Estava preparado para decretar este como o primeiro episódio fraco de “Looking”. Até a última cena entre Patrick e Agustín, em que o primeiro finalmente se dá conta de seu problema (que também acomete em parte os dois outros protagonistas): “I don’t know if any of us is very good at being who we think we are. We need to try a little harder”.
Dessa desconexão entre o que o trio de protagonistas acha/quer ser e o que eles realmente são, vem o título “Looking”, com seus vários significados: buscar, parecer, enxergar(se). A cena, ao mesmo tempo, foi a melhor do episódio e explicou por que esta foi a meia hora mais fraca da série até agora: “Looking at your browser history” foi a mera conclusão de um primeiro ato, a resolução de situações e a chegada a conclusões que poderiam/deveriam ter acontecido no final do episódio passado.
Da cena inicial, o capítulo já parecia repetir beats que já vimos até agora. Patrick chega na festa de lançamento do novo game de sua empresa cheio da sua empolgação inocente – aquela que já se provou encantadora no início e assustadora no final. Ela leva o protagonista ao mesmo constrangimento dos episódios anteriores: ele se joga demais em cima de um cara que não está tão na dele assim, fica parecendo um gay fácil e superficial e faz papel de idiota. O problema é que, desta vez, o cara é o novo chefe dele (o inglês, e gato, Russell Tovey) – que, ainda por cima, tem namorado.
A repetição arrisca vulgarizar o personagem e fazer dele mais uma gag de sitcom do que alguém de carne e osso. A única parte realmente interessante dessa história foi a cena em que Patrick discute o jogo com seus colegas de trabalho (gay fact # 1: Patrick sempre joga com a personagem feminina do game). Foi a primeira vez que a série mostrou o protagonista em um ambiente majoritariamente heterossexual e a situação deixou bem claro como ele ainda se sente desconfortável com sua orientação sexual, cheio de desculpas e justificativas. A historinha, bem meia-boca, pelo menos levou o chefe inglês a dizer o que o protagonista precisa ouvir: se quiser ser levado a sério, Patrick tem que começar a fazer mais e falar menos. Torcemos para que o rapaz entenda a mensagem.
Quem também resolveu botar a mão na massa foi Dom. Depois do encontro com o ex psycho semana passada, ele decide finalmente realizar o sonho de abrir seu restaurante. O porém é que o moço não parece ter a mínima ideia de como fazer isso – a não ser o fato de que frango português parece ser o novo preto de São Francisco – o que tornou a história meio sonsa.
O déficit de energia gasto pelo personagem se preparando para o mundo adulto parece ser gay fact # 2 canalizado para a academia, na cena mais adorável do episódio. Quando Dom vê que as coisas não vão ser tão fáceis quanto imaginava, ele vai para a sauna. E, em vez de investir no homem da sua idade que pode ser uma mão na roda para o seu negócio, resolve pegar o rapazinho sensualizando na sua frente. O que é a síntese perfeita de tudo que há de errado com a vida de Dom.
E como o eixo narrativo do episódio era carreira, Agustín também teve um evento muito importante em sua vida profissional: ele foi demitido. Depois de uma conversa super atravessada no café da manhã, em que Frank tenta ser o namorado legal e incentivar a veia artística do parceiro, o latino gay fact # 3 tem um surto de mau humor e sinceridade e diz para a chefe que ele achou a obra dela uma grande bosta. Muito lisonjeada, ela manda o rapaz ir comprar cigarros no buteco da esquina.
É aí que as coisas começaram a ficar… perigosas. Numa coincidência um tanto forçada, Agustín comisera seu fracasso ao lado de um gatinho barbudo, que acaba se revelando um garoto de programa. Quando ele dá seu cartão para o latino, eu vi Frank achando o cartão no bolso do namorado e tudo mais dando errado (talvez isso ainda aconteça?).
Mas não. Desacreditado de seu talento e criatividade, Agustín cogita a possibilidade de se tornar um profissional do sexo (e pelo título do próximo episódio, essa não foi simplesmente uma ideia errada causada por comida tailandesa e maconha). Isso, somado ao fato de que ele vai chorar sua demissão com Patrick, e não com Frank, mostra que o latino quer um corpo quente ao seu lado na cama toda noite. Mas não está minimamente preparado (talvez nem disposto) a encarar um relacionamento de verdade.
Com três episódios estabelecendo essa lacuna entre a autopercepção e a identidade do trio de protagonistas, esperemos que, a partir do próximo, “Looking” comece a realmente desenvolver suas histórias.
Uma resposta para “Looking 1×03 – Looking at your browser history”
Também fiquei decepcionado no começo do episódio; parecia que o tom estava se perdendo e a construção de identidade dos personagens ‘trying to hard’. No entanto, como você bem colocou, o final justificou todo o episódio. Fiquei até desconfortável, porque estou me identificando com os três personagens perdidos e realmente espero não estar cometendo os mesmos erros que tenho cometido nos meus 20 anos quando estiver chegando aos meus 30. haha.