The Imitation Game (2014) | |
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Direção: Morten Tyldum Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Rory Kinnear |
“O Jogo da Imitação” é um belo exemplo dos jogos decodificados da própria arte cinematográfica: contar uma tragédia como ato heroico, deixando o espectador ir para casa após os textos finais com a sensação de que tudo deu certo. A tragédia, no caso, é a vida de Alan Turing, gênio da matemática que ajudou os ingleses a decifrarem a máquina criptografada de Hitler, tendo papel decisivo no fim da II Guerra Mundial.
Mas o filme não parece se decidir entre os esforços heroicos de Turing e sua equipe ou discutir sua biografia a partir de sua orientação sexual: Turing era gay, o que era crime na Inglaterra da época. Por esta perspectiva, a grande ideia do longa é que toda a capacidade do personagem em descriptografar mensagens esta ligada à sua própria necessidade de criptografar sua sexualidade. O título “Jogo da Imitação” já dá a dica em seu duplo sentido: para a sobrevivência é preciso não apenas aprender a imitar a máquina nazista, mas também aprender a imitar o comportamento hétero padrão.
Uma proposta riquíssima que o diretor Morten Tyldum desperdiça se entregando a todos os clichês deste tipo de drama de guerra, com direito ao time formado pelas personalidades conflitantes, o general que parece querer sabotar seu próprio trabalho e a Keira Knightley. Benedict Cumberbatch faz seu Turing como um Sherlock Holmes mais humano (dentro do possível), enquanto Knightley se entrega ao exagero para compor Joan Clarke, a única mulher presente no grupo de decodificadores em uma era, pra variar, machista. Mas as duas atuações combinam com o tom alto de todo o filme, em que tudo precisa ser grandioso demais.
“O Jogo da Imitação” envolve e consegue nos fazer se importar com seus personagens (muito graças à simpatia de Cumberbatch, que traz carisma para um personagem que poderia ser apenas chato e cansativo). Mas quando chega a hora de encontrar seu cerne e tocar de forma aberta no tema que perpassa toda a narrativa, Tyldun nos dá uma cena de diálogo de novela ao final, em uma tentativa de ser ao mesmo tempo o mais didático e o menos chocante possível. Faltou ao filme acreditar mais nos ideias de coragem e aceitação de identidade que sua própria história propõe.
3 respostas para “O Jogo da Imitação”
Resenha muito boa, sucinta mas com uma leitura interessante do roteiro.
Gostei muito do site. Aprecio o seu trabalho.
Parabéns!