[xrr rating=4.5/5]
“Planeta dos Macacos – A Origem” é várias coisas ao mesmo tempo.
Em primeiro lugar, é uma estranha adição à franquia inaugurada pelo filme quase homônimo de 1968. Saem as roupas de macaco de borracha e entram os símios gerados com o auxílio da computação gráfica e a captura de movimentos. Sai o herói machão seminu interpretado por Charlton Heston e entra James Franco na pele de um cientista sensível e idealista. Sai o charme bizarro de uma história no estilo dos pulps de ficção científica de meados do século passado, e entra uma trama relativamente mais realista e contundente.
Em segundo lugar, é uma bela e bem construída história, que progride com naturalidade e em nenhum momento parece tão artificial quanto os chimpanzés computadorizados – que, diga-se de passagem, não incomodam tanto depois que você se acostuma com eles. Se a trama tem algum defeito, é o fato de parecer em vários momentos previsível. Mas isso se deve menos a uma suposta falta de imaginação dos realizadores do que à natureza quase inevitável da progressão da tragédia dos primatas geneticamente modificados. E o filme ainda consegue te surpreender em algumas cenas, como na reação do chimpanzé Caesar à fala de um humano, citando a linha de diálogo mais famosa do filme original: “Tire suas patas de mim, seu maldito macaco sujo!” (César, aliás, é mesmo o nome do macaco que dá origem ao domínio dos símios em “Conquista do Planeta dos Macacos”, de 1972).
Em terceiro lugar, é uma ótima chance de Andy Serkis faturar mais alguns prêmios pelo seu trabalho de captura de movimentos, responsável por dar a Caesar mais verosimilhança que a modelagem gráfica computadorizada. Em todas as cenas em que os símios aparecem, fica um gostinho desagradável de artificialidade como aquele que você tem quando toma um refrigerante dietético. Mas a atuação de Serkis compensa essa limitação, e faz logo cedo com que consigamos nos importar com o herói. E também, como não adorar um bebê chimpanzé? O problema é que nunca mais você verá George, o Curioso, com os mesmos olhos…
Em quarto e último lugar, é um ótimo trabalho do diretor Rupert Wyatt, que consegue se tornar “invisível” durante a maior parte do filme, evitando se destacar por preciosismos desnecessários e deixando a trama evoluir de uma maneira orgânica e natural. Podemos notar um certo maniqueísmo no tratamento dos humanos da história, já que os únicos homo sapiens “bonzinhos” fazem parte do núcleo do protagonista interpretado por Franco que, sendo o cara que desencadeia o apocalipse símio, não pode ser considerado lá um grande herói. Ele é um cientista que, em busca pela cura do Alzheimer, testa seu milagroso remédio em uma chimpanzé que dá a luz a Caesar, um símio extremamente inteligente.
Se no filme de 1968 “os macacos somos nozes”, mostrando em sua civilização a mesma estupidez e arrogância típica das piores sociedades humanas, aqui os macacos são a alegoria de outra coisa. Os símios liderados por Caesar são os oprimidos, os animais maltratados, os negros e indígenas escravizados e dizimados, as mulheres vítimas de abusos, e até aquele menininho inteligente que sofria bullying no pré-primário. E a inevitável revolução é a hora catártica de todos eles.
2 respostas para “Planeta dos Macacos – A Origem”
Vi e adorei o protagonista Cesar. Carrega o filme nas costas.
And the winner is… Andy Serkis! Será que os manés da Academia vão ter coragem?
Só um pitaco: ainda não se sabe bem qual é a grande diferença entre a cognição huma e a dos outros primatas, mas certamente ela não se baseia no número de neurônios!
[…] simpático macaquinho no primeiro filme, passando por um grande comandante no segundo até uma figura já lendária neste “A Guerra”, o […]