Na semana passada eu reclamei de não haver nada relacionado aos grandes crossovers das duas principais editoras dos Estados Unidos chegando às comic shops americanas. Essa semana eu mordo a língua: não só o mês de junho começa com uma penca de tie-ins, como edições das sagas da DC e Marvel são lançadas no mesmo dia!
E para não deixar nenhuma sombra de marasmo, a semana acabou sendo ainda mais movimentada no mundo dos quadrinhos, com o anúncio da renovação da linha de super-heróis da DC, que em agosto irá lançar 52 edições #1 (embora mantendo boa parte das equipes criativas intactas), aproveitando a ocasião para rejuvenescer seus principais personagens (leia-se: consertar problemas de continuidade e estrear novos uniformes, mais moderninhos). O burburinho a respeito do revamp da DC, que também anunciou a inauguração de um inédito sistema de distribuição digital dos seus quadrinhos (com lançamento simultâneo nas bancas e na web), acabou chamando mais atenção da crítica especializada do que os próprios títulos lançados na semana. Mas vamos ao que interessa!
No lado Marvel, “Fear Itself #3” mostrou que a nova saga tem mais em comum com Secret Invasion do que gostaríamos: numa edição de 20 páginas de história (saudade das doze edições de 48 páginas de Crise nas Infinitas Terras, aquilo é que era um épico), a trama não avança quase nada, mesmo com a morte de um personagem “importante”, que acontece bem a tempo de servir para restaurar o status quo de um certo herói que ganha a sua adaptação para o cinema em um mês próximo.
Já “Fear Itself – The Deep #1” mostra uma nova versão dos Defensores enfrentando um dos “dignos”, o vilão sub-aquático Attuma. Só que, enquanto Attuma está energizado pelo poder de um deus, Namor está ferido e humilhado, o Dr. Estranho já não é mais aquele “feiticeiro supremo” de tempos idos, e ao invés do Hulk temos a Mulher-Hulk “light”. Cara, aposto que eles nunca ficaram tão felizes em ver o Surfista Prateado! A edição não é nada de especial, mas tem uma caracterização “certinha” e ação suficiente para estimular a leitura do resto da minissérie.
No campo da DC, “Flashpoint #2” mostra que seu crossover tem muito mais história que o da concorrência (apesar de inferior a “Fear Itself” no quesito desenhos), mas ainda fica a sensação de estarmos relendo a “Era do Apocalipse”. Também fica bem difícil se importar com personagens que são apenas versões alternativas dos nossos heróis favoritos – e, convenhamos, ninguém liga pro Barry Allen, único remanescente da linha do tempo original. E, é claro, como toda revista escrita por Geoff Johns, tem seus momentos esdrúxulos (daqueles que dão vontade de dar cabeçadas na parede), começando pela capa.
Entre os “tie-ins” de Flashpoint, “Flashpoint – Secret Seven #1” é o que mais se destaca, com a boa arte de George Perez e os roteiros de Peter Milligan. Mas o foco no personagem semi-esquecido Shade, o Homem-Mutante, faz com que a edição perca a estranheza de “realidade alternativa” da saga, já que poucos conhecem a versão original do camarada. “Flashpoint – Batman: Knight of Vengeance #1” tem um daqueles títulos longos que são tão comuns em época de crossovers, mas também mostra altíssima qualidade. Brian Azzarello (de “100 Balas”) escreve a história do Batman alternativo que mais parece o morcego de “O Cavaleiro das Trevas” do que o Bruce Wayne da cronologia atual: o que é adequado, já que este morcego não é Bruce.
A capa de “World of Flashpoint #1” dá uma impressão errada da revista: a arte do interior é bem melhor do que a da capa (colocar um artista melhor nas capas é sacanear o leitor, mas colocar um artista pior é burrice). A trama da minissérie dá mais detalhes das “diferenças” dessa realidade alternativa que a própria saga principal, e acerta ao focar na feiticeira adolescente Traci Thirteen: embora a versão da garota neste universo não seja tão diferente da original, é essa consistência que torna mais chocante a diferença do seu mundo, uma Europa devastada pelos ataques do Aquaman. Entretanto, a história toma um rumo que só serve para aumentar as similaridades entre o mundo da saga e o de a “Era do Apocalipse”.