No recap do segundo episódio, mencionei que já havia pistas de que o personagem de Edward James Olmos não passava de uma alucinação. E também que Travis seria o antagonista principal e, por fim, ele acabaria na mesa de Dexter como todos os outros antes dele. Se os escritores não conseguiram surpreender tanto ou fugir muito da estrutura formulaica do seriado no que se refere aos elementos principais, por outro lado, os elementos coadjuvantes da narrativa parecem ter sido escritos por M. Night Shayamalan. Quem esperaria que o irmão Sam fosse durar tão pouco na narrativa? Ou que ele conseguiria ter o efeito de trazer a tona o falecido irmão de Dex como cúmplice/conselheiro imaginário? Ou mesmo que a morte de um serial killer venerado pudesse trazer questionamentos sobre o futuro do nosso psicopata ao ponto em que traria caos ao seu sistema de troféus? No episódio de hoje, o momento WTF! é quando Deb tem um sonho que termina em amassos com seu próprio irmão. Ok, irmão adotivo. Ok, todo mundo teve a mesma reação quando os atores Michael C. Hall e Jennifer Carpenter se casaram e, os mais espirituosos lembraram que eles, na verdade, não possuem relação de sangue. Portanto, nada de incestos por aqui. Mesmo assim, o sonho, a desordem das lâminas de Dex (bem como sua reflexão sobre sua própria velhice) e o aparecimento de Brian são desvios na trama que não podem passar batido. Todas essas transformações cobram um impacto nos personagens principais.
Apresentado o caso, o episódio começa com a ação da polícia no barco Ricochet Rabbit após a denúncia anônima feita por Dexter. Eles encontram o gás venenoso que o Assassino do Apocalipse usará no seu próximo “painel”, o corpo de Holly Benson e também o de Steve Dorsey. Essa última descoberta deixa o grupo preocupado com Batista, que foi à casa dos Dorsey e ainda não apareceu. Estar amarrado em uma cama e com o revólver de um psicopata apontado para a cabeça não ajudam quando é preciso chegar cedo no trabalho. Na cozinha, Travis dá as instruções a Beth para envenenar o departamento de polícia usando o crachá de Batista para entrar sem passar pelo detector de metais. Quinn, provavelmente de ressaca, é acionado por Deb para procurar Angel e consegue salvar o parceiro no último minuto, apesar de Marshall conseguir escapar.
No departamento de polícia, Beth Dorsey espera a volta da tenente Morgan. Dex chega um pouco antes de sua irmã/chefe e fuça a web o suficiente para chegar na foto do casal Dorsey. Após um alerta de Laguerta (rima não intencional), Deb recebe Beth, que é reconhecida por Dex e empurrada por este a uma sala, não sem antes puxar o pino e soltar o gás mortal. A recruta do Apocalipse sofre uma morte sangrenta dentro do ambiente fechado, mas o nosso perito em sangue consegue escapar ileso, exceto por uma leve intoxicação pelo pouco gás respirado. Tido como herói por ter salvo todo o departamento, em especial Deb, Dexter manda seu filho a um lugar seguro e decide fazer seu próprio painel contando que a mídia e a polícia o interpretem como mais um trabalho do Assassino do Apocalipse.
Marshall, que fica sabendo do fracasso de sua recruta pela TV na sala de estar de um casal de vítimas, dá a ação de Wormwood por encerrada e começa planejar o último painel: o Lago de Fogo. Em um restaurante longe dali, Deb tem uma conversa franca com Matthews, que pede que a ela mantenha sigilo sobre o caso, pois a verdade não ajudaria a ninguém e, hesitante, a tenente concorda em fazer vista grossa. No dia seguinte, Debra precisa atender às demandas da Segurança Nacional (o episódio com gás foi considerado um ataque terrorista) e também cumprir sua cota de horas no divã da terapeuta, que aponta a possibilidade de “sentimentos mais complexos” (ótimo eufemismo!) entre ela e seu irmão. A suspeita bizarra da psicóloga não é o único elemento coadjuvante que deve ter impacto no último episódio, pois a história com Louis evolui e o estagiário marca as linhas da mão que é evidência do Assassino do Caminhão de Gelo e a embrulha para enviar ao agora herói Dexter.
Embora um pouco favelado, o “painel” preparado por Dex dá certo (além de ser uma boa forma de dar cabo à mão de Gellar e justificar o título), principalmente na parte de atrair Travis ao seu barco Slice of Life. No departamento, a história de Matthews vem à tona – apesar do silêncio da sua protegida – resultando em uma aposentadoria forçada do chefe. Por trás da queda de Matthews está Laguerta, que agora volta a ter controle de todo o departamento e, principalmente, de Deb. A situação fica tensa para a nova tenente, mas não é nada comparado com o sonho bizarro do beijo com o irmão adotivo. No pier, Dexter espreita Travis, mas os efeitos colaterais do gás (in)convenientemente atacam, deixando-o à mercê do psicopata crente. Preso em um barco rodeado por chamas (o painel Lago de Fogo também poderia ser chamado de Incêndio em Alto Mar), Dex consegue mergulhar e escapar logo antes da grande explosão, mas vê Travis ir embora com o Slice of Life, alheio ao fracasso de seu último painel.
Trocando em miúdos, na trama preparada para o último episódio temos:
Deb – confusa com os sentimentos pelo irmão, a nova tenente precisar resolver isso em sua cabeça e o caso do Apocalipse, ou Laguerta terá a desculpa perfeita para cortar sua cabeça e seu posto como tenente já era. Além da resolução dos crimes, ela vai precisar de um pouco do sangue frio do irmão para enfrentar a cubana de igual para igual. Mas isso ficaria para uma próxima temporada.
Dex – essa foi a temporada em que o personagem mais ficou no banco de trás. Ele foi (ainda que por breves momentos) convencido por Travis, influenciado pelo Irmão Sam, pelo irmão Brian e até pela Fada dos Dentes. No episódio anterior, ele tomou a decisão de contrariar seus impulsos assassinos e chamar a polícia. Seria um desdobramento interessante se esse fim de temporada não tivéssemos a velha situação do antagonista na mesa de Dexter. Sem falar que ajudaria muito a sua irmã se Travis encontrasse o Criador pela ação da Miami Metro. De qualquer maneira, fico na expectativa de que ao menos o episódio da Fada tenha algum impacto no personagem, já que a aposentadoria de um serial killer não é nada bonita.
Louis – ele é geek, desenvolveu um jogo em que você pode escolher ser um serial killer, aprendeu o que pôde sobre cenas de crimes em seu estágio, guardou até esse episódio uma evidência do Assassino do Caminhão de Gelo e Dexter vem usando seu sistema de buscas até o momento, o que o torna facilmente rastreável. São ingredientes perfeitos para que tenhamos já nessa temporada o anúncio do próximo psicopata a entrar no caminho de Dex.
Quinn – já deu o que tinha que dar, né? Xingou a chefe, abandonou o parceiro, encheu a lata e montou em cima do que tivesse pernas. Se isso tudo não der justa causa, nada mais dá. Passou da hora.