A quarta quente do verão belo-horizontino tinha tudo pra não dar em nada. Normal: calor, suor, reclamar da roça. E eis que o Sr. Morrissey, indisposto a pegar mais um voo, resolveu trocar a brisa mais fresca (sem trocadilhos infames, leitores gaúchos) de Porto Alegre e agraciar os mineiros com sua melancolia britânica.
Após uma apresentação esforçada da diva-ainda-que-desconhecida Kristeen Young – recebida de maneira morna pela plateia – e uma série de clipes vintage, o inglês entra no palco com a empolgante “First of the Gang to Die”, do disco “You Are the Quarry” (2004). Com a casa cheia – para os Padrões Mineiros de Eventos Culturais – e o público na mão, Morrissey não teve muita dificuldade em empolgar. Mesmo que muitos não conhecessem a fundo sua carreira solo, vira e mexe os primeiros acordes de uma velha conhecida do The Smiths surgiam no palco e eram recebidos com gritinhos efusivos da plateia.
Esbanjando uma segurança de quem tem lá seus 30 anos de estrada, o ex-Smith soltou os obrigatórios “obrigados” em português, declarou uma felicidade esquisita que o fazia pensar em suicídio e provocou o público: “Vocês gostariam de escolher a próxima música? [pausa para o efeito] Bem, vocês não podem!”
Sacana, drama queen, diva. Seja qual for o rótulo, poucos foram os motivos para achar o show ruim. Mesmo quando a coisa ficou apelativa demais durante a música/manifesto “Meat is Murder”, em que o telão mostrava o abate dos animais preferidos na hora do almoço e muita gente tapou os olhos, na soma dos fatores, os belo-horizontinos pararam de reclamar do calor, da roça, e foram só sorrisos e êxtase por cerca de uma hora e meia.
É claro, sempre vai ter quem queria aquela específica do The Smiths e voltou pra casa sem. Cada um tem sua preferida não tocada (a minha foi Panic), mas as reclamações da falta de canções do antigo grupo de Morrissey são derrubadas quando a soma é feita. Das 19 tocadas, 6 (praticamente um terço!) eram sucessos da banda (ver setlist ao final do post) e foram as responsáveis pelos pontos altos do show. Delírio completo quando tocaram “There’s a Light That Never Goes Out” (já hit, mas eternizada pela cena do elevador no romance indie 500 Dias com Ela) e “How Soon Is Now”.
Deixada para o bis, “One Day Goodbye Will Be Farewell” encerra o espetáculo e manda todo mundo pra casa com um sorriso largo de fora a fora. Assim sendo, os porto-alegrenses que me perdoem, mas a mudança de planos do cantor foi só alegria aqui na terra das alterosas. Mas se acharem injusto e quiserem trocar a nossa sorte eventual pelo MECA Festival, estamos abertos a negociações (sem trocadilhos infames, leitores gaúchos).
6 respostas para “Show: Morrissey @ Chevrolet Hall – Belo Horizonte”
PoA não tem nada de fresca nessa época do ano…
Guerrinha,
Adorei seu texto, retratou bem o show.
Acho que nunca fiquei tão feliz de ter um poste tampando o telão quanto nesse show. Não vi nada que passou no Meat is Murder rs.
Pra mim, o final com “There is a light”,”Please, please…” e “How soon is now?” foi perfeito.
Bjs
você sabe o nome dos videos que tocaram antes do show? ou pelo menos dos artistas! Só me lembro dos Sparks! Agradecida!
Obrigado, Vi!
Lau, anotaê o que eu consegui descobrir:
The Foundations – Back On My Feet Again (http://www.youtube.com/watch?v=RZde8iXKr04)
Vince Taylor – Whole Lotta Twisting Goin’ On (http://www.youtube.com/watch?v=GneoizCBddY)
Nico – I’m Not Saying (http://www.youtube.com/watch?v=JgdZFnZ6M0k)
Fabian – The Tiger (http://www.youtube.com/watch?v=mQLTmy3YYC8)
Sparks – Never Turn Your Back On Mother Earth (http://www.youtube.com/watch?v=6Y4W9yVA00c)
New York Dolls – Looking for a Kiss (http://www.youtube.com/watch?v=UZBIZEnjl0I)
Joe Dolan – You’re Such a Good Looking Woman (http://www.youtube.com/watch?v=Y5tp1yXo79o)
Lipsinka Has a Glamour Fit (http://www.youtube.com/watch?v=BxjILGxNNKo)
Shocking Blue – Mighty Joe (http://www.youtube.com/watch?v=WhrKqoQCF9s)
Fonte:http://allyouneedismorrissey.com/topic/4342453/1/ e http://www.morrissey-solo.com/threads/115820-2011-Tour-Intro-montage
Achei um show massa. Não sou xiita, nunca fui fã, mas sempre gostei e respetei o trabalho do Morrissey. (com ou sem Smiths)
O show foi bem dosado, teve fã chorando, admiradores cantando (Rejane Ayres), gente que torcia o nariz, fazendo coro bem feliz e por aí vai.
Até encontrei o Guerrinha, trabalhando, como sempre.
Gostei do texto 🙂
Vou compartilhar, abração.