Nas últimas três ou quatro temporadas, desde que descobriu que seria pai, Dexter foi transitando cada vez mais próximo da normalidade. Essa temporada ofereceu a ele a oportunidade perfeita para abraçar a luz, mas no episódio anterior vimos que um psicopata não abandona velhos hábitos como se fossem uma marca de xampu. Toda a bondade acumulada foi exorcizada no momento em que Nick bateu as botas. E, pra compensar, o passageiro sombrio tomou uma força que nunca teve e uma forma que todos conhecem bem: Brian Moser.
Na onda de desenterrar velhos esqueletos, aproveitaram para trazer de volta a família de Trinity. Quando Dexter fica sabendo que a viúva e a filha do psicopata que matou Rita foram mortas usando o mesmo método de Trinity, o diabinho/irmãozinho no ouvido de Dex nem precisa de muito esforço para colocar Jonah, o único sobrevivente, como principal suspeito e concorrente em sua mesa de “cirurgia”.
Deixando para trás o filho com Jamie e sua irmã com uma investigação sem avanços, Dexter arranja uma camiseta preta (sacou?) e bota o pé na estrada com seu irmão como copiloto. Na primeira parada, já vemos como a influência de Brian é diferente da de Harry. Dex transa com uma balconista de loja de conveniência para pegar uma arma, embora o diabinho insista para que ele a mate. O fato de roubar um revólver que não terá finalidade alguma, exceto extravasar em placas de estrada e colocar a vida de Dexter em risco, mostra que a porção completamente sombria não é apenas má, mas também muito descuidada.
Enquanto isso, a investigação de Debra a leva até Holly, a vítima que foi libertada no episódio anterior. Ela revela que foi forçada pelos raptores a beber sangue, o que torna o trabalho de Dexter importante no momento, embora essa ideia de examinar um sangue que alguém bebeu na véspera soe meio improvável. Em Nebraska, Dex se hospeda em um motel de beira de estrada e descobre que Norm, o dono, tem uma plantação de maconha. É uma investigação influenciada por seu irmão e que, novamente, não ajuda em nada o propósito da viagem e ainda serve para colocar o protagonista em situações de risco.
Ao chegar à casa de Jonah, Dex percebe que suas ferramentas de “trabalho” foram roubadas (e logo de cara sabe que foi Norm), mas consegue improvisar um kit para descobrir se o filho de Trinity estava ou não mentindo. A análise da cena do crime é interrompida pelo próprio Jonah, que deixa escapar seu envolvimento nas mortes, mas consegue fugir. Para alcançá-lo, Dexter precisa reaver suas armas e o confronto leva à ótima cena da morte do proprietário do motel, desrespeitando todas as regras do código de Harry.
De volta a Flórida, embora a influência positiva de sua irmã seja cada vez maior, Travis demonstra dificuldades em se desvencilhar de Gellar. Deb e Quinn resolvem conversar, botar a situação em termos mais amigáveis e chegam ao ponto final que os dois precisavam. De volta a Nebraska, o confronto inevitável entre Dexter e Jonah revela que as facas não foram necessárias no fim das contas. Também inesperado é o resultado, já que descobrimos que na verdade Becca cometeu suicídio, o que fez com que Jonah se revoltasse com a mãe e a matasse acidentalmente. Dex percebe o arrependimento do filho de Trinity e o deixa livre. Isso resulta, infelizmente (a química entre Dex e Brian é sensacional, embora tenha durado tão pouco), no fim dessa dupla quase perfeita (#3-graus-de separação-com-Tom-Hanks) e o assento livre no copiloto volta a ser ocupado por Harry.
Isso já derruba a minha teoria de que o diabinho ficaria ali no ouvido de Dexter até o fim da temporada, mas Brian traz à tona alguns aspectos da personalidade do protagonista que não conhecíamos: o que o motiva é realmente o prazer em ver uma vida (ou como foi colocado, a luz no olhar) se esvair? Essa troca de influências pode ser um passo mais próximo à loucura? Pode ser que, assim como Brian, Sam também apareça para guiar a “mão esquerda de Deus”? A presença de Harry pode não ser exatamente o anjo no outro ouvido, já que nunca foi capaz de trazê-lo para a luz de que o irmão Sam falava, mas é a coisa mais próxima, segura e real na cabeça de um psicopata.