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É no mínimo irônico ver uma banda chamada Utopia ter que cair na realidade. Mas é isso que acontece com o grupo de Dinho, Sérgio, Samuel, Bento e o roadie (depois tecladista) Júlio que, numa mistura de Ira! com Legião Urbana, fazia um típico e pessimista rock anos 80. Sem sucesso, trocaram o drama pelo humor. Nascia aí o grupo Mamonas Assassinas, um fenômeno musical sem precedentes que terminaria tão rápido como começou: um trágico acidente de avião que chocou o país em 1996.
Esta é a história contada em “Mamonas pra Sempre!” e é uma pena que o diretor Cláudio Kahns desperdice todo este potencial dramático em um documentário que só pode ser definido como amador. O filme se sustenta apenas pela força da trajetória do grupo e carisma de seus integrantes. Toda a parte narrativa, ou coloquemos assim, toda a parte de cinema, parece trabalho saído de alguma oficina de segundo período de Comunicação Social: é imaturo, equivocado, mal decupado e cheio de entrevistas confusas.
Para começar, que ideia foi essa de colocar animações (desenhos estilo “South Park” dos integrantes) atravessando a tela a todo o momento que um novo depoimento aparece? Além de não terem NENHUMA graça, elas tiram a atenção do espectador, que acaba se distraindo e não lendo o nome do entrevistado (e não vou nem comentar a constrangedora cena com o peru durante um depoimento dos pais de Dinho). Apesar de ser um grupo bem humorado, a trajetória dos Mamonas é uma tragédia, uma vez que toda aquela alegria, juventude e potencial irá terminar em uma morte repentina que todos conhecemos. O principal erro do filme é não abraçar esta sensação do inevitável que daria tanta carga dramática à produção, tentando ser, em vão, tão engraçado quanto o grupo era.
O resultado é desrespeitoso e confuso. As entrevistas são um belo exemplo do amadorismo do filme. As fontes fazem referências a respostas anteriores que eles com certeza deram ao diretor, mas que na edição ficaram de fora. Isso cria uma confusão do tipo “do que ele está falando??”. Além disso, os entrevistadores quebram uma regra básica neste tipo de produção, que é estabelecer um único foco de olhar para o entrevistado. O que acontece é que apesar de não aparecerem, sabemos que existem duas pessoas fazendo perguntas, uma de cada lado da câmera, pois os depoimentos estão cheios de pessoas virando o pescoço de um lado para o outro, na tentativa de falar olhando para a dupla ao mesmo tempo, o que causa incômodo em quem está assistindo. Um momento ainda pior é quando o pai do Dinho responde a uma pergunta ao mesmo tempo em que sua esposa comenta algo com o outro entrevistador.
O filme tem o mérito de trazer interessantes imagens de arquivo que misturam programas de televisão com gravações pessoais dos integrantes dos Mamonas (interessante notar como eles são a primeira geração “midiática”, que insiste em filmar tudo o que fazem, em um intenso trabalho de registro pessoal, algo que pouco tempo depois se tornaria comum com máquinas fotográficas digitais e celulares com câmera), especialmente o show que eles fazem em um ginásio de Guarulhos, terra natal do grupo. Mas são ignoradas as famosas últimas gravações do grupo, como Dinho brincando com relação a acidentes de avião e o sonho de Júlio. Isso faz com que o trágico clímax não tenha nenhum impacto, aparecendo sem emocionar. Terminando com um letreiro constrangedor, e repetindo as mesmas músicas até cansar, “Mamonas pra Sempre!” não apresenta nenhuma grande revelação, estando muito longe da homenagem e respeito que o grupo merecia.