La La Land (2016) | |
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Direção: Damien Chazelle Elenco: Ryan Gosling, Emma Stone, Amiée Conn, Terry Walters |
A vida não é um musical. Essa expressão diz muito desse gênero conhecido por romances água com açúcar em que a música serve para indicar o estado de espírito dos personagens e todo mundo para tudo para cantar e dançar. É como se todos os problemas fossem esquecidos pela música e o mundo ficasse perfeito naqueles minutos. Definitivamente, a vida não é um musical, e “La La Land” faz questão de nos lembrar isso.
Funcionando como uma grande homenagem à Hollywood dos anos 30, 40 e 50, o filme mostra uma Los Angeles idealizada (os “la la” do título se referem não apenas ao cantarolar de uma canção, mas também às iniciais da cidade do cinema), que o personagem de Ryan Gosling (Seb) em determinado momento critica: “É o estilo de Los Angeles, venerar tudo e não valorizar nada”. Pois os grandes ícones do cinema estão onipresentes durante todo o filme, observando os personagens em murais enormes espalhados por essa cidade de veneração a ídolos imortais. Mas há algo de impessoal demais nos espaços vazios de uma LA que produz sonhos para exportação, e “La La Land” busca ocupar esses espaços cotidianos com som e dança desde sua sensacional sequência de abertura.
Tudo muito exagerado e cafona do jeito que tem que ser, com dois atores se esforçando para cantar e dançar, trazendo mais uma vez o elemento humano para a cidade do performático. Pois se o musical é o casamento do cinema com a música, a aspirante a atriz Mia (Stone) representa Hollywood, enquanto o jazzista Seb é o próprio elemento sonoro da parceira. O relacionamento entre os dois constrói o musical como forma de exaltação da alegria – não é por acaso que a música vai diminuindo consideravelmente nos momentos mais dramáticos da obra – e a jornada do casal pelas estações do ano acaba por refletir o percurso histórico desse gênero atualmente “venerado, mas não valorizado” dentro da indústria.
“La La Land” é um filme pra se sentir bem, pra dar vontade de cantar e dançar do nada no meio da rua ou na fila do banco. Assim como no musical a música esconde os problemas da vida, no filme esse clima agradável esconde alguns de seus problemas estruturais, como números musicais não muito elaborados e algumas questões mais complexas (a valorização excessiva do ser “aceito” pelos estúdios ou o caucasiano como representante do jazz verdadeiro). Mas se Hollywood é uma fábrica de ilusões, um musical é a admissão sem culpa desse mundo de fantasias, e “La La Land” cumpre com rigor o objetivo de permitir uns bons momentos de fuga da realidade na sala escura do cinema. E de escancarar ao final que a vida não é mesmo um musical.