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Não é muito difícil entender por que “Intocáveis” foi um fenômeno na França, tornando-se a segunda maior bilheteria da história do cinema local. Em tempos de crise brava, com os ânimos acirrados – especialmente entre a classe rica/privilegiada e os pobres/imigrantes – o longa dos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano mostra ser possível dar as mãos e ser um mais forte ao invés de dois separados. “Intocáveis” é um antídoto doce e feel good para o diagnóstico amargo feito por “Caché” anos atrás.
Baseado em uma história real, o longa conta a história do milionário tetraplégico Philippe (Cluzet), que contrata o ex-presidiário senegalês Driss (Sy) como seu enfermeiro. Diametralmente opostos em todos os sentidos, os dois vão trazer a vida de volta um para o outro. Philippe dá a Driss uma segunda chance de reescrever sua história com dignidade. O enfermeiro é a primeira pessoa desde o acidente que trata o patrão como um ser humano normal, e não uma ameba a ser protegida.
“Intocáveis” caminha perigosamente na linha do clichê abominável do “homem branco rico em sua missão civilizatória das massas negras desprovidas”. Mas graças ao carisma e à irreverência de Omar Sy, o filme consegue mostrar que talvez Philippe – que vegetava em meio ao seu palácio de cultura e fortuna – ganhe mais com a chegada de Driss do que o oposto. No seu humor politicamente incorreto que ridiculariza a tetraplegia o tempo todo e nas piadas fáceis do contato de Driss com o universo cultural de Philippe, “Intocáveis” convida a olhar o diferente como algo que pode acrescentar, a ausência que pode completar uma existência, em vez do inimigo a ser destruído.
O filme passa longe de ser perfeito. É uma história que já foi contada milhões de vezes e não há nada de muito novo aqui. O roteiro e os diretores se concentram mais em gags fáceis do que em mostrar como alguns meses com Philippe tornam Driss capaz de identificar uma pintura de Goya em um escritório e fazer comentários embasados a seu respeito. O que carrega o longa e o torna tão agradável é mesmo o talento de Omar Sy e François Cluzet nos papéis principais. Os dois trazem aos seus personagens uma profundidade que completa o roteiro superficial e realizam com perfeição a tradicional química do “homem sério X palhaço”.
Adotado e distribuído pelos irmãos Weinstein nos EUA, o filme também se tornou um raro sucesso estrangeiro por lá. Populista e deixando uma sensação agradável com o espectador na saída do cinema, “Intocáveis” não deve demorar a ser refeito pelo Tio Sam – Damon Wayans Jr. (Happy Endings) e Steve Carell são uma escalação pronta para ser confirmada. Prova de que o filme está longe de ser capaz de resolver a instabilidade político-econômica na Europa. Mas é um ótimo abrigo para fingir que tudo está (ou pode ficar) bem.
Uma resposta para “Intocáveis”
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