Bem vindos ao outro lado do lado do arco-íris, meus companheiros “Looking”-lookers. Um lugar em que Patrick é a pessoa mais madura em um momento de tensão sexual desconfortável. Dom termina o episódio com uma perspectiva profissional, em vez de sexo casual. E Agustín não esconde nada de Frank e tem um projeto de trabalho interessante!
Não vou dizer que esse tenha sido um episódio extremamente divertido ou bem escrito. Mas não posso negar que o passo adiante com os personagens que pedi na semana passada foi atendido aqui.
O título do episódio vem, claro, do garoto de programa que Agustín conheceu na semana passada, C.J. (T.J. Linnard), e que eles encontram novamente neste. E é de uma fala dele que parece vir o tema de “Looking for $ 220/hour”. C.J. diz que seus clientes buscam nele o que não conseguem encontrar em seus parceiros. E o episódio foi totalmente sobre a impossibilidade de encontrar TUDO de que a gente precisa em uma única pessoa – e como lidar com isso.
Patrick está trabalhando num domingo com seu chefe-gato-inglês Kevin para melhorar o tal jogo “Naval Destroyer”. É bem claro que a animosidade do encontro inicial (como era de se prever) se tornou em um flerte capaz de produzir faíscas no espaço. Kevin preenche quase impecavelmente o perfil perfeitinho que o protagonista idealiza. E quando os dois vão para a janela ver o movimento da Folsom Street Fair – uma espécie de parada gay couro/S&M de São Francisco – é a primeira vez que vemos Patrick flertar natural e confortavelmente, sem tentar demais, sem querer ser o que não é ou esconder o que é (gay fact # 1 Maybe I do have assless chaps… or maybe I do).
E Kevin (pausa rápida: a cara que ele faz quando Patrick pergunta se ele quer ir à parada>>>EU<<<), por sua vez, bota lenha no moço, falando dos problemas de seu namoro à distância e sugerindo que eles peçam comida… Tanto que, no final, eu achei que Patrick fosse mesmo ceder e trepar com o moço. Mas não. Ele escuta a verdade que Agustín havia apontado momentos antes – Kevin flerta, se diverte e depois volta pro namorado – e vê que o cara pode ser inglês, gato, charmoso. Mas não pode ofertar o que o protagonista realmente deseja. Então, ele vai embora, encontra os amigos e acaba esbarrando em Richie. E esse novo Patrick, que não tenta demais, não força a barra e é sincero consegue uma segunda chance com o moço.
Já Dom vai atrás de Lynn (Scott Bakula), o cinquentão que conheceu na sauna do último episódio, atrás de conselhos empresariais. Ele convida o florista para um almoço e os dois têm uma conversa fácil, madura, natural… até o dinheiro entrar no meio e Lynn observar que não se trata mesmo de um encontro.
Dom fica sem graça porque o cara é exatamente do que ele precisa nesse momento na sua vida, mas o garçom ainda gosta de ser o garotão gostosão que pega gatinhos mais novos. Ele quer a estabilidade que um relacionamento com Lynn proporcionaria (gay fact # 2 I want you to taste my chicken), mas mantendo seu apetite pegador por fora. Dom tem cara de homem, mas ainda é um meninão.
E depois da crise da semana anterior, Agustín parece de repente ser o mais consciente de suas questões dentre o trio protagonista. Ele sabe que não está totalmente pronto para um “casamento” com Frank. Sabe que tem um desejo e curiosidade por algo mais que uma simples vida a dois. E sabe que sua criatividade artística está numa seca.
Então, ele junta tudo isso num projeto e vai atrás de C.J. – gay fact # 3 experimenta algo que provavelmente lhe fará mal (carne) – e propõe acompanhar o garoto de programa para um estudo sobre intimidade (algo muito parecido com a trama de “Weekend”, filme do co-criador Andrew Haigh, por sinal). Pelo menos, Frank está por dentro da ideia, o que pode significar (como a expressão incógnita de Patrick ao ver os dois indica) que o entendimento do casal está a milhões de anos-luz do que a gente pode pensar em compreender.
Como eu disse, esse não foi um episódio sensacional. Nem muito engraçado, nem emocionante. Foi apenas correto. E parece ser essa linguagem tão próxima da realidade que não está agradando a maioria. O espetáculo visual e as piadas que poderiam ter surgido de uma parada S&M deram lugar uma familiaridade intimista. O desencontro de Patrick e Kevin foi de uma sutileza exemplar. A gag visual de Patrick com colete de couro foi engraçada por 10 segundos, mas não rendeu nada demais. A enfermeira legal parece ter um amigo ruivo que vai do nada pro lugar nenhum. E até a forma de filmar a beleza estonteante de C.J. foi respeitosa, focando na atuação e no rosto do moço.
São exemplos de como “Looking” está fazendo exatamente o contrário do que se considera “boa” televisão. Ou televisão engraçada. É ousado e refrescantemente realista, mas tenho receio de que possa vir a lhe custar uma segunda temporada.
4 respostas para “Looking 1×04 – Looking for $ 220/hour”
Olá! Novamente, ótimas impressões sobre o episódio! Contudo,acho que você está equivocado quanto ao Agustín e o Frank. No almoço com o CJ, ele diz que vai cobrar 220 por hora, transando ou não com o Agustín. O Patrick até faz a observação: “Você sabe que acabou de contratar um prostituto, certo?” haha. E no bar, quando o Frank pergunta como foi com o CJ o Agustín fala que foi tudo bem e que ele está dentro. O Frank pergunta “e como você conseguiu?”, ele responde “Ele curtiu. Gostou da ideia” Daí a expressão incógnita do Patrick, ao ver que o Agustín tá mentindo pro Frank. HEHE. O que você acha?
Eu acho que os dois, o Agustín e o Frank, acreditam que têm tudo sob controle. E que eles estão, na verdade, flertado com o perigo – o que é um reflexo dessa incerteza dos dois quanto a se comprometer totalmente um com o outro e com o relacionamento deles. Enfim, a coisa toda é uma receita para o desastre. Mas Looking já mostrou que nunca vai seguir o caminho que a gente espera, especialmente com essa história. Então… aguardemos.
Verdade. Receita para o desastre, rsrs. Iremos acompanhar.
PS: web-série “Hunting Season”, gostaria das suas impressões qualquer dia. Se tiver interesse, tem ela toda no site oficial.
Pois é, acho mesmo que houve um pequeno engano aí. O episódio pinta o Augustín como um hipócrita, reprovando o comportamento do Patrick para com o novo chefe e, mais tarde, mentindo para si mesmo (sobre estar interessado no prostituto apenas de um ponto de vista artístico – “Yeah, yeah, that’s what all the artists say because they just want to fuck me”) e para o namorado (sobre o dinheiro que o rapaz lhe irá cobrar). Ao meu ver, Augustín é o mais perdido dos três amigos, e por isso estou bastante interessado no que será dele até o fim da temporada.