Teen’s Confessions (2013) | |
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Direção: Cris D’Amato, Daniel Filho Elenco: Sophia Abrahão, Bella Camero, Malu Rodrigues, Clara Tiezzi |
“Obviously, doctor, you’ve never been a 13 year-old girl.”
A primeira (e talvez única) coisa que você precisa saber sobre essa adaptação cinematográfica de “Confissões de Adolescente” é que, apesar de ter passado por 12 mãos, o roteiro é assinado por Matheus Souza, do elogiado “Apenas o Fim”. E por mais que ele venha a se provar um ótimo roteirista, ele é um homem. E ao adaptar uma obra sobre as relações e a cumplicidade de garotas adolescentes, ele se torna o “doctor” da frase acima, dita pela precoce Cecilia em “As Virgens Suicidas”.
Ter uma vagina não é pré-requisito para escrever boas personagens femininas – Allen e Almodóvar que o digam. No caso de “Confissões de Adolescente”, porém, o pecado original foi encomendar o roteiro a um homem. O que fez do livro-peça-e-série um fenômeno nos anos 90 foi a voz distinta, sincera e… confessional de Maria Mariana. Assim como Lena Dunham, ela podia não ser A voz de sua geração. Mas era uma voz. De uma geração. Que era impossível não reconhecer nas imperfeições, na inocência sendo perdida e no mundo pré-Facebook do universo retratado.
Ao falar de quatro meninas – as irmãs Tina (Abraão), Bianca (Camero), Alice (Rodrigues) e Karina (Tiezzi), filhas do pai viúvo Paulo (Gabus Mendes) – a série era a “Girls” de seu tempo, abordando temas ainda tabus na época, como a primeira vez, gravidez na adolescência e homossexualidade. O que o filme dirigido por Daniel Filho faz é amontoar todos esses tópicos como num check list de aula de educação sexual e amarrá-los desajeitadamente, sem o mínimo de ritmo ou originalidade – e, o pior de tudo, com um moralismo ultrapassado.
Porque ‘aula’ é a palavra-chave aqui. A grande novidade da obra de Maria Mariana foi abordar esses temas do ponto de vista das adolescentes, e não dos adultos – o aprendizado e o crescimento vinham da conversa e da experiência, e não da lição de moral. O que vem a ser exatamente o contrário do que o longa faz, em cenas moralistas como um discurso unilateral sobre o aborto; machistas, como uma mãe (Deborah Secco, em uma ponta) oferecendo para levar o filho ao puteiro – enquanto Paulo teme pela pureza das filhas; ou que tratam adolescentes como idiotas, a exemplo da storyline vergonhosa envolvendo “Crepúsculo”.
Essa última não é só ofensiva com seu público alvo: ela demonstra uma preguiça da produção em realizar um mínimo de pesquisa e tentar entender, para depois retratar, o universo adolescente com um mínimo de autenticidade e profundidade. Juntem-se a isso diálogos pobres – uma garota popular chega a expor sua motivação em um diálogo vergonhoso para justificar uma cena mal escrita em uma boate – e uma caretice 20 anos ultrapassada em que o filme menciona um relacionamento lésbico, mas ele não pode ser mostrado na tela. E “Confissões de Adolescente” transforma “Girls” em “Malhação”: um produto aborrecido sobre a classe alta carioca que acha que não morar em Ipanema é o fim do mundo.
Da próxima vez, botem Laís Bodanzky se quiserem algo decente.