Metáforas, realidade e ratos


Quando aceitei fazer está coluna vi uma ótima oportunidade de revisitar a leitura de alguns quadrinhos que gosto muito e, durante esse novo passeio, conseguir relacionar o meu atual cotidiano com essas histórias escritas há algum tempo. Então, me deparei mais uma vez com Os Pequenos Guardiões, de David Petersen, que veio me mostrar como a ficção e a realidade andam de mãos juntas e com passos tão análogos.

Sua piscina está cheia

Os Pequenos Guardiões é uma minissérie de 6 edições, lançada em 2006 nos Estados Unidos e vencedora de dois prêmios Eisner. Aqui no brasil, a série foi lançada pela Editora Conrad em 2008. Uma continuação com o pós-título de Winter 1152, foi lançada nos EUA, mas nunca chegou por aqui.

Com uma forte referência no universo medieval, a trama segue a história de três ratos guardiões (uma espécie de classe de soldados), Lieam, Kenzie e Saxon. Os três estão investigando o desaparecimento de um mercador vendedor de grãos que desaparece durante uma viagem e ter duas cidades. Ao encontrar o mercador, morto comido por uma cobra, eles descobrem que o comerciante fazia parte de um esquema de conspiração que tramava um golpe de Estado.

Mascarado de história infanto-juvenil, com ratinhos como protagonistas, Os Pequenos Guardiões não faziam ideia de que iam dialogar tanto com os futuros anos que chegariam. Tanto a situação política que os Estados Unidos viveram, como a que estamos vivendo agora no brasil.

Que rói a roupa

Alegorias e metáforas à parte, o grande vilão da história, um rato que descobriu onde estava um machado lendário, artefato que foi uma arma antiga de um grande protetor do reino, o Machado Negro. Esse novo portador do machado juntou um fiel grupo de seguidores e prometendo patriotismo e segurança a favor da raça dos ratos, começa a maquinar um ataque contra a rainha.

Esse grupo extremo, uniformizado com roupas de executores medievais, bradam que o reino precisa de proteção. Proteção contra as cobras, contra as doninhas, lobos e outros predadores. E aos gritos que buscam hegemonia de uma raça, não se importam em pisar nos outros para chegar aos seus interesses.

Os ratos que seguem o novo portador do machado lendário se tornaram tão cruéis predadores quando aos outros animais que eles julgam ser maus. Mesmo sabendo dos perigos que estão fora do reino, os Guardiões escolhem proteger a rainha contra esse grupo extremo.

Entre nos sapatos

Ver essa metáfora quase que estampada em um conto de fadas, praticamente uma fábula, me deixa sempre pensativo. Penso em quantas pessoas que leram Os Pequenos Guardiões e escolheram votar, tanto aqui como nos EUA, naqueles que gritavam vestindo-se se executores. Não digo aqueles que realmente são mau-caráter e que apoiam, mas que foram arrastados pela turba e a onda de uma massa inteira.

Os Pequenos Guardiões é uma história fácil de ler, cheia de significados e profunda, mas que com seus personagens fantásticos lembra muito as histórias infantis e sua moral educa. Claro que talvez não sejam todos que interiorizem as histórias ditas nas ficções, mas torço para mais Pequenos Guardiões sejam escritos.

Aliás, um filme chegou a ser anunciado pela Fox, mas foi engavetado assim que a empresa foi comprada pela Disney. Então, quem sabe uma nova editora lança novamente a minissérie por aqui e sua continuação para que frases como esta seja repetida e lida por mais pessoas: “Não importa contra o que se luta. Mas pelo que se luta”. Quem sabe a ficha cai e começamos a fazer melhores escolhas.

Tico Pedrosa é publicitário, roteirista, escritor, professor e criador de conteúdo. Fã de quadrinho desde sempre. Você pode conferir as ideias dele no instagram e twitter.


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