A season finale de “Looking” encontrou seus personagens em duas divisões de duas categorias cada: bons amigos e maus amigos; e aqueles que querem falar e os que não querem. E isso foi o que tornou o episódio quase perfeito porque retomou a ideia desenvolvida no início, de que amizade é mais forte que namoro, especialmente em círculos gays. E falar – realmente “falar” – ser sincero é uma conquista desajeitada e perigosa, e denota uma intimidade diferente daquela buscada no sexo – outro tema forte da série.
Frank cansou de ser o bom amigo de Agustín e não quer conversar. Porque ele sabe que, se abrir a boca, toda a acidez venenosa que ele vem engolindo do parceiro vai sair de uma vez só. É o que acontece quando o namorado força a DR. E a sinceridade de Frank é tão cirúrgica e cruel que merece um parágrafo só para ela:
“Você não sabe quem é. Você não é a pessoa que acha que é. E definitivamente não é quem eu achava que estava namorando esse tempo todo. A bagunça que você aprontou com o michê? Não é nada mais que o resultado do tédio de um garoto mimado. E vamos ser honestos, você nunca vai ser um artista. E se você algum dia se comprometer com alguma coisa, vai ser no máximo medíocre. Deixe a chave debaixo do tapete.”
A primeira parte é verdade. A segunda merece palmas (ou o Tocantins inteiro). E a terceira é só para torcer a faca. E aquele unicórnio ridículo do segundo episódio? Está ali para tornar a mensagem ainda mais dolorida.
Agustín, para variar, é um mau amigo e fica chapado com uma pílula no caminho para a noite-teste do frango de Dom. Ele quer conversar, mas da sua boca só sai veneno (ainda que involuntário), como “cadê todo mundo?” quando chega no restaurante. Sua intimidade é sanguessuga, codependente e um tanto invejosa. Drogado e imaturo, Augie só consegue provocar Patrick sobre o beijo de Kevin, como um amigo adolescente com péssimos conselhos, e sua única opção é retroceder ao modo anterior: voltar a morar com o protagonista e ver maratonas de “Golden Girls” nos sábados à tarde.
Patrick é um ótimo amigo para Agustín, dando água, comida e evitando um vexame ainda maior. Ele quer conversar. Só que, similar-porém-diferente de Frank, Richie cansou de ser o bom amigo, tem medo do que vai dizer e se controla, simplesmente pedindo espaço.
Kevin quer conversar, mas é um péssimo amigo. Ele é egoísta e manipulador emocional. Então, quando o protagonista se recusa a discutir o beijo do episódio passado, o inglês arruma uma desculpa falsa de trabalho para atrair o empregado no meio da inauguração de Dom. E dispara a seguinte frase:
“Do you know how much effort it takes not to kiss the shit out of you everyday?”
Agora, atenção, amigos, para o fato de que ele diz isso COM O SOTAQUE BRITÂNICO MAIS SEXY DO UNIVERSO. E Patrick acha que Richie não vai voltar. E a química de Jonathan Groff e Russell Tovey é algo fora dessa dimensão. E então, entre gritos de euforia e advertência do público, eles fodem. Ou Kevin fode Patrick. Que não quis ser passivo com Richie. E depois de satisfeito, o inglês diz simplesmente “I don’t know”, enquanto Patrick encontra seu escapulário enrolado na camisa (detalhe que só percebi depois de ler este ótimo texto). Porque, né, largar o namorado alto-e-gato pra quê, agora que Kevin sabe que a porta está aberta?
Dom quer conversar, após ter sido um péssimo amigo no episódio passado. Mas Lynn não está a fim e chega na noite do frango acompanhado de um gato com muito mais pelo facial que nosso bigode. Doris prova, mais uma vez, que é a melhor amiga desse show e testa o humor de Dom sobre a situação – sacando que ele não está brincando a respeito de Lynn.
Então, ela vai até o gatão grisalho e pede para ele dar uma chance ao amigo. E quando nada mais funciona, Doris diz “he’s worth it”. Porque isso, meus caros, é o porquê de precisarmos de amigos de verdade. No fim da noite, Dom cansa de ser amigo, percebe que não precisa ser sempre o cara com mais poder na relação, e diz “eu gosto de você, porra” com um beijo lindo de morrer.
Patrick chega em casa e encontra, claro, Richie. Que faz o discurso mais Richie do mundo, sintetizado com “I’m about to fall in love with you. But I don’t think you’re ready”. E por mais babaca que Kevin tenha sido, o que ele fez pelo menos prova para o protagonista que isso é verdade. Patrick se sente envergonhado e culpado, mas não só por ter trepado com o chefe (they were ON A BREAK #friendsforever). Mas porque percebe que ele não é tão bom quanto gosta de pensar que é.
O que mais me agradou nesta season finale de “Looking” é que, pela primeira vez, eu tive certeza de que estava sofrendo e torcendo pelos personagens porque me importo com eles. E não simplesmente porque me identifico com as situações. Com “Looking glass”, Andrew Haigh e Michael Lannan provam que o tempo realista que tomaram para desenvolver esses personagens realmente fez com que nós os enxergássemos, não como heróis, mas como seres humanos altamente imperfeitos que nós queremos ver melhorar. E felizes. Como se fossem amigos de verdade. Se a série tivesse terminado aqui, eu estaria MUITO triste. Que venha a segunda temporada. Logo.