Magic Mike


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

“Magic Mike” tem nome de produção da Disney, e essa não é a única característica em comum que o filme guarda com as produções do estúdio do Mickey. Mas calma, antes de levar a criançada ao cinema, saiba que se trata de uma história sobre strippers masculinos, recheada de sexo, nudez e drogas. E que tipo de relação isso pode ter com a Disney? O mundo de fantasia que mascara a dura realidade.

Inspirado nas memórias de Channing Tatum (que foi stripper antes de atingir o estrelato), o filme oferece um olhar para além da encenação, tentando investigar a vida daqueles homens que dançam com pouca roupa em um palco estrategicamente iluminado. Soderbergh encena o espetáculo sem glamourizá-lo, dividindo bem a fachada do fundo. Pois por detrás do palco, sem a música alta e as fantasias, estão pessoas perdidas, gente que só encontra seu lugar no mundo no momento em que se torna o centro das atenções, com as tangas repletas de notas de dinheiro.

O corpo como consumo é apenas uma das formas do diretor mostrar a atual situação econômica e social dos Estados Unidos. A fetichização de tudo, em que qualquer coisa se torna mercadoria, é a realidade daqueles homens que se vendem – ou melhor, se emprestam – para mulheres durante alguns minutos. A bonança econômica da América era uma ilusão, uma encenação que levou a uma das maiores crises financeiras da história. E esta noção de encenação perpassa todo o filme: o desejo, o sexo, a alegria, tudo é simulado no palco, mas nada é real. Soderbergh dá dicas que seu filme sobre strippers quer contar um algo a mais (na cena do empréstimo no banco, por exemplo), mas o sucesso do filme nos Estados Unidos se deveu mesmo foi ao elenco com pouca roupa.

Tio Sam...

A história acompanha o novato Adam (Pettyfer) que entra no mundo do strip-tease através de Mike (Tatum), que vai acabar se interessando pela irmã do amigo. O clássico conto de amadurecimento vai ser tecido a partir daí, e o diretor chega, durante a celebração do 4 de julho, a justapor país e personagens, como quem diz: não somos mais jovens irresponsáveis para vivermos nesse hedonismo encenado, é preciso amadurecer. O país precisa crescer e, nesse sentido, “Magic Mike” se revela muito mais moralista do que parecia a princípio.

O elenco cumpre bem seu papel de pedaços de carne para consumo, e a boa direção faz milagres com o roteiro bobinho e previsível, com direito a todos os clichês do gênero jovem-ingênuo-envolvido-com-o-submundo. Soderbergh abusa de metáforas pouco sutis para narrar sua anti-fábula (o mar calmo quando tudo está bem, a tempestade durante a festa que marca o ponto de virada da história) e de diversos filtros de cores para mostrar o universo fantasioso daquelas pessoas. No fim, temos um filme divertido, que funciona em sua mistura de sexo com conservadorismo, apesar de não conseguir ir muito além disso.

Assim como os filmes da Disney, “Magic Mike” traz a encenação espetacular que se reveste de várias cores para nos fazer esquecer dos problemas do mundo. Mas ao focar naquilo que não se vê no espetáculo, ele subverte a fábula e nos mostra que por trás das fantasias (sejam elas do Pluto, Pateta ou… bombeiros, policiais, e os mais variados fetiches) há uma realidade que muitos preferem esquecer. E neste sentido, um clube das mulheres não funciona de forma muito diferente do que um parque de diversões (ou o cinema): diversão efêmera, paga e sem consequências. O problema é quando se vive a fantasia como se fosse a realidade. Em algum momento, a encenação não funciona mais, e o castelo de cartas desaba. A recessão está aí para provar.


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