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Margaret Hilda Thatcher estudou em Oxford, foi eleita parlamentar no final dos machistas anos 50 e se tornou não apenas a primeira mulher líder de um dos principais partidos políticos do Reino Unido, como a primeira mulher eleita primeira-ministra na Inglaterra. Além disso, fez polêmicas privatizações, governou durante a Guerra das Malvinas, sobreviveu a uma tentativa de assassinato, participou do processo de dissolução da União Soviética e foi contra a criação da União Européia. Uma vida dessas por si só justifica uma cinebiografia, e por isso mesmo é curioso que a diretora Phyllida Lloyd opte por focar “A Dama de Ferro” em uma Thatcher senil, frágil dentro de casa e dependente de todos à sua volta.
O objetivo da diretora parece ser o de estabelecer um paralelo crítico entre o poder e de antes e a velhice decadente de hoje. Mas o que talvez pudesse ser uma ideia interessante acaba por enfraquecer o filme, já que concentra a maior parte de sua narrativa no dia a dia de uma mulher solitária e perdida dentro de casa.
A prova disso é que “A Dama de Ferro” cresce todas as vezes que volta no tempo para mostrar a Thatcher política, apesar de, em nenhum momento, tornar o filme além do razoável. Lloyd mostra o passado em flashbacks muitas vezes confusos que surgem baseados nas memórias da protagonista: tudo possui um tom de fantasia, que a diretora faz questão de ressaltar através de enquadramentos tortos e cores fortes, em contraposição aos tons escuros do apartamento da Thatcher senil.
A mise-en-scène preguiçosa põe os filhos da política correndo atrás de seu carro enquanto ela vai para o trabalho (em uma tentativa óbvia de mostrá-la como uma mulher que colocou a profissão à frente da família) e chega ao cúmulo no constrangedor momento em que a luz se apaga em uma reunião de gabinete e a então ministra Thatcher é a única com uma lanterna (a “luz” para “iluminar” a política inglesa…). Além disso, vários acontecimentos históricos aparecem na tela sem maiores explicações, pedindo do espectador um conhecimento prévio para entender tudo o que se passa.
A Guerra das Malvinas é mostrada como uma resposta da primeira-ministra aos homens que nunca a levaram a sério (como se os argentinos tivessem invadido a ilha por se tratar de uma mulher no governo inglês que não teria coragem de retaliar) e vários outros fatos ganham um viés feminista que seria bem vindo se não aparecesse de forma tão forçada e abrupta. A história acaba ficando confusa, e se não se pretendia explicar os principais momentos da vida de Thatcher, qual o motivo de se fazer a cinebiografia?
O ponto positivo, claro, é Meryl Streep. A atriz para variar faz uma composição perfeita e é a responsável por impedir um desastre total em “A Dama de Ferro”. É graças à sua interpretação que conseguimos nos identificar e sentir alguma simpatia por aquela figura que, se dependesse da direção e do roteiro, não faria sentido algum. A complexa Margaret Thatcher se tornou, nas mãos da diretora de “Mamma Mia!”, uma criatura bidimensional e cansativa, que só prende sua atenção porque se percebe o talento de Streep por trás da pesada maquiagem.
“A Dama de Ferro” não faz jus à sua biografada. E nem a Streep.