Spotlight (2015) | |
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Direção: Tom McCarthy Elenco: Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, Liev Schreiber |
“Spotlight” é o tipo de filme que faz a pessoas quererem ser jornalistas. Mesmo que talvez este jornalismo mostrado no filme não exista mais. O título se refere a uma equipe real do jornal Boston Globe que, em 2001, fez uma longa e difícil reportagem que culminou na divulgação de casos de pedofilia na Igreja Católica e nas tentativas da mesma em esconder estes casos. Já no início ficamos sabendo que o grupo do Spotlight (quatro jornalistas) trabalhava às vezes mais de um ano em uma mesma matéria, tendo tempo e recursos para longas investigações. Nada mais distante do jornalismo online dos cliques efêmeros e sede por dar em primeira mão a notícia (qualquer notícia), ao invés de se aprofundar ao máximo nos fatos antes de divulgá-los.
É com este gostinho de nostalgia recente que o diretor Tom McCarthy segura o excelente elenco em um thriller que a cada cena nos faz mais lembrar de “Todos os Homens do Presidente” (uma curiosidade: o personagem de John Slattery, Ben Bradlee Jr. – editor do Boston Globe – é filho do Ben Bradlee editor do Washington Post vivido por Jason Robards no na obra sobre a investigação do Watergate). É um filme de segredos e descobertas onde o público é colocado ao lado dos jornalistas, e McCarthy vai nos entregando aquilo que seus personagens também recebem. Desta forma, os relatos das vítimas não são dramatizados em flashbacks, mas contados de forma dura e dolorosa através da verbalização do passado, colocando-nos na situação passiva de não poder fazer nada para impedir que aquilo tenha ocorrido.
A estratégia funciona e o roteiro nos dá em cada personagem nossa chance de catarse, seja pela explosão de raiva ou pelo alívio do trabalho concluído. “Spotlight” reconhece estar lidando com uma história por si só complexa demais e, assim, para evitar muitas delongas com o desenvolvimento de seus personagens divide as variáveis emocionais e temáticas das personalidades ao longo de todo o grupo. Assim, Robby (Keaton) é o frio implacável, Sacha (McAdams) a calma atenciosa, Mike (Ruffalo) o cão de caça emotivo e Matt (James) o profissional cauteloso (mas todos com nuances de que não são só isso). E o quarteto fantástico é amparado pela cobrança de Ben (Slattery) e a persistência de Marty (Schreiber), recém-chegado à chefia do jornal.
Some-se a isso uma câmera que evita chamar a atenção para si mesma, deixando os personagens e a história conectarem-se com o público de forma a nos prender na cadeira do cinema mesmo que conheçamos o desfecho daquele trabalho, divulgado amplamente em todo mundo. “Spotlight” significa holofote, jogar luz em algo obscuro. E é este processo de investigação jornalística que o filme narra tão bem. Mas há uma certa melancolia em perceber que, talvez, “Spotlight” trate das últimas luzes antes do holofote se apagar para ser substituído pelo brilho digital dos cliques rápidos nas telas dos celulares.