The Hunger Games: Catching Fire (2013) | |
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Direção: Francis Lawrence Elenco: Jennifer Lawrence, Liam Hemsworth, Jack Quaid, Taylor St. Clair |
No início de “Jogos Vorazes: Em Chamas”, o malvadão Snow (Donald Sutherland) dá um conselho / faz uma ameaça a Katniss Everdeen (J-Law): concentre-se na historinha romântica, esqueça a discussão social. Não deixa de ser irônico que o que Francis Lawrence deve ter ouvido do estúdio ao substituir Gary Ross, diretor do primeiro filme, não parece ter sido muito diferente.
Todo o esforço empreendido no capítulo anterior de tentar fazer algo mais que uma “adaptação de best-seller infantojuvenil” é ignorado aqui em favor de uma realização sóbria e sem personalidade. Ross buscou fazer um filme, F-Law entrega um produto – que é exatamente o que executivos e fãs parecem querer. A câmera na mão e a fotografia de Tom Stern, que ressaltavam os temas da obra de Suzanne Collins – de que existia alguém por trás produzindo aquelas imagens que estavam sendo consumidas, chamando atenção tanto para a moldura quanto o conteúdo – são trocadas por um visual plastificado reminiscente de clipes do Aerosmith e J-Lo do fim dos anos 90.
Diretor por encomenda, mais afeito à técnica do que ao aspecto humano da realização, F-Law não sabe bem o que fazer com o primeiro ato da história, em que Katniss sofre com o stress pós-traumático causado pelos eventos do filme anterior. A solução é correr o máximo possível com essa parte “chata” para chegar logo ao que interessa, resultando em um início desconjuntado e sem ritmo.
E o que interessa é o anúncio de uma nova edição dos jogos do título – desta vez um “Best of” em que ex-vencedores lutam uns contra os outros em busca de… bem, sobrevivência. Para compensar pela falta de talento de F-Law na direção de atores, “Em Chamas” escala um time de primeira para viver os competidores, com os ótimos Jeffrey Wright e Jena Malone se juntando a Woody Harrelson, Philip Seymour Hoffman e Elizabeth Banks. É quando esse grupo se reúne na capital e, posteriormente, na disputa à la Survivor/No Limite/Amazing Race with lasers, que o longa realmente engrena e lembra um pouco o ritmo da primeira produção.
“Em Chamas” sofre, porém, do “mal do capítulo do meio”, não possuindo um terceiro ato – e, consequentemente, uma resolução. O filme termina com uma pequena reviravolta que, ao mesmo tempo em que deixa o gancho perfeito para os próximos dois longas, exatamente como os produtores desejam, também tira um pouco da agência de sua protagonista – que, ainda mais que no capítulo anterior, torna-se o grande centro da produção aqui.
F-Law confia cegamente no talento de J-Law e cortar para um close/reação da protagonista é a solução sempre que sua falta de criatividade não sabe como decupar uma cena. Contudo, por mais que a atriz tenha nascido para viver esse papel – da garota comum que parece não fazer parte do show mas, na hora do “vamos ver”, sabe exatamente o que fazer – ela mostra aqui como uma boa direção faz a diferença, com expressões repetidas e exageradas em alguns momentos.
Nada que comprometa “Em Chamas” como duas horas descomprometidas de diversão. Mas não deixa de ser decepcionante que uma saga que começou tentando trazer certa inventividade cinematográfica ao gênero se renda aqui ao simples processamento pasteurizado do material original.