HQs da semana: 12 de setembro


Nossa avaliação

Após um pequeno hiato devido a forças maiores, nossa coluna retorna bem a tempo de acompanhar a penúltima edição do grande crossover do ano, que também retorna de uma pausa. “Avengers Versus X-Men #11” é, sem dúvida, o lançamento em quadrinhos estadunidenses de maior destaque: pelos rumos polêmicos da trama e pela morte de um personagem querido (na verdade, a enésima morte de um personagem que a maioria dos leitores havia esquecido estar vivo).

Ok, mas vamos por partes. Por que a edição é polêmica? Certamente não é porque o desentendimento entre as duas equipes decorre de alguma questão controversa, como a descriminalização do aborto, a legalização da união homoafetiva ou o uso do replay na arbitragem do futebol. Não, a polêmica aqui é daquele tipo que só parece importante aos nerds e fãs de quadrinhos, tipo “O Han atirou primeiro”. Leitores mais atentos e antigos vão ter muitos problemas com a minissérie Marvel, que usa a Fênix como antagonista principal, partindo de premissas que contrariam muito do que foi estabelecido sobre essa força cósmica nas antigas histórias dos X-Men.

Um dos grandes problemas do crossover é que ele é vendido como uma luta entre os Vingadores e os X-Men, mas na verdade nada mais é do que uma nova versão da clássica “Saga da Fênix”, só que desta vez com os Vingadores como heróis (ao invés dos X-Men) e o Ciclope como vilão (ao invés de Jean Grey). Mas, ao contrário da saga original, que é uma das estórias mais emocionalmente poderosas já protagonizadas pela equipe mutante, “AvX” só consegue deixar o leitor com o cenho franzido e uma forte sensação de que os roteiristas não fazem ideia de qual era a estória que queriam contar.

Tudo bem, o belo visual produzido por artistas como Oliver Coipel e as grandes explosões e frases de efeito podem até distrair muitos leitores. Mas façamos o exercício de comparar essa “Saga da Fênix 2” com a saga original e os furos do novo crossover começam a parecer ridículos. Vamos lá…

Não se fazem mais Fênix como antigamente...

A “Saga da Fênix” original começa com o sacrifício de Jean Grey, que se expõe a perigosos raios cósmicos para salvar seus colegas de equipe. Supostamente, esses raios teriam ampliado os poderes da mutante psíquica a níveis inimagináveis, e ela assumiu o nome de “Fênix”. Mais tarde foi criada a explicação de que a Fênix era, na verdade, uma força psíquica cósmica que havia sido comovida pelo sacrifício de Jean e a salvou da morte, deixando-a em um casulo curativo e assumindo a sua forma e lugar na equipe.

Os demais X-Men só descobririam isso mais tarde e, portanto, acreditavam que a Fênix era a verdadeira Jean. Seus enormes poderes fizeram dela um alvo para as manipulações do mutante maligno Mestre Mental, que a corrompeu através de ilusões, causando a sua transformação na “Fênix Negra”. Descontrolada e sedenta por mais poder, Jean partiu para uma galáxia distante onde absorveu toda a energia de uma estrela, causando a destruição de um planeta habitado por bilhões de seres inteligentes.

Os X-Men eventualmente conseguem usar um aparelho criado pelo Fera para neutralizar os poderes de Jean, e ela recupera a sanidade, apenas para ser capturada pelos membros do Império Shi’ar, alienígenas determinados a fazê-la pagar pelo seu crime de genocídio. Para defender sua amiga, os X-Men enfrentam a Guarda Imperial Shi’ar em um duelo, que termina com a Fênix Negra ressurgindo. Num breve momento de lucidez, Jean acaba se matando para impedir que a força cósmica causasse mais problemas.

Bom, e quanto a “Avengers Versus X-Men”? Aqui temos os Vingadores e X-Men detectando o retorno da Força Fênix à Terra. Os heróis liderados pelo Capitão América preocupam-se porque a Fênix vem destruindo todos os mundos que encontra pelo caminho. Isso por si só é estranho, já que a Fênix não era má, apenas a sua versão na forma humana de Jean Grey, corrompida pelo Mestre Mental.  Por exemplo: Rachel Grey, a “filha” de Jean vinda de um futuro alternativo (é uma longa história), foi hospedeira da Fênix por anos e nunca explodiu um planeta.

Voltando à saga: do “outro lado”, os mutantes acreditam que a Fênix virá salvar seu povo da extinção, e assumirá como hospedeira a menina Esperança, baseando-se no fato dela ser uma das únicas mutantes nascidas após o “Dia M”, quando a Feiticeira Escarlate tirou os poderes de quase toda a população mutante do planeta (e também porque a garota é ruiva e parece-se com Jean, o que é meio idiota).

Assim, o Capitão América decide que irá prender a garota para impedi-la de se reunir com a Fênix, como se isso fosse salvar o planeta (notem que outros planetas foram destruídos pela força Fênix sem que esta precisasse de um hospedeiro), e aí começa o conflito entre as equipes. A interferência dos Vingadores faz com que a força Fênix acabe, após alguns desvios, chegando ao Ciclope, líder dos X-Men. Todo mundo se une, então, para atacar o novo hospedeiro da Fênix.

Resumindo: quando Jean Grey era a Fênix, ela matou bilhões de seres inteligentes, mas todos se uniram, dispostos a morrer para salvá-la. Quando Ciclope era a Fênix, ele acabou com a fome e a guerra no planeta, e todo mundo se uniu para tentar matar o cara. Ou “AvX” não faz sentido, ou então os personagens Marvel precisam rever os seus padrões de heroísmo…


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