The Amazing Spider-Man 2 (2014) | |
---|---|
Direção: Marc Webb Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dane DeHaan |
Talvez o mais justo fosse julgar “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro” pelos seus próprios méritos, sem mencionar outros filmes de super-herói. Só que isso é muito difícil, porque afinal se trata do segundo filme da segunda franquia do aracnídeo nas telonas* – a estória do cabeça-de-teia foi “zerada” a partir do filme anterior com novos atores (Andrew Garfield e Emma Stone) e um novo diretor (Marc Webb). A boa notícia é que “Espetacular 2” se sai muito bem nessa comparação, e pode ser considerado o melhor filme do Homem-Aranha já feito.**
Nessa versão 2.2 da saga, Peter Parker (Garfield) está no auge da sua atuação heróica – a cidade de Nova York o ama (com a exceção tradicional de J. Jonah Jameson, o editor de um dos principais tablóides da cidade, que não aparece no filme mas recebe menções) – e ele enfrenta um triplo desafio: o dilema entre a sua relação com a fofíssima Gwen Stacy (Emma Stone) e a promessa feita ao pai da garota no último filme de que não a colocaria em perigo; o ressurgimento do amigo de infância Harry Osborn (Dane DeHaan), que reacende o mistério em torno das descobertas científicas do pai desaparecido do herói; e o surgimento do novo e poderosíssimo vilão Electro (Jamie Foxx).
A menção a Jameson é uma dentre várias referências a elementos presentes nas histórias em quadrinhos do Aranha que os fãs irão apreciar. Há menções ao Instituto Ravencroft, Felicia Hardy e Alistair Smythe, referências bem óbvias ao Abutre e ao Dr. Octopus, e uma ponta solta que pode levar à presença futura de Venom. Fãs mais xiitas podem até chiar com algumas liberdades, como o fato de que os vilões Electro e Rino (Paul Giamatti, em uma participação muito pequena) não se assemelham às suas versões tradicionais.*** No entanto, depois do sucesso do universo Marvel cinematográfico, que soube equilibrar muito bem fidelidade e inovação, é provável que os fãs tenham aprendido a apreciar adaptações desse tipo.
Uma mudança notável e muito bem-vinda em relação às HQs é a personagem de Stone. A Gwen Stacy dos quadrinhos, apesar de bela e doce, não passava de um objeto a ser “roubado” pelos vilões para atingir o herói. Aqui ela escapa do clichê da “mocinha-refém” e se torna uma personagem voluntariosa e capaz, assumindo para si responsabilidades mesmo sem grandes poderes. E a química entre Stone e Garfield é um dos pontos fortes do filme, permitindo que a relação do casal seja tão central para a narrativa quanto as várias outras tramas paralelas. O melhor momento do filme é aquele em que Peter atravessa distraído uma rua movimentada com os olhos fixos na garota, guiado apenas pelo seu aguçado “sentido de aranha” para evitar os carros – sintoma de uma qualidade muito típica do Aracnídeo: atormentado pelos dilemas pessoais, ele em geral se mostra indiferente aos demais dramas da narrativa, até que as tramas convergem de forma trágica no clímax.
“Espetacular 2” é o melhor filme do Aranha e Andrew Garfield o melhor Homem-Aranha: não só ele fica melhor no traje (em sua versão mais fiel à dos quadrinhos até agora), como consegue enfrentar os adversários com o humor irreverente típico das HQs. Apesar disso, nem tudo dá certo, e o filme tem seus furos e pontos baixos: muita coisa funciona por uma lógica simplificada típica dos quadrinhos da “Era de Prata”, desde a trama em torno de uma implausível usina elétrica futurista até os conflitos administrativos absurdos da empresa OsCorp. Além disso, a atuação de Jamie Foxx como o tímido e perturbado engenheiro Max Dillon faz lembrar de Jim Carrey como o Charada em “Batman Eternamente”, e nada que lembra “Batman Eternamente” é bom. Depois da metamorfose, no entanto, Foxx se sai muito bem: seu Electro é ameaçador, embora se pareça muito com o Dr. Manhattan de “Watchmen”, e as suas lutas com o Aranha são dignas de serem vistas em 3D. Em suma, “espetacular” é um adjetivo muito mais adequado a este filme do que a seu predecessor, mas defini-lo como espetáculo pode ser tanto um elogio quanto uma crítica.
* Há também o filme de 1977 que não entra na conta porque: A) foi feito para a TV e B) era horrível.
** Inclusive contando com o filme de 1977.
*** Mas são baseados nas versões do selo “Ultimate”, uma linha paralela com uma proposta mais “contemporânea”, e que coexiste com a narrativa “clássica” que teve início na década de 1960.