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Para tentar mostrar alguma coisa diferente no quinto filme de uma franquia baseada em um popular jogo de videogame, só mesmo passando as cenas de trás pra frente. E é exatamente isso que faz “Resident Evil 5: Retribuição” em seus créditos iniciais. E o resultado é sensacional. Pena que o início seja a melhor coisa de mais um legítimo representante de uma série que impressiona por não conseguir fazer a história sair do lugar.
Mas não se preocupe se não viu nenhum dos episódios anteriores, já que logo no início há uma rápida recapitulação para não se perder no meio de tanta gente e coisas acontecendo. Como se isso importasse. Começando do mesmo ponto em que terminou a produção anterior, “Resident Evil 5” ignora alguns personagens apresentados anteriormente apenas para ressuscitar alguns do primeiro filme. Alice (Jovovich) agora é prisioneira em uma base da Umbrella e precisa fugir para impedir o apocalipse (enfim, aquelas coisas que ela costuma fazer de uns dois em dois anos). Acontece que o local apresenta também simulações de invasão zumbi em falsas Tóquio, Moscou e Nova York. Some-se a isso referências ao passado, clones, monstros, explosões, trama sem sentido, chupação geral de “Aliens – o Resgate” e mais um final em aberto e você tem… talvez a melhor adaptação de videogame já feita (!).
É bom explicar: o filme não busca qualquer forma de envolvimento com os personagens, apresentando uma divisão da narrativa em fases. Alice precisa atravessar diferentes cenários até confrontar o chefe de fase. Os objetivos e trajeto são didaticamente mostrados e a redundância impera nos vários diários expositivos, especialmente as falas ditas por Ada Wong (Li) – aliás, o fato dela estar usando um vestido de gala não faz sentido algum na história, servindo-se mais uma vez de uma iconografia sensual e surreal dos games. A dinâmica entre personagens, trama e organização espacial é elaborada de forma intensa, recheada por explosões e tantos efeitos digitais que em algumas vezes há um estranhamento que quebra o efeito de real, parecendo que estamos vendo um… jogo de videogame.
“Speed Racer” e “Scott Pilgrim Contra o Mundo” já fizeram uso da iconografia gamer, mas nestes filmes havia desenvolvimento de personagens e uma trama com início, meio e fim bem trabalhados. “Resident Evil 5” não possui início e nem mesmo final, como se você começasse a jogar a fase salva em seu aparelho e parasse antes de zerar o jogo. Não há arcos dramáticos que evoluam, mas sim a ânsia de destruição para cumprir o objetivo. É barulhento, explosivo e, no Imax 3D, você “joga” junto, inserindo-se na ação incessante e, ao invés de controlar os personagens, encontrar-se ao lado deles, sendo também controlado pela narrativa. Paul W. S. Anderson é um dos poucos diretores que sabem filmar em 3D, ele faz isso muito bem, equilibrando a profundidade de campo que te coloca dentro da tela com armas, cabeças e gotas de sangue jogadas em cima da plateia.
É tudo muito rápido, exagerado e sem sentido. Cinema de sensações, para ser levado em um redemoinho e sair um pouco zonzo da sessão. Uma experiência artística-sensorial que retira qualquer possibilidade de reflexão em prol de uma passividade controlada pelo melhor da tecnologia digital. “Resident Evil 5” é até agora o maior híbrido da mistura entre cinema e videogame. A diferença é que quem joga não é você. Neste caso, o público é que é a marionete.