Baby Driver (2017) | |
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Direção: Edgar Wright Elenco: Ansel Elgort, Jon Bernthal, Jon Hamm, Eiza González |
Os personagens dos filmes de Edgar Wright sempre parecem ter total consciência de estar em uma obra hollywoodiana. Não que quebrem a quarta parede de maneira clara, mas se portam como se soubessem que tem uma câmera atrás deles e uma plateia vouyer os observando constantemente. Eles posam para a câmera, dizem frases de efeitos e se comportam como… personagens de ficção e não pessoas de carne e osso. O talento de Wright está em levar esse tom farsesco ao limite entre o clichê e a paródia, tratando o falso com tal naturalidade que ele se torna crível e divertido. “Em Ritmo de Fuga” é um filme-de-ação-de-assalto-e-fuga que deixa muito claro pretender ser exatamente isso: um filme. De ação. De assalto. E de fuga.
A história é o clichê básico desse tipo de obra: um motorista super talentoso, mas de coração bom, é obrigado a participar de vários roubos, sempre à espera do famoso último trabalho. Nesse caso, é um adolescente, Baby (Elgort), que trabalha para um criminoso (Spacey) com gangues randômicas ao mesmo tempo em que se apaixona por uma garçonete (James) e quer mudar de vida. Nenhuma novidade e a proposta é essa mesma. O filme brinca com os arquétipos desse tipo de produção, com personagens assumidamente exagerados e cenas de perseguição eletrizantes. É engraçado, é dinâmico e é cool. E é quase um musical.
Wright parece querer fazer um filme todo igual à sua sequência de “Todo Mundo Quase Morto” em que sobreviventes em um pub enfrentam zumbis ao som do Queen. Usar a música pop como parte fundamental das cenas não é novidade para o diretor, mas aqui elas adquirem um algo a mais: Baby praticamente só existe ouvindo música, e a trilha sonora da sua vida é o que dá ritmo às mais variadas cenas. É como se um personagem de um filme escutasse a música-tema que o acompanha e resolvesse ditar suas ações de acordo com o trecho da música que estivesse tocando. É metalinguagem, é paródia, é homenagem, e é delicioso.
Mas nem tudo é perfeito e “Em Ritmo de Fuga” dá alguns escorregões exatamente nessa hora de tentar equilibrar os clichês: a história da mãe de Baby e o final “A Morte Pede Carona” encontra “Sexta-Feira 13” se alongam além da medida e começam a cansar. Além disso, o filme, consciente de que é um filme e precisa acabar, não parece saber como deve terminar. E o final – ou finais – se estende para além do necessário. É curioso que um filme que dependa tanto da música (como o próprio título nacional faz questão de lembrar) tenha problema de ritmo, mas é a consequência de alguns riscos que o diretor resolve correr. “Em Ritmo de Fuga” funciona bem na maioria do tempo, mas quando cai na tentação de nos lembrar demais que é um filme, quebra a imersão e permitir ao espectador se perguntar quanto falta pra acabar.