido a revista mais vendida dos últimos seis meses, como vários títulos da DC superam os títulos mais populares da Marvel, incluindo “Aquaman”!
E a solução encontrada pelo editor-chefe Axel Alonso foi, aparentemente, outra “grande saga” – o que, convenhamos, já é uma tradição praticamente anual desde “Civil War”. A diferença é que aqui a Marvel investiu em ações de marketing bastante agressivas, com festas de lançamento à meia-noite e um programa de distribuição bastante polêmico, que praticamente força os jornaleiros a adquirirem quantidades enormes dos títulos. Resultado disso é que as primeiras edições de “AvsX” (como o crossover foi apelidado) conseguiram superar “Justice League” em número de títulos vendidos. Curiosamente, a revista da Liga da Justiça arrecadou mais grana, mesmo tendo o mesmo preço de “Avengers Versus X-Men” – isso porque os donos de comic shops nos E.U.A. descobriram que teriam lucro mesmo se dessem a revista de graça!
Marketing à parte, o que podemos dizer sobre a trama? Ela começa em “Avengers Versus X-Men #0”, uma edição dividida em duas estórias. A primeira foca na tentativa da Feiticeira Escarlate se restabelecer como heroína, e no encontro desconfortável com seus ex-companheiros de equipe, incluindo o ex-marido andróide Visão. É uma típica história dos Vingadores por Brian Bendis, com muita conversa e pouco desenvolvimento. O destaque vai para a arte de Frank Cho (que desenha as duas estórias). O ilustrador, sempre competente em retratar figuras femininas, consegue a façanha de fazer com que o ridículo uniforme da Feiticeira não pareça tão ruim. Entretanto, a capa da edição, feita por Cho, ficou conhecida na internet como a “capa da vagina gigante”, pelo modo infeliz como a capa da heroína foi desenhada.
A segunda estória, escrita por Jason Aaron, foca em Hope Summers e seu relacionamento tenso com o líder dos X-Men, Ciclope. É uma estória mais completa, e cumpre muito bem o papel de apresentar a personagem para os leitores que não seguiram a franquia X nos últimos cinco ou seis anos, além de estabelecer o ponto central do conflito entre as duas equipes: a possibilidade de que, muito em breve, Hope se tornará a hospedeira da força cósmica conhecida como Fênix.
Mas o crossover começa mesmo em “Avengers Versus X-Men #1”, sob o roteiro de Brian Bendis e a arte de John Romita Jr. Deixando de lado a discussão sobre a arte (Romita é um bom artista, mas não é todo mundo que gosta do seu estilo), a escrita “descomprimida” de Bendis dá a impressão de que você acabou de assistir os dez primeiros minutos de um filme. Particularmente decepcionante se você não for um dos leitores que ganharam a edição de graça.
A equipe criativa e os editores vinham prometendo que, tal como em “Civil War”, a disputa entre as duas equipes seria polêmica e a revista não “tomaria partido”, deixando que o leitor escolhesse de que lado ficar. Mas tal como em “Civil War”, o tratamento do “conflito” estabelece claramente um lado como o “vilão” da estória, mesmo que não propositalmente. Os Vingadores, preocupados com a “arma de destruição em massa” do inimigo, servem como uma metáfora muito evidente da posição dos E.U.A. no cenário global, enquanto que os X-Men são, basicamente, o Irã.
E se a primeira edição desaponta, pelo menos ela vem com um bônus: acesso a uma edição digital do novo formato “Infinite Comics”, com uma estória escrita por Mark Waid e desenhada por Stuart Immonen (ambos mais competentes que a equipe responsável pelo crossover), narrando o retorno desesperado do herói Nova à Terra, para avisar os vingadores da chegada da Fênix. O legal dessa nova iniciativa é que a história é criada especificamente para a visualização no formato digital, com transições animadas entre os quadrinhos e recursos de Realidade Aumentada. Quem dera toda a saga fosse feita assim!